PCP comemora Álvaro Siza quando o mestre cumpre 90 anos

«A obra de Álvaro Siza – ar­qui­tec­tura e pro­gresso so­cial». Este foi o lema da sessão pro­mo­vida, an­te­ontem, pela Di­recção da Or­ga­ni­zação Re­gi­onal do Porto (DORP) do PCP, dois dias após o mestre ter cum­prido 90 anos de vida.

Álvaro Siza Vi­eira co­loca-se sempre ao lado dos ex­plo­rados e ex­cluídos


A iniciativa decorreu ao final da tarde de terça-feira, 27, no auditório da Associação de Moradores da Bouça. Cerca de uma centena de pessoas participou na sessão, dirigida por Catarina Salgado, do sector dos arquitectos da ORP, e com intervenções de Abílio Fernandes, presidente da CM de Évora (1997-2001) aquando da encomenda e projecção do conjunto habitacional da Malagueira, dos arquitectos António Madureira, interveniente no projecto da Bouça, Diogo Silva, da direcção do Sector Intelectual do Porto do PCP, José Miguel Rodrigues, professor e director do Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo da Faculdade de Arquitectura do Porto (CEAU-FAUP), e de Margarida Botelho, do Secretariado do Comité Central do PCP.

A di­ri­gente co­mu­nista, de resto, notou que, «para o PCP, as­si­nalar o 90.º ani­ver­sário de Siza Vi­eira é um acto na­tural, ainda por cima nas ins­ta­la­ções da Co­missão de Mo­ra­dores de um local sim­bó­lico», no qual «o me­lhor da ar­qui­tec­tura foi posto ao ser­viço de uma po­pu­lação ex­plo­rada e ex­cluída, com uma opção de classe no uso do solo».

Antes de Mar­ga­rida Bo­telho, já An­tónio Ma­du­reira, que co­la­borou com o mestre no Ser­viço de Apoio Am­bu­la­tório Local (SAAL), pro­grama es­tatal de cons­trução ha­bi­ta­ci­onal sur­gido com a Re­vo­lução Por­tu­guesa, abordou as vi­cis­si­tudes e as vá­rias fases do pro­jecto que trans­formou a ilha com um único sa­ni­tário num bairro com casas que são re­fe­rência no plano in­ter­na­ci­onal.

Um pro­cesso «que en­frentou as mai­ores re­sis­tên­cias dos po­deres ins­ti­tuídos, in­cluindo da Câ­mara Mu­ni­cipal do Porto, e que só foi pos­sível graças à in­ter­venção de­ter­mi­nada dos mo­ra­dores», sa­li­entou.

Abílio Fer­nandes, um dos pro­ta­go­nistas do pro­cesso de cons­trução do Bairro da Ma­la­gueira, em Évora, já que ali era au­tarca, su­bli­nhou que, na pro­jecção e cons­trução de 1200 fogos des­ti­nados a po­pu­la­ções ca­ren­ci­adas, Álvaro Siza Vi­eira adoptou, desde o início, uma ati­tude de aus­cul­tação per­ma­nente dos can­di­datos às ha­bi­ta­ções, res­pei­tando e in­cluindo as suas ne­ces­si­dades e as­pi­ra­ções, num pro­cesso de­mo­crá­tico, par­ti­ci­pado e ino­vador que durou 20 anos.

Prenhe de fu­turo

Diogo Silva, por seu lado, abordou o con­texto e a ac­tu­a­li­dade da obra de Siza, re­fe­rindo as al­te­ra­ções vi­vidas na ar­qui­tec­tura nas úl­timas dé­cadas e de­mons­trando, numa in­ter­venção do­cu­men­tada por ima­gens e ci­ta­ções, que a obra de Siza apela a outra so­ci­e­dade. Já José Mi­guel Ro­dri­gues, pro­fessor da FAUL e in­ves­ti­gador da obra do ho­me­na­geado, in­ter­veio sobre a di­mensão in­ter­na­ci­onal da­quela, no­me­a­da­mente quanto à cen­tra­li­dade dada à ha­bi­tação eco­nó­mica, numa apre­sen­tação apoiada em inú­meros exem­plos de in­ter­ven­ções de Álvaro Siza Vi­eira em todo o mundo.

Álvaro Siza Vi­eira é, assim, «uma das fi­guras mais mar­cantes e pres­ti­gi­adas da cul­tura na­ci­onal em todo o mundo, re­co­nhe­cida pela di­mensão uni­versal da sua obra, do seu ta­lento e do seu pro­fundo hu­ma­nismo», sa­li­entou Mar­ga­rida Bo­telho, que lem­brou, ainda, que «foi com Abril que Siza Vi­eira viu re­co­nhe­cido, nos planos na­ci­onal e in­ter­na­ci­onal, todo o seu ta­lento e pro­fis­si­o­na­lismo, a sua ca­pa­ci­dade de con­ceber e pla­near ter­ri­tó­rios».

