Imperialismo vs. multilateralismo

Cristina Cardoso

BRICS defendem cooperação e diálogo

O mês de Junho foi pródigo em encontros, cimeiras e afins de organizações internacionais. Umas mais formais, outras menos. Umas mais mediatizadas e outras menos. Todas elas determinantes naquilo que se está a desenhar no processo de rearrumação de forças no plano mundial.

Após a cimeira do G7, a Cimeira da NATO realizada em Madrid veio reafirmar mais do mesmo. Evidenciando uma situação em que a maior potência capitalista vive da subserviência dos seus aliados, numa relação minada por contradições, esmifra os povos e vê na confrontação e na guerra a forma para procurar contrariar o seu declínio e manter a sua hegemonia.

A NATO, braço armado do imperialismo, clamou seu grito de guerra, arrastando países que tradicionalmente caracterizavam o seu posicionamento pela neutralidade, assumindo o seu ímpeto expansionista, ensejado e concretizado desde o fim da URSS, e, rasgando princípios das relações internacionais alcançados após a Segunda Guerra Mundial e plasmados na Carta das Nações Unidas, procura ditar uma «ordem internacional baseada em regras», «à moda deles», ou seja, em função da imposição dos seus interesses.

O imperialismo explicitou de forma clara aqueles que diz serem os seus inimigos principais, aprovando uma estratégia de confrontação não só contra a Rússia e a China, mas também de ingerência, desestabilização e agressão no Médio Oriente e em África, incluindo no Sahel, para, segundo o Conceito Estratégico, dar resposta ao que hipocritamente dizem ser a «interferência coercitiva de concorrentes estratégicos».

As pressões e os interesses sobre África são imensos e as razões não se prendem com uma pretensa preocupação com a segurança. Lembremos que grande parte dos países do continente tem relações diversificadas, incluindo com a Rússia e a China, relações que vêm de trás, desde a luta dos movimentos de libertação contra o jugo colonialista. Não será de estranhar que a maioria dos países africanos se negue a seguir os EUA, mas também a UE, na sua política de sanções contra a Rússia e de hostilização face à China.

Em contraste às cimeiras do G7 e da NATO, ditadas pelos interesses do imperialismo, realizou-se a Cimeira dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) por videoconferência, a 23 e 24 de Junho. Para além de apoiarem a resolução do conflito na Ucrânia por via negocial, apelarem à promoção do desarmamento e da não proliferação de armamento, reiteraram o seu compromisso com o multilateralismo na defesa do direito internacional e da Carta das Nações Unidas e realçaram o papel da ONU num sistema internacional que promova «cooperação com base no espírito de respeito mútuo, justiça e igualdade», defendendo o papel dos países em desenvolvimento e menos desenvolvidos, especialmente de África, nos processos e estruturas de tomada de decisão no plano global.

É certo que os países que compõem os BRICS são Estados de natureza muito diversa, com elementos contraditórios, resultantes de diferentes realidades económicas e políticas. No entanto não deixa de ser salutar que, no quadro da actual situação internacional, a sua relação se baseie na cooperação assente no respeito pela independência, soberania e interesses dos que a integram.




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