Batalha Naval

João Frazão

Nas mais recentes declarações que Gouveia e Melo produziu, amplificadas certamente pela notoriedade instantânea que a COVID-19 ainda lhe empresta, o almirante convoca-nos para a reflexão sobre «duas tendências que se agravam».

Vamos por partes.

Segundo GM, citado pelo DN, «uma dessas tendências» consistiria «na “verdadeira campanha convencional de guerra na Europa, onde o número de soldados é crucial”».

GM, pelos vistos, desacreditou-se da Paz e está já a contar soldadinhos para mandar para uma guerra que a vida comprova, todos os dias, não ser nossa.

GM diz que a capacidade de defesa é altamente dissuasora. Talvez seja necessário lembrar que a política de Paz ainda o é mais. Mesmo atendendo ao seu estatuto de chefe militar, é mesmo necessário sublinhar que o caminho do futuro, do desenvolvimento e do progresso que queremos para nós e para os nossos filhos, não é o da guerra, antes o do diálogo e o da resolução pacífica dos conflitos antes que eles cheguem à confrontação e o da negociação política neste caso.

Acresce que defender a mobilização obrigatória da juventude em nome de uma guerra que serve apenas os interesses da indústria do armamento, esteja ela onde estiver, não dará bom resultado ao objectivo pretendido, antes somará razões aos que, de forma egoísta, considerem que o povo não deve aceder à missão colectiva de defender a pátria.

Mas GM diz mais, diz que a nova geração, “é uma juventude alienada das suas obrigações para com o seu Estado e território, e que tem 23% de desemprego entre os 16 e os 24 anos”».

Mesmo descontando o facto de a frase se explicar a si própria, indicando que, pelo contrário, é a sociedade e o Estado que está alienado das suas obrigações para com uma geração, que condena ao desemprego e à instabilidade, será caso para perguntar se GM não estará demasiado viciado em passar raspanetes em público.

Depois de o fazer aos militares que, ao que se sabe, se limitaram a denunciar as condições que impossibilitavam o cumprimento das suas missões, vem agora fazê-lo a toda uma geração que ainda por estes dias saiu à rua, com grande força reclamando emprego, estabilidade, condições de ensino, direitos.

Mais um tiro na água!

 



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