Firmes na luta por soluções e respostas para os problemas e anseios da juventude
Nas ruas de Lisboa e Vila Nova de Gaia, na tarde de 27 de Março, sob forte temporal, jovens trabalhadores dos vários distritos assinalaram o Dia Nacional da Juventude e deram força às exigências de melhores salários, fim da precariedade, redução e regulação dos horários, mas também de alteração da política, colocadas pela CGTP-IN e a Interjovem, que organizaram esta jornada.
Esta garra dos jovens dá mais força e alento para continuar a lutar
Cerca das 15 horas, começaram as concentrações em Lisboa (no Rossio) e Porto (junto do Corte Inglés, em Vila Nova de Gaia), para onde se dirigiram jovens trabalhadores mobilizados pelos sindicatos do Sul, do Centro e do Norte do País. A expressar as exigências do momento ou a assinalar a presença, traziam faixas e bandeiras. Com megafones e carros de som, estimulavam a ritmada repetição de palavras de ordem. Precavidos pelas previsões meteorológicas, muitos vieram com guarda-chuvas e capas.
Marcharam com destino ao Jardim do Morro e à Assembleia da República. A chuva e o vento varreram todos por igual, não permitindo divisão entre secos e molhados. Mas o ânimo não se ressentiu do mau tempo, como se viu nos rostos e nos passos.
Assim, os jovens organizados nas estruturas do movimento sindical unitário assinalaram também o Dia Nacional da Juventude. Celebrado a 28 de Março, evoca as iniciativas da «Semana da Juventude», que o Movimento de Unidade Democrática (MUD) Juvenil realizou em Março de 1947, e a repressão que o Estado fascista lançou contra elas, particularmente violenta no acampamento de dia 23, em Bela Mandil (concelho de Olhão). A luta dos jovens e do povo prosseguiu e acabou por levar ao derrube do fascismo.
A manifestação nacional, na quarta-feira da semana passada, teve «a elevação das condições de vida e de trabalho dos jovens» como «objectivo muito concreto» – salientou o Secretário-Geral da CGTP-IN, que fez uma breve intervenção, no palco móvel instalado junto da escadaria do Palácio de São Bento, lembrando a acção que decorria a essa hora no Porto.
Tiago Oliveira destacou «esta garra, esta unidade, este pulsar da vida», que dão «mais força e alento para continuar a luta por uma vida melhor».
Remeteu para a anterior intervenção de Maria João Falcão, da Interjovem, a descrição dos problemas essenciais com que a juventude trabalhadora está hoje confrontada. Lembrou que estes problemas «são mais que conhecidos», tal como «as ambições e as reivindicações dos jovens são mais que justas e compreendidas». Contudo, «todos sentimos e vivemos diariamente os atropelos e as barreiras» e «os problemas persistem e ganham cada vez maior dimensão».
O que falta mudar
«Gritamos bem alto, hoje, aqui, pelo fim da precariedade, por maior estabilidade, contra o aumento do custo de vida, pelo direito à habitação, pelo aumento geral e significativo dos salários», tal como antes se gritou, por várias vezes, lembrou. Para a CGTP-IN, frisou o Secretário-Geral, «falta mudar as políticas, não os protagonistas», «falta mudar o rumo, respeitar quem trabalha, quem trabalhou e quem entra amanhã para o mundo do trabalho», «falta responder aos problemas concretos, valorizar o trabalho, olhar para os trabalhadores, como o centro e a prioridade das decisões, e não para os interesses do grande capital».
«Independentemente do governo A ou do governo B, contem com uma coisa: empresa a empresa, local de trabalho a local de trabalho, na rua, vamos continuar a lutar por uma vida melhor», assegurou Tiago Oliveira, destacando as próximas comemorações do 25 de Abril e a jornada de luta do 1.º de Maio.
O Secretário-Geral reiterou as reivindicações da CGTP-IN, como razões para prosseguir a luta: «Contra o aumento do custo de vida; pelo aumento dos salários em 15 por cento, num mínimo de 150 euros; pelas 35 horas para todos e contra a desregulação dos horários de trabalho, contra a normalização do trabalho aos sábados, domingos e feriados, os bancos de horas e as adaptabilidades; pela defesa da contratação colectiva; no combate à precariedade, aos recibos verdes encapotados e às empresas de trabalho temporário, que não criam rigorosamente nada, a não ser baixos salários, exploração, dificuldades na vida».
A Norte, onde foram prestados alguns testemunhos, as intervenções centrais estiveram a cargo de David Leite (Interjovem) e Filipe Pereira (coordenador da União dos Sindicatos do Porto).
Empenhamento, força e alegria
Perante a dura realidade da vida dos jovens trabalhadores, «os resultados das eleições legislativas não traduziram uma mudança de rumo necessária, assente na resposta aos problemas concretos».
Na Resolução da manifestação, alerta-se para «a acentuação do rumo da política de direita, contra os interesses dos trabalhadores e o desenvolvimento do País, a favor do agravamento da exploração, das injustiças e desigualdades sociais, do ataque aos direitos e à democracia e de comprometimento da soberania nacional».
Neste quadro, afirma-se no documento, «a juventude trabalhadora tem um papel decisivo, para imprimir força e alegria, na luta pela valorização do trabalho e dos trabalhadores, pela mudança de rumo». Os jovens declaram o seu «empenhamento em intensificar a luta nas empresas e locais de trabalho, por melhores condições de trabalho e de vida, pelas reivindicações especificas e mais gerais, organizados nos seus sindicatos de classe da CGTP-IN».
Reafirmando o «compromisso com a paz, a solidariedade e o diálogo, assim como a luta pela solução pacifica dos conflitos, o desarmamento e o fim das escaladas militares e da guerra», na Resolução apela-se «a uma forte participação e mobilização» nas comemorações dos 50 anos da Revolução de Abril e no 1.º de Maio.
PCP solidário e com propostas
Em Lisboa, a passagem da manifestação, no final da Calçada do Combro, foi saudada por uma delegação do PCP, encabeçada por João Oliveira, membro da Comissão Política do Comité Central do Partido e primeiro candidato na lista da CDU para a eleição do Parlamento Europeu. Numa declaração, realçou que «os jovens trabalhadores não estão à espera nem dos governos, nem das maiorias na Assembleia da República, para lutarem pelos seus direitos, para exigirem melhorias nas suas condições de trabalho, nas suas condições de vida e nas suas perspectivas de futuro».
João Oliveira assinalou que «a solidariedade do PCP, hoje, com a sua presença nesta acção, associa-se à iniciativa e à acção política que realizámos ontem mesmo, na Assembleia da República, com a apresentação de algumas iniciativas legislativas que correspondem a algumas das reivindicações dos jovens». Referiu propostas para o aumento geral dos salários e do salário mínimo nacional; para acabar com a caducidade da contratação colectiva; para resolver os problemas da saúde, da habitação e da educação.
Da delegação também fizeram parte João Frazão, da Comissão Política do CC do PCP, e Gonçalo Francisco, dos organismos executivos da Direcção Nacional da JCP.