Para que queriam a maioria absoluta?...

Manuel Rodrigues

Há dois anos, quando o Governo minoritário do PS ultimava a discussão da sua proposta de Orçamento do Estado para 2022, o PCP denunciou as opções profundamente negativas que o Governo assumia e contrapôs soluções, procurando responder a questões fundamentais: o aumento dos salários, a revogação das normas gravosas da legislação laboral, nomeadamente a caducidade da contratação colectiva, o reforço do SNS e dos serviços públicos e a resposta aos problemas da habitação.

Entendia o PCP que, num momento em que havia meios e condições, era necessário que as opções do Governo vertidas no OE (e mesmo para além dele), respondessem aos problemas que mais afectavam os trabalhadores, o povo e o País.

Entretanto o PS – lembram-se? - recusou as soluções do PCP, vitimizou-se e, em conluio com o Presidente da República, provocou a dissolução da AR e avançou para eleições, pedindo aos portugueses uma maioria «estável e duradoura», que é o mesmo que dizer, uma maioria absoluta.

Ora, passados dois anos de governo de maioria absoluta do PS (que contou sempre com o apoio do PSD, CDS, Chega e IL nas questões essenciais da política de direita), aí está a vida a mostrar que o PCP tinha razão ao rejeitar aquele OE. Na verdade, o PS recusou as soluções e provocou as eleições, ambicionando a maioria absoluta que lhe permitisse ficar com melhores condições para os seus compromissos com o grande capital.

Dizia então o PS, vitimizando-se, que aquele OE (o de 2022) era tão de esquerda que não percebia a posição do PCP. Habilidades e mistificações a tentar dissimular as contradições e evidências da realidade.

De facto, em todos os OE apresentados pelo Governo de maioria absoluta do PS – este é o terceiro – as opções foram sempre no sentido de servir os interesses dos grupos económicos. Para os trabalhadores e o povo sobrou sempre a «factura»: o aumento do custo de vida, a desvalorização dos salários e pensões, o agravamento das normas gravosas da legislação laboral, o alastramento da pobreza, o aumento das desigualdades sociais, a grave situação do acesso à habitação, a degradação dos serviços públicos, com destaque para o SNS – hoje em verdadeira situação de pré-ruptura – e para a escola pública.

Afinal, era para isto que queriam a maioria absoluta, como já então prevenia o PCP...




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