Paz na Etiópia e guerra no Congo

Carlos Lopes Pereira

Em África, in­ten­si­ficam-se os es­forços po­lí­ticos para cons­truir uma paz du­ra­doura na Etiópia e para travar a es­ca­lada do con­flito ar­mado no leste da Re­pú­blica De­mo­crá­tica do Congo (RDC).

Em re­lação à Etiópia, o go­verno fe­deral de Adis Abeba e a Frente de Li­ber­tação Po­pular do Tigré (TPLF, na sigla em in­glês) as­si­naram no dia 2, em Pre­tória, um acordo vi­sando pôr fim à guerra que se ar­rasta desde 2020.

O acordo para a paz, al­can­çado após ne­go­ci­a­ções me­di­adas pela África do Sul e União Afri­cana, con­sagra o res­peito pela Cons­ti­tuição do país e prevê o en­ca­mi­nha­mento de ajuda hu­ma­ni­tária para a re­gião afec­tada, o re­gresso e aco­lhi­mento dos des­lo­cados, a res­tau­ração dos ser­viços bá­sicos no Es­tado fe­de­rado nor­tenho de Tigré. Do que se sabe, o pacto fixa as bases de uma paz sus­ten­tável, res­pei­tando a so­be­rania, uni­dade e in­te­gri­dade ter­ri­to­rial da Etiópia, um dos mai­ores e mais po­pu­losos países do con­ti­nente.

O pri­meiro-mi­nistro etíope, Abiy Ahmed, saudou o acordo e res­saltou que não é pos­sível atingir os ob­jec­tivos de de­sen­vol­vi­mento eco­nó­mico e so­cial da nação en­quanto per­durar «o cír­culo vi­cioso da guerra». Ven­cedor do Nobel da Paz em 2019, por ter res­ta­be­le­cido re­la­ções amis­tosas entre a Etiópia e a Eri­treia, afirmou que «só os be­li­cistas estão des­con­tentes com o pro­grama pa­ci­fi­cador ini­ciado após o diá­logo em Pre­tória» e que os amantes da paz, em mai­oria, «querem ver ra­pi­da­mente os frutos das ne­go­ci­a­ções».

Di­fe­rente é a si­tu­ação no leste da RDC, onde se agravam os con­frontos ar­mados entre tropas con­go­lesas e forças do M23, grupo re­belde que Kinshasa acusa ser ar­mado pelo vi­zinho Ru­anda. A meio desta se­mana, os re­beldes avan­çavam no ter­reno e apro­xi­mavam-se de Goma, a ca­pital da pro­víncia do Kivu Norte, na re­gião mais afec­tada pela guerra, que já pro­vocou cen­tenas de mortos e mi­lhares de des­lo­cados.

Tem ha­vido di­versas ini­ci­a­tivas di­plo­má­ticas para pro­curar evitar o alas­tra­mento do con­flito e, para quarta-feira, 23, es­tava pre­vista uma ci­meira, em Lu­anda, entre os pre­si­dentes João Lou­renço (An­gola), Félix Tshi­se­kedi (RDC), Paul Ka­game (Ru­anda) e Éva­riste Ndayishi­miye (Bu­rundi). O chefe do Es­tado an­go­lano par­ti­cipa nos es­forços de paz na sua qua­li­dade de pre­si­dente da Con­fe­rência In­ter­na­ci­onal para a Re­gião dos Grandes Lagos (CIRGL).

Dias antes, a Co­mu­ni­dade dos Es­tados da África do Leste en­viou para a zona, para apoiar as forças ar­madas da RDC, um con­tin­gente mi­litar re­gi­onal de 2500 efec­tivos, com uni­dades do Bu­rundi, Quénia e Uganda. O me­di­ador desta or­ga­ni­zação sub-re­gi­onal, o an­tigo pre­si­dente que­niano Uhuro Kenyatta, en­tre­tanto, mul­ti­plica con­tactos no sen­tido de parar a guerra e pro­curar re­solver o con­flito por meios po­lí­ticos e di­plo­má­ticos.

O leste da RDC é uma re­gião rica em re­cursos na­tu­rais, pos­suindo grandes re­servas de coltão e co­balto, mi­ne­rais in­dis­pen­sá­veis para as in­dús­trias tec­no­ló­gicas e ae­ro­náu­tica. Desde há anos que de­zenas de grupos ar­mados, so­bre­tudo es­tran­geiros, con­trolam a ex­plo­ração desses mi­né­rios nas pro­vín­cias de Kivu Norte e Kivu Sul, per­pe­tu­ando a vi­o­lência.

As causas deste velho con­flito no Congo não são novas. Ra­dicam-se – em África e no mundo – no saque das ri­quezas lo­cais pelo im­pe­ri­a­lismo, que re­corre a todos os meios, in­cluindo a guerra, para me­lhor ex­plorar e pi­lhar os povos.




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