Terror

Jorge Cadima

Israel teve sempre luz verde para massacrar

A chacina da população de Gaza pelas forças armadas de Israel é terrorismo. Castigos colectivos sobre populações civis são crime de guerra. Centenas de crianças mortas e bairros inteiros destruídos pelos bombardeamentos é terrorismo. Exigir a partida da população de Gaza é, como afirma a Relatora da ONU para os Direitos Humanos (14.10.23), uma limpeza étnica. Israel alega que combate o terror. Mas o terror israelita é a história trágica do povo palestiniano desde há 75 anos, de Deir Yassin a Gaza.

Durante quase dois anos (Março 2018 a Dezembro 2019) centenas de milhares de palestinianos de Gaza manifestaram-se de forma pacífica, na Grande Marcha do Retorno, junto à fronteira com Israel. 230 palestinianos desarmados foram assassinados à distância pelas balas dos militares israelitas. 33 000 ficaram feridos. Nenhum israelita morreu. Uma Resolução da Assembleia Geral da ONU condenou o uso da força israelita (13.6.18). Mas ela prosseguiu durante mais de um ano. Os dirigentes das potências imperialistas não choraram, não sancionaram, não hastearam bandeiras da Palestina nos seus edifícios públicos. É esse o problema. Israel teve sempre luz verde para massacrar, para fazer as guerras, para violar sistematicamente as resoluções sem conta da ONU. Que ironicamente foi a entidade que lhe deu vida, em 1947.

Nem só os palestinianos foram vítimas do terrorismo sionista. Em 1995, o segundo dos Acordos de Oslo entre Israel e a OLP foi assinado, sob a égide dos EUA. O acordo não era bom para os palestinianos, pois não resolvia a questão de fundo da criação do seu tão prometido Estado. Mas o mundo vivia sob uma quase hegemonia dos EUA, o grande padrinho de Israel. Cinco semanas depois (4 Novembro 1995), o primeiro-ministro de Israel que assinara os acordos, Yitzhak Rabin, foi assassinado em Israel. Não por um terrorista extremista palestiniano, mas por um terrorista extremista israelita. Que emergiu do caldo de cultura alimentado por, e que alimentou, Netanyahu e os sectores sionistas mais fascizantes que estão hoje no governo de Israel.

O outro signatário de Oslo, Arafat, esteve cercado no Palácio Presidencial durante a maior parte de 2002, quando em Israel era primeiro ministro Ariel Sharon, que em 1982 abrira as portas ao massacre de muitas centenas de refugiados palestinianos em Sabra e Chatila, no Líbano. Arafat saiu da Muqata para França, onde viria a morrer em 2004. Nunca houve diagnóstico oficial da causa da morte, mas a suspeita de envenenamento é generalizada. O que é documentalmente comprovável é que o Governo de Israel, no seu comunicado oficial do dia 14 de Setembro de 2003 afirmou que «o gabinete de segurança decidiu em linha de princípio, que serão tomadas medidas para remover Arafat». Para que não restassem dúvidas, no dia seguinte o vice-primeiro-ministro Olmert declarou que «assassinar Arafat é seguramente uma opção» (CBS, 15.9.03). Arafat era o homem que fez acordos com Israel e que fora eleito Presidente em Janeiro de 1996 por 88% do povo palestiniano. Para Israel, qualquer palestiniano que não se renda é um terrorista. Já foi assim com Cabral, Neto, Mandela e tantos outros.

A luz verde ao terror israelita dada pela Presidente da Comissão Europeia da UE é uma vergonha. Mas esclarecedora. As proibições de manifestações de apoio à Palestina em França, Alemanha e noutros países falam por si. Uma coisa é certa: o povo palestiniano será livre.




Mais artigos de: Opinião

Três ilusões no OE 2024

A proposta de Orçamento do Estado apresentada pelo Governo tem sido acompanhada por uma significativa operação de propaganda que procura iludir as verdadeiras opções e interesses que estão por detrás da política que está em curso, bem como as consequências que daí resultam para os...

Shalom, Salam, Paz

Visitei Israel e Palestina em Junho de 2007. Realizava-se então, em Jerusalém, uma conferência internacional promovida por organizações sociais e partidos palestinianos e israelitas, com dezenas de participantes estrangeiros e dignitários religiosos judaicos, muçulmanos e cristãos. No centro do debate estava a solução...

Para que queriam a maioria absoluta?...

Há dois anos, quando o Governo minoritário do PS ultimava a discussão da sua proposta de Orçamento do Estado para 2022, o PCP denunciou as opções profundamente negativas que o Governo assumia e contrapôs soluções, procurando responder a questões fundamentais: o aumento dos salários, a revogação das normas gravosas da...

Critérios obscenos

Para João Miguel Tavares, o tempo não é de lembrar os crimes de Israel. Segundo ele, «esse tempo virá. Só que não agora. Não antes que o sangue seque». Olhando para o rasto de sangue de milhares de vitimas inocentes – mulheres, crianças, idosos – que décadas de acção criminosa de Israel semeou, sem lhe tirar o sono, bem...

Consolidação

A palavra que promete marcar o segundo semestre de 2023 é «consolidação». Ela já está a ser disparada dia após dia. A compra da SAS Scandinavia pela AirFrance? A consolidação do sector aéreo europeu. O anúncio da próxima venda da PT pela Altice? A necessária consolidação do sector das telecomunicações na «Europa»,...