NATO: 75 anos a promover a guerra

Jorge Cadima

NATO assume-se como máquina de guerra planetária ao serviço do imperialismo

Passam hoje 75 anos da fundação da NATO. À mesa dos fundadores sentava-se o governo fascista de Salazar. Quando alguns esperavam que a derrota do nazi-fascismo na II Guerra Mundial trouxesse o fim do fascismo português, sob influência das “democracias ocidentais”, eis que as “democracias ocidentais” deram assento ao salazarismo na sua estrutura militar. Reforçado pelo apoio, o regime fascista português aumentou a repressão, com vagas de prisões e assassinatos. A ditadura haveria de durar mais 25 anos. Contou com o apoio activo da NATO na sua criminosa guerra colonial. O material militar fornecido pelas potências da NATO incluía o napalm que o regime colonial usou na Guiné-Bissau, Moçambique e Angola. Quando a ditadura acabou, em 1974, por acção dos militares de Abril e do povo português, foi quando a NATO “descobriu” o “perigo duma ditadura” em Portugal.

Como foi confirmado pelo ex-primeiro-ministro italiano Andreotti em 1990, a NATO criou estruturas clandestinas designadas stay-behind (Gladio) em vários países europeus. Eram desconhecidas dos parlamentos nacionais mas estavam cheias de velhos e novos fascistas (Repubblica, 5 e 9.8.1990). Essas estruturas clandestinas, serviços secretos e sectores do Estado, tiveram ligações a campanhas de terrorismo, nomeadamente em Itália, como relatam os livros de Sergio Flamigni, Senador do PCI entre 1968 a 1987, e membro de várias comissões parlamentares de inquérito (por ex., Trame atlantiche, Kaos Edizioni, 1996).

Com o fim da URSS a NATO saiu do armário e assumiu-se abertamente como máquina de guerra planetária ao serviço do imperialismo. Assinalando os 50 anos da sua fundação, a NATO atacou a Jugoslávia trazendo de novo a guerra ao continente europeu, 54 anos após o fim da II Guerra Mundial e pouco mais de sete anos após o fim da URSS. Foi uma guerra ilegal, em aberta violação do Direito Internacional e deitando a ONU para o caixote do lixo. Uma guerra tornada possível pela social-democracia que então governava na maioria dos países europeus e pelos Verdes alemães que descobriram que a guerra faz bem ao ambiente. Em simultâneo, a NATO efectuou o primeiro de vários alargamentos a Leste e alterou a sua doutrina para afirmar o “direito” de intervir em toda a parte e sob qualquer pretexto. Era a afirmação de um mundo baseado numa única regra: os EUA mandam e o resto obedece. De então para cá, a NATO não parou de desencadear ou alimentar guerras (Líbia, Afeganistão, Síria, Ucrânia, etc.).

A NATO tem hoje papel central na confrontação com a Rússia. Multiplicam-se os envios de armas cada vez mais potentes para alimentar a guerra na Ucrânia, as ameaças verbais tresloucadas, a colaboração em acções de guerra no interior do território russo, a desestabilização dos países vizinhos. «Economia de guerra» é a palavra de ordem na União Europeia, enquanto Gaza não pára de morrer na guerra do seu amigo israelita. Ameaçam conduzir a Humanidade, na era nuclear, a uma catastrófica III Guerra Mundial. Mesmo sem confrontação bélica, os povos vão pagar uma pesadíssima factura.

Calar a verdadeira natureza da NATO é ser-se cúmplice deste caminho de desastre. Ninguém pode alegar que não sabe. Razão tem a Constituição da República Portuguesa: há que dissolver os blocos político-militares. Fora a NATO!

 



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