Hoje, Álvaro Siza Vi­eira é «o ar­qui­tecto con­tem­po­râneo mais pre­miado, de que se des­taca o Prémio Pritkzer de 1992, por muitos con­si­de­rado o Nobel da Ar­qui­tec­tura», acres­centou a di­ri­gente co­mu­nista, que sus­tentou que as­si­nalar o seu 90.º ani­ver­sário «é um acto que de­corre da im­por­tância da sua obra e das muitas vezes em que nos en­con­trámos nos ca­mi­nhos da luta pelo pro­gresso so­cial».

Do lado certo da his­tória

Mar­ga­rida Bo­telho leu, de­pois, parte do «”Apelo à Cons­ci­ência dos Povos”, subs­crito, em 2006, por per­so­na­li­dades como Souto Moura, José Sa­ra­mago, José Ba­rata Moura, Ma­nuel Gusmão, Ro­gério Ri­beiro, Ur­bano Ta­vares Ro­dri­gues e, claro, por Álvaro Siza Vi­eira, para pro­mover a re­flexão «sobre o papel dos in­te­lec­tuais e dos ar­tistas na luta pelo pro­gresso so­cial». De­sig­na­da­mente quando alertam para um «cres­cendo de ir­ra­ci­o­na­li­dade brutal, cuja prin­cipal origem não re­side, como afirma a ide­o­logia do­mi­nante, na vi­o­lência inata de grupos hu­manos atra­sados e fa­na­ti­zados, mas sim no sis­tema glo­ba­li­zado de ex­plo­ração, do­mínio e opressão que es­palha à es­cala pla­ne­tária vi­o­lência, agressão, atraso e mi­séria», e ad­vertem que «foi num am­bi­ente se­me­lhante que, há menos de um sé­culo, ger­mi­naram as ide­o­lo­gias e os re­gimes fas­cistas e nazi-fas­cistas, pro­ta­go­nistas das mai­ores tra­gé­dias que a hu­ma­ni­dade», citou.

«De 2006 para cá não têm fal­tado, in­fe­liz­mente, mo­tivos para que os in­te­lec­tuais pro­gres­sistas apelem “à cons­ci­ência dos povos”. Nem têm fal­tado lutas dos povos por todo o mundo. Siza Vi­eira não lhes tem fal­tado com a sua obra e a sua in­ter­venção», pros­se­guiu Mar­ga­rida Bo­telho, para quem «esse com­pro­misso com a “marcha da eman­ci­pação hu­mana”, com a li­ber­dade e a de­mo­cracia, ex­pressa-se no seu tra­balho, nas suas de­cla­ra­ções e to­madas de po­sição, mas também no apoio pú­blico às can­di­da­turas da CDU ou apoi­adas pelo PCP».

O tra­balho «ins­pi­rado e cri­ador» de Álvaro Siza Vi­eira «honra a cul­tura por­tu­guesa, pres­tigia o nosso país, cons­titui um va­lioso con­tri­buto para um mundo mais justo e mais belo a que as­pi­ramos», disse Je­ró­nimo de Sousa, em 2009, aquando da atri­buição da Me­dalha de Ouro Real pela Ordem dos Ar­qui­tectos bri­tâ­nica. «Creio que hoje todos fa­zemos nossas estas pa­la­vras, fa­zendo votos que a sua energia cri­a­dora nos acom­panhe pelo má­ximo de tempo pos­sível e que o seu exemplo fru­ti­fique nas novas ge­ra­ções», con­cluiu Mar­ga­rida Bo­telho.


Se­cre­tário-geral do PCP saúda

Em men­sagem en­viada a Álvaro Siza Vi­eira por oca­sião do seu 90.º ani­ver­sário, Paulo Rai­mundo en­de­reçou-lhe «aquele abraço e uma sin­gela mas sen­tida pa­lavra». O Se­cre­tário-geral do PCP re­cordou, ainda, as muitas «ba­ta­lhas que tra­vámos» e «obras que cri­aste. Lutas e obras que já constam da his­tória e das es­tó­rias do nosso povo», mas «o mais de­sa­fi­ante» é «o Edi­fício que está por er­guer».

«Em cada traço, em cada ti­jolo, em cada pinga de suor, está o ar­tista, o pro­fessor, o ar­qui­tecto, o so­nhador, o in­ter­ve­ni­ente, o pro­gres­sista, o de­mo­crata. Obri­gado por tudo isso e pelo que está para vir», ex­pressou Paulo Rai­mundo.



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