A razão, o logro e a alternativa

João Oliveira (Membro da Comissão Política)

Engrossam as fileiras dos lutadores, que em Abril e Maio encheram as ruas

Tínhamos razão quando afirmávamos, em Outubro de 2021, que o que era preciso era soluções e não eleições. E temos razão hoje quando dizemos que a prioridade continua a ser a resposta aos problemas dos trabalhadores e do povo e que é nesse objectivo que é preciso concentrar forças, energias e atenções para construir a alternativa de que o País continua a precisar.

Para lá do «barulho das luzes» com que se constroem as agendas mediáticas, a realidade aí está a demonstrar, com força redobrada, a razão dessas soluções e o logro que constitui a ideia de que PSD, CDS, IL e Chega são oposição à política do PS que nega a sua concretização.

Hoje, como então, é preciso denunciar o logro e apontar a saída para a situação em que está o País afirmando a alternativa, uma alternativa patriótica e de esquerda que existe, que tem nos valores de Abril e no cumprimento dos direitos e do projecto que a Constituição consagra referências essenciais para a sua concretização e que não pode deixar de ser colocada como exigência no confronto com a acção dos grupos económicos e daqueles que com eles pactuam e convergem.

 

A ambição acima
da resposta

Aquela afirmação, em Outubro de 2021, resumia e punha em destaque a prioridade que devia ser dada ao aumento geral dos salários e das pensões, à revogação das normas gravosas da legislação laboral, ao reforço do SNS e à melhoria da Escola Pública, ao direito à habitação e às creches gratuitas, a mais justiça fiscal, ao controlo público de empresas e sectores estratégicos, ao apoio às MPME e a tantas outras medidas e opções já então identificadas como urgentes.

O PS deu prioridade à sua ambição pela maioria absoluta, forçou a ideia de uma crise política e o Presidente da República ofereceu a condição que faltava utilizando a «bomba atómica» dos seus poderes constitucionais: dissolveu a Assembleia da República e convocou eleições antecipadas.

É verdade que, desde que o PS obteve a maioria absoluta, o Governo se envolveu (ou viu envolvido) nas mais diversas polémicas, algumas delas reveladoras de opções e práticas governativas inaceitáveis. Mas, mais importante que isso, o Governo e a maioria absoluta do PS acumularam razões de descontentamento porque deixaram os trabalhadores, o povo e o País sem respostas aos seus problemas, porque pactuaram com os grupos económicos e com as suas práticas de exploração e extorsão económica, em muitas situações frustrando abertamente expectativas que tinham criado.

A secundarização dessas razões de descontentamento e o empolamento daquelas polémicas procuram secundarizar ou apagar na crítica ao Governo os aspectos essenciais da sua política e absolver aqueles que têm acompanhado o Governo e o PS nas suas opções contra os interesses de quem trabalha ou trabalhou, apresentado-os mesmo como oposição ao Governo.

 

Companhias e caminhos

Governo e PS não têm feito este caminho sozinhos, têm de facto andado acompanhados ao longo do tempo. Desde logo pelo Presidente da República que não só ajudou a fabricar a maioria absoluta do PS como tem caucionado as opções políticas do Governo. Mas também acompanhados por PSD, CDS, IL e CH na recusa das soluções apresentadas pelo PCP que permitiriam a resposta por que os trabalhadores e o povo anseiam aos seus problemas. Tudo contribuindo para uma convergência em opções fundamentais da política de direita, ao serviço do capital e da dependência do país, que transforma num logro essa ideia de que PSD, CDS, IL e Chega são oposição ao PS. E um logro ainda maior quando à convergência na política de direita se acrescentam posicionamentos reaccionários e antidemocráticos.

Não há, no entanto, «barulho das luzes» que possa apagar a responsabilidade dos protagonistas da política de direita nem esconder que há, de facto, um outro caminho.

Esse outro caminho é aquele de que o PCP não desiste, é a afirmação da alternativa política, a mobilização para a luta pelos objectivos concretos em que essa alternativa se desdobra, a projecção da política que lhe corresponde, o engrossar das fileiras dos lutadores por essa política mobilizando toda a gente explorada, desrespeitada, inquieta, injustiçada, atingida pelas desigualdades, da gente que em Abril e Maio encheu ruas, avenidas e praças a exigir que Abril se cumpra, com Maio, na rua.




Mais artigos de: Opinião

Triste comédia

Não fossem trágicas as consequências e olhar-se-ia para o processo do novo aeroporto com aquela disposição de quem se recria na presença de uma qualquer comédia. Assim seria se, atendendo estritamente ao que de ridículo e jocoso está presente naquela expressão teatral, fossemos levados a perder de vista as motivações...

Ena pá, tanta massa!

Ferraz da Costa, o antigo «patrão dos patrões», que da frequência do colégio alemão à licenciatura em Finanças, da presidência da CIP aos 30 anos à direcção do Fórum para a Competitividade aos 70, nunca teve de «se fazer à vida», voltou à ribalta para proclamar que os «que não trabalham é porque não querem». Segundo o...

O interesse

Há ideias que, de tantas vezes repetidas, passam a ser assumidas como verdades. É o caso da que garante que os jovens não se interessam pela política e estão cada vez mais alheados da democracia. A avaliação do fenómeno suscita a sucessão de estudos académicos, debates televisivos, conferências universitárias, grupos de...

A crise bancária

O colapso do 14.º banco dos EUA volta a chamar a atenção para o estado precário da economia norte-americana, apesar do coro de comentadores da comunicação dominante asseverar que exala saúde por todos os poros. A queda do First Republic Bank converteu-se na segunda maior falência de sempre de um banco dos EUA e na...