Na sombra de um pré-presidente preso

António Santos

Uma tem­pes­tade avo­luma-se no ho­ri­zonte do re­gime es­tado-uni­dense. O pri­meiro de­bate entre os pré-can­di­datos re­pu­bli­canos, na se­mana pas­sada, foi um ba­ró­metro eficaz da de­sa­gre­gação po­lí­tica e so­cial que di­la­cera o im­pério.

Entre os oito can­di­datos e os res­pec­tivos grandes grupos eco­nó­micos não houve con­senso sobre a me­lhor pa­na­ceia para o de­clínio da he­ge­monia dos EUA no mundo: De­Santis, go­ver­nador da Flo­rida, apelou à guerra contra o Mé­xico; Pence apelou à guerra contra a Rússia; Ra­maswamy apelou à guerra contra a China. Já o ele­fante na sala, o om­ni­pre­sente Trump, não sa­be­remos tão cedo porque nem se­quer par­ti­cipou, para com o seu si­lêncio fran­zido de uma qual­quer es­quadra da po­lícia da Geórgia, dizer aos EUA que está muito acima da po­lí­tica, dos ar­gu­mentos, dos de­bates, das pri­má­rias, do circo me­diá­tico — e até das leis.

A con­fusa de­sar­ti­cu­lação entre os pré-can­di­datos re­pu­bli­canos con­tri­buiu para ci­mentar a po­sição de Trump como a cunha que pode fazer ra­char o velho bi­par­ti­da­rismo. Chris Ch­ristie quis partir a es­pinha aos sin­di­catos, Ra­maswamy apelou à cons­trução de «uma mai­oria de classe tra­ba­lha­dora mul­tiét­nica» e Nikki Haley saudou os pro­fes­sores em greve. Já Trump, que não disse nada a não ser que a per­se­guição de que é alvo é uma «caça às bruxas», con­tinua a li­derar a cor­rida re­pu­bli­cana em todas as son­da­gens, com uma van­tagem de mais de 40 por cento sobre todos os ri­vais.

A im­plosão da le­gi­ti­mi­dade das grandes ins­ti­tui­ções do ca­pi­ta­lismo es­tado-uni­dense, neste caso do Par­tido Re­pu­bli­cano, que se vão tor­nando mais vo­lá­teis e bi­zarras à me­dida que a crise his­tó­rica do im­pe­ri­a­lismo se apro­funda, re­flecte a cres­cente in­ca­pa­ci­dade de dar res­posta aos pro­blemas da so­ci­e­dade. Sobre edu­cação, por exemplo, pré-can­di­datos houve a pro­meter mais cen­tra­lismo fe­deral e mais au­to­nomia dos Es­tados; mais fi­nan­ci­a­mento pú­blico e mais pri­va­ti­za­ções; menos carga dou­tri­nária nos pro­gramas e mais va­lores con­ser­va­dores. Para lá da gri­taria, ao não propor ab­so­lu­ta­mente nada, Trump pode ser mais ape­la­tivo do que oito can­di­datos que pro­põem ab­so­lu­ta­mente tudo.

A so­lução bo­na­par­tista (po­de­ríamos chamar-lhe proto-fas­cista) que Trump re­pre­senta pode não ofe­recer a se­gu­rança e a es­ta­bi­li­dade que a mai­oria do grande ca­pital quer ver na cor­rida à Casa Branca mas, nos dias que correm, só restam tri­bu­nais para evitar o que as urnas já não ga­rante, pro­varam-no os oito can­di­datos. A falta de pre­ce­dente his­tó­rico no ar — dis­cute-se se um preso pode ser eleito pre­si­dente ou se um con­de­nado está im­pe­dido de se can­di­datar — é au­gúrio de uma frac­tura maior.




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