Novos reveses da França em África

Carlos Lopes Pereira

A Costa do Marfim anun­ciou a «re­ti­rada con­cer­tada e or­ga­ni­zada», com efeitos ime­di­atos, das tropas fran­cesas ex­pe­di­ci­o­ná­rias nesse país da África Oci­dental.

Na sua men­sagem de fim do ano, o pre­si­dente Alas­sane Ou­at­tara, até agora um firme aliado de Paris, re­velou que a base mi­litar de Port-Bouet, no sul, com mais de 600 efec­tivos fran­ceses, será «de­vol­vida» às forças ar­madas mar­fi­nenses du­rante este mês de Ja­neiro. Ex­plicou que a de­cisão se en­quadra nos es­forços para «mo­der­nizar» e de­sen­volver as ca­pa­ci­dades do exér­cito do país, re­al­çando que a Costa do Marfim «está dis­posta a as­sumir ple­na­mente a gestão da sua se­gu­rança na­ci­onal».

Desde 1960 – com o «pai» da in­de­pen­dência, o pre­si­dente Félix Houphouet-Boigny, que di­rigiu o país ao longo de mais de 30 anos –, a Costa do Marfim aco­lheu no seu ter­ri­tório tropas da França, que in­ter­vi­eram em di­versas crises po­lí­ticas e mi­li­tares in­ternas, e mesmo re­gi­o­nais, apoi­ando quando ne­ces­sário as forças fa­vo­rá­veis aos in­te­resses ne­o­co­lo­niais da an­tiga me­tró­pole.

Outra ex-co­lónia fran­cesa no oci­dente afri­cano, o Se­negal, que du­rante dé­cadas man­teve es­treitos laços de de­pen­dência com a França (ini­ci­ados e con­so­li­dados no tempo do pre­si­dente Léo­pold Senghor, no poder entre 1960 e 1980), fez saber que vai en­cerrar as bases mi­li­tares fran­cesas no seu ter­ri­tório. O ac­tual chefe do Es­tado se­ne­galês, Bas­sirou Di­o­maye Faye, que tem as­su­mido po­si­ções pro­gres­sistas – propõe um «pan-afri­ca­nismo de es­querda» –, con­si­dera ser a pre­sença de tropas es­tran­geiras «in­com­pa­tível» com a so­be­rania na­ci­onal. Também o pri­meiro-mi­nistro, Ous­mane Sonko, rei­terou em Dakar que serão en­cer­radas todas as bases mi­li­tares es­tran­geiras no Se­negal, «num fu­turo pró­ximo», ainda em 2025.

Outro rom­pi­mento re­cente e ines­pe­rado com Paris foi o do Chade, país centro-afri­cano até há pouco visto como um par­ceiro pri­vi­le­giado da França em África, em par­ti­cular no ale­gado com­bate contra grupos se­ces­si­o­nistas e ter­ro­ristas no Sahel. Em fi­nais de No­vembro do ano findo, o go­verno do pre­si­dente cha­diano, Mahamat Idriss Déby Itno, res­cindiu os acordos de co­o­pe­ração na área mi­litar que li­gavam Paris e N’D­ja­mena, in­vo­cando ra­zões de de­fesa da so­be­rania.

Estes de­saires da po­lí­tica ne­o­co­lo­ni­a­lista fran­cesa na África Oci­dental se­guem-se às po­si­ções so­be­ra­nistas dos novos go­vernos do Mali, Bur­kina Faso e Níger, que de­ci­diram ex­pulsar as tropas fran­cesas dos seus países. No caso do Níger, também os mi­li­tares norte-ame­ri­canos, pre­sentes em duas bases, em Ni­amey e Agadez, foram con­vi­dados a deixar o país.

Face às pres­sões e até ame­aças de uso da força, da parte da Ce­deao (Co­mu­ni­dade Eco­nó­mica dos Es­tados da África Oci­dental), os três países aban­do­naram essa or­ga­ni­zação re­gi­onal, as­si­naram um pacto de de­fesa co­lec­tiva e cons­ti­tuíