Paz na Etiópia e guerra no Congo
Em África, intensificam-se os esforços políticos para construir uma paz duradoura na Etiópia e para travar a escalada do conflito armado no leste da República Democrática do Congo (RDC).
Em relação à Etiópia, o governo federal de Adis Abeba e a Frente de Libertação Popular do Tigré (TPLF, na sigla em inglês) assinaram no dia 2, em Pretória, um acordo visando pôr fim à guerra que se arrasta desde 2020.
O acordo para a paz, alcançado após negociações mediadas pela África do Sul e União Africana, consagra o respeito pela Constituição do país e prevê o encaminhamento de ajuda humanitária para a região afectada, o regresso e acolhimento dos deslocados, a restauração dos serviços básicos no Estado federado nortenho de Tigré. Do que se sabe, o pacto fixa as bases de uma paz sustentável, respeitando a soberania, unidade e integridade territorial da Etiópia, um dos maiores e mais populosos países do continente.
O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, saudou o acordo e ressaltou que não é possível atingir os objectivos de desenvolvimento económico e social da nação enquanto perdurar «o círculo vicioso da guerra». Vencedor do Nobel da Paz em 2019, por ter restabelecido relações amistosas entre a Etiópia e a Eritreia, afirmou que «só os belicistas estão descontentes com o programa pacificador iniciado após o diálogo em Pretória» e que os amantes da paz, em maioria, «querem ver rapidamente os frutos das negociações».
Diferente é a situação no leste da RDC, onde se agravam os confrontos armados entre tropas congolesas e forças do M23, grupo rebelde que Kinshasa acusa ser armado pelo vizinho Ruanda. A meio desta semana, os rebeldes avançavam no terreno e aproximavam-se de Goma, a capital da província do Kivu Norte, na região mais afectada pela guerra, que já provocou centenas de mortos e milhares de deslocados.
Tem havido diversas iniciativas diplomáticas para procurar evitar o alastramento do conflito e, para quarta-feira, 23, estava prevista uma cimeira, em Luanda, entre os presidentes João Lourenço (Angola), Félix Tshisekedi (RDC), Paul Kagame (Ruanda) e Évariste Ndayishimiye (Burundi). O chefe do Estado angolano participa nos esforços de paz na sua qualidade de presidente da Conferência Internacional para a Região dos Grandes Lagos (CIRGL).
Dias antes, a Comunidade dos Estados da África do Leste enviou para a zona, para apoiar as forças armadas da RDC, um contingente militar regional de 2500 efectivos, com unidades do Burundi, Quénia e Uganda. O mediador desta organização sub-regional, o antigo presidente queniano Uhuro Kenyatta, entretanto, multiplica contactos no sentido de parar a guerra e procurar resolver o conflito por meios políticos e diplomáticos.
O leste da RDC é uma região rica em recursos naturais, possuindo grandes reservas de coltão e cobalto, minerais indispensáveis para as indústrias tecnológicas e aeronáutica. Desde há anos que dezenas de grupos armados, sobretudo estrangeiros, controlam a exploração desses minérios nas províncias de Kivu Norte e Kivu Sul, perpetuando a violência.
As causas deste velho conflito no Congo não são novas. Radicam-se – em África e no mundo – no saque das riquezas locais pelo imperialismo, que recorre a todos os meios, incluindo a guerra, para melhor explorar e pilhar os povos.