Alta de juros na habitação é inferno para as famílias e maná para a banca

A exi­gência de que seja a banca a pagar a su­bida abrupta dos juros, de­cor­rente das de­ci­sões que têm vindo a ser to­madas nesse sen­tido pelo Banco Cen­tral Eu­ropeu, foi rei­te­rada pelo PCP, que cen­sura o Go­verno por não con­tra­riar este quadro que está a ter re­flexo nas pres­ta­ções da casa e a gerar tre­mendas di­fi­cul­dades às fa­mí­lias.

«As pes­soas vivem cada vez pior, vai cada vez mais uma parte maior do sa­lário para a pres­tação da casa, e muitas estão em risco de deixar as suas casas, sem que o Go­verno faça nada para al­terar esta si­tu­ação», de­plorou o de­pu­tado co­mu­nista Du­arte Alves em re­cente de­cla­ração po­lí­tica em nome da sua ban­cada.

Lem­brando que Por­tugal é um dos países em que a po­pu­lação mais sofre com a po­lí­tica de juros do BCE, anotou que é igual­mente «um dos países em que a banca mais ganha com estes au­mentos dos juros».

É o pró­prio Banco de Por­tugal que re­co­nhece que «o au­mento da margem fi­nan­ceira que de­corre da di­fe­rença entre os juros pagos (aos de­po­si­tantes) e os juros co­brados (aos de­ve­dores) au­mentou em Por­tugal 9,5 vezes mais do que na média da zona euro».

Du­arte Alves con­si­derou por isso que a «banca está a ga­nhar dos dois lados, de forma des­pro­por­ci­onal», não sendo por con­se­guinte de ad­mirar que os cinco mai­ores bancos te­nham apre­sen­tado lu­cros de 2.500 mi­lhões de euros em 2022, e con­ti­nuem a au­mentá-los em 2023. Tudo isto «nas barbas do Banco de Por­tugal, que se com­porta como mero ob­ser­va­tório de mer­cado», mas também «nas barbas do Go­verno, que nada faz, e quando faz é para be­ne­fi­ciar ainda mais a banca», cen­surou o de­pu­tado co­mu­nista.

Sub­missão à banca

Abor­dada na de­cla­ração po­lí­tica foi também a de­cisão go­ver­na­mental de pôr fim à «Série E» dos Cer­ti­fi­cados de Aforro , me­dida que na óp­tica do PCP se in­sere «num longo ca­minho de sub­missão aos grandes in­te­resses, e muito em par­ti­cular à banca, que junta PS, PSD, CDS, IL e Chega».

Ca­minho esse, re­alçou Du­arte Alves, que «tem epi­só­dios co­nhe­cidos de todos, e onde a di­reita não se dis­tingue do PS nas op­ções de fa­vo­re­ci­mento da banca», como foi o caso da re­so­lução frau­du­lenta do Go­verno PSD/​CDS no Novo Banco», se­guida da «pri­va­ti­zação rui­nosa do Go­verno PS».

Com muitos por­tu­gueses a trans­fe­rirem as suas pou­panças dos de­pó­sitos ban­cá­rios (onde au­fe­riam juros pró­ximos do zero) para os Cer­ti­fi­cados de Aforro, ficou assim clara a razão que levou o Go­verno a an­te­cipar o fim da re­fe­rida «Série E», re­su­mida nestes termos pelo de­pu­tado do PCP: «A banca mandou e o Go­verno obe­deceu».

 

Co­ni­vên­cias

No dia 22, em de­bate par­la­mentar pre­pa­ra­tório do Con­selho Eu­ropeu desta se­mana, a pre­si­dente do Grupo Par­la­mentar do PCP não perdeu a opor­tu­ni­dade para também con­frontar o pri­meiro-mi­nistro com o apro­vei­ta­mento que os bancos estão a fazer da su­bida das taxas de juro, contra os in­te­resses dos tra­ba­lha­dores e das suas fa­mí­lias, das micro, pe­quenas e mé­dias em­presas e de es­tados como Por­tugal. «Vai manter a co­ni­vência, por acção (como no caso dos Cer­ti­fi­cados de Aforro) e por omissão, com o sig­ni­fi­ca­tivo au­mento da margem fi­nan­ceira e dos lu­cros da banca?», ques­ti­onou Paula Santos, in­sur­gindo-se quanto ao facto de a banca con­ti­nuar a «ar­rastar os pés» re­la­ti­va­mente à su­bida da re­mu­ne­ração dos de­pó­sitos, «quando foi tão lesta a subir os juros sobre os em­prés­timos».





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