Há razões que a razão desconhece ou talvez não

Rui Fernandes

As forças e ser­viços de se­gu­rança, através das suas es­tru­turas re­pre­sen­ta­tivas, há muitos anos que pugnam pela va­lo­ri­zação re­mu­ne­ra­tória e pela va­lo­ri­zação do sub­sídio da con­dição po­li­cial e risco. Vá­rias pro­postas foram en­tre­gues nesse sen­tido, vá­rios alertas, vá­rias ac­ções. Na As­sem­bleia da Re­pú­blica pro­postas foram en­tre­gues, desde logo pelo PCP, e foram chum­badas.

A jus­tís­sima atri­buição, e dos va­lores res­pec­tivos, do su­ple­mento à Po­licia Ju­di­ciária de­sen­ca­deou o pro­testo co­nhe­cido entre os pro­fis­si­o­nais da PSP e da GNR. No con­texto e am­pli­tude em que essas ac­ções de luta se de­sen­vol­veram, gerou-se um re­co­nhe­ci­mento quanto à in­jus­tiça criada e a ne­ces­si­dade de lhe dar res­posta, desde logo do PS, que votou contra todas as pro­postas sobre esta ma­téria apre­sen­tadas pelo PCP, mas também do PSD e IL, que se abs­ti­veram nessas mesmas pro­postas. Ambos, PS e PSD, re­me­teram para o pós-elei­ções o tra­ta­mento pri­o­ri­tário desta ma­téria. O PCP afirmou que o Go­verno, mesmo em gestão, podia res­ponder ao pro­blema. Não foi esse o seu en­ten­di­mento, como se sabe.

Verbas e or­ça­mentos
Che­gados aqui, e já com qui­ló­me­tros de pe­ro­ração sobre se há ou não há or­ça­mento rec­ti­fi­ca­tivo, e com Pedro Nuno Santos a dis­po­ni­bi­lizar-se para anuir a esse or­ça­mento, eis que o ex-mi­nistro das Fi­nanças, à saída de uma reu­nião do PS, afirma que «os or­ça­mentos rec­ti­fi­ca­tivos só existem na cir­cuns­tância de serem ne­ces­sá­rios e só são ne­ces­sá­rios se em cada ano se ul­tra­pas­sarem de­ter­mi­nados tectos de des­pesa». Ques­ti­o­nado sobre se os 154 mi­lhões de euros ne­ces­sá­rios para equi­parar o su­ple­mento de risco da PSP e GNR ao da PJ são aco­mo­dá­veis no ac­tual Or­ça­mento do Es­tado, res­pondeu: «Uma verba como 154 mi­lhões é uma verba per­fei­ta­mente aco­mo­dável dentro do Or­ça­mento deste ano, sem ne­ces­si­dade de or­ça­mento rec­ti­fi­ca­tivo.»

Ora, esta res­posta con­firma desde logo a razão do PCP quando disse que o go­verno podia res­ponder ao pro­blema. Mas para além deste as­pecto, sus­cita a questão: porque não quis o PS res­ponder ao pro­blema? Porque de­cidiu o que de­cidiu para a PJ e não o fez para os res­tantes? O que visou o PS com tal po­si­ci­o­na­mento? Eis ques­tões que con­ti­nuam sem res­posta ou, se qui­sermos, há ra­zões que a razão des­co­nhece.

Por fim, Me­dina des­trói a ideia de que é pre­ciso pro­telar a re­so­lução com a ela­bo­ração de um or­ça­mento rec­ti­fi­ca­tivo.

Pro­blemas por re­solver
A re­so­lução rá­pida deste pro­blema é ne­ces­sária, mas a sua re­so­lução não re­solve os vá­rios pro­blemas com que a Ins­ti­tuição e o pes­soal que compõe a PSP e a GNR se de­batem. Desde logo o das ta­belas re­mu­ne­ra­tó­rias. Re­pare-se que o Co­man­dante da GNR e o Di­rector Na­ci­onal da PSP re­cebem menos que o Di­rector Na­ci­onal da PJ. Porquê? Atente-se ainda que, com a im­ple­men­tação dos va­lores do já re­fe­rido su­ple­mento, os pro­fis­si­o­nais ficam quase a re­ceber tanto de su­ple­mento como de ven­ci­mento à en­trada nas car­reiras e o pro­blema não é o valor do su­ple­mento, mas a não res­posta à evo­lução das ta­belas re­mu­ne­ra­tó­rias.

Temos o enorme pro­blema da pré-apo­sen­tação na PSP. Temos o pro­blema dos de­sen­vol­vi­mentos da car­reira e da atrac­ti­vi­dade, das con­di­ções de saúde e hi­giene nos lo­cais de tra­balho, in­cluindo nisto a pre­venção do sui­cídio, dos alo­ja­mentos, dos meios de tra­balho, etc. E temos também um ainda ar­caico mo­delo de di­reitos, mais ar­caico ainda na GNR, mo­delo que im­porta mo­der­nizar porque também isso con­tri­buirá para umas forças de se­gu­rança mais atrac­tivas no sen­tido de os pro­fis­si­o­nais serem e se sen­tirem mais en­vol­vidos na dis­cussão dos pro­blemas so­ci­o­pro­fis­si­o­nais.

Enfim, um mar imenso de ques­tões quem têm sido, a exemplo do su­ce­dido com o sub­sidio/​su­ple­mento, em­pur­rados com a bar­riga. O tempo urge.



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