Cada vez mais tempo na escola

Margarida Botelho

«Ho­rário alar­gado no pré-es­colar e re­fei­ções gra­tuitas para todos», ti­tu­lava a pri­meira pá­gina do JN no do­mingo. Lendo a peça, a me­dida consta do Plano de Acção da Ga­rantia para a In­fância, a que o jornal teve acesso, e aponta para que em 2030 o ho­rário lec­tivo se pro­longue para lá das 15 horas.

A pri­meira con­si­de­ração que se faz é a do prazo. Faltam cinco anos para nas­cerem os me­ninos que em 2030 serão be­ne­fi­ci­ados por esta me­dida. Está muito bem pla­near a longo prazo e por ob­jec­tivos. Está é muito mal não ter pro­postas e so­lu­ções para os pro­blemas das cri­anças de hoje.

O en­sino pré-es­colar é uma fase de­ci­siva na vida das cri­anças, de­ter­mi­nante no seu cres­ci­mento har­mo­nioso e no su­cesso edu­ca­tivo. O PCP bate-se há anos pela sua uni­ver­sa­li­zação. O País está in­fe­liz­mente longe de ga­rantir a todas as cri­anças dos três aos seis anos o acesso ao pré-es­colar pú­blico. So­bre­tudo nas áreas me­tro­po­li­tanas, as vagas no pré-es­colar são atri­buídas por idade, dei­xando ainda muitas cri­anças de três e quatro anos de fora, em­pur­rando as fa­mí­lias para so­lu­ções pri­vadas com men­sa­li­dades de cen­tenas de euros.

Falar hoje de pré-es­colar sem falar da ne­ces­si­dade de ga­rantir vagas na es­cola pú­blica a partir dos três anos, nem da falta de edu­ca­dores e de au­xi­li­ares, em­pur­rando as so­lu­ções para daqui a oito anos, não é sério nem cor­res­ponde ao que as cri­anças e as fa­mí­lias pre­cisam.

A se­gunda con­si­de­ração é que a no­tícia pode dar a ideia de que as cri­anças do pré-es­colar saem hoje às 15h00. A essa hora acaba o pe­ríodo lec­tivo, com o edu­cador de in­fância. Como poucas são as fa­mí­lias que têm con­di­ções para ir buscar os miúdos às 15h00, a mai­oria fica na es­cola, em pro­lon­ga­mentos de ho­rário, pagos à parte e de qua­li­dade va­riável de es­cola para es­cola e de con­celho para con­celho.

Falar de «ho­rá­rios alar­gados» quando a maior parte das cri­anças, da creche ao final do 1.º ciclo, dos 0 aos 10 anos, passa em média mais de 10 horas por dia na es­cola, é o con­trário do que é pre­ciso fazer. Re­duzir o ho­rário de tra­balho dos pais, com­bater a des­re­gu­lação do tra­balho por turnos, à noite e ao fim-de-se­mana, au­mentar sa­lá­rios – isso sim, é de­fender os di­reitos das cri­anças e olhar para o fu­turo do País.




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