Medo ou medos?
O Secretário-geral do PS, António Costa, numa reunião do seu partido, na semana passada em Aveiro, considerou que «não se pode deixar de fazer [o referendo], porque se tem medo de ouvir os portugueses».
Respondia assim ao PSD que, fazendo jus às suas velhas concepções reaccionárias e retrógradas, dias antes, reafirmara a sua conhecida rejeição à regionalização, declarando-se desfavorável à realização de um referendo.
Ora, é verdade que o PSD nunca morreu de amores pela regionalização. Aliás, a política de direita (pelas mãos do PS, PSD e CDS, a que se vieram juntar o Chega e a Iniciativa Liberal), é responsável pela sua não concretização ao longo dos 46 anos que já decorreram sobre a aprovação da Constituição da República Portuguesa, que a consagra como estrutura fundamental da nossa ordem político-jurídica.
Mas, se é verdade que o PSD tem medo da regionalização porque esta não encaixa na sua concepção reaccionária de um Estado centralista, é caso para perguntar: e de que tem medo o PS para não avançar (já) com o processo de regionalização, dando assim cumprimento ao que a Constituição determina e cuja concretização, como é óbvio, não carece de referendo?...
Ou será que o referendo é apenas o subterfúgio para, a pretexto de ouvir os portugueses, remeter a regionalização, mais uma vez, para as «calendas», ou seja, como diz o povo, para «o dia de São Nunca»?
Não há dúvida, com referendo ou sem referendo, o medo do PSD é o mesmo medo do PS. É o medo de que, pela luta, mais tarde ou mais cedo seja o povo a determinar que a regionalização avance, tal como foi pela sua luta e pela determinante intervenção do PCP que a mesma foi elevada à categoria de preceito constitucional. Tudo o resto não passa de jogo de palavras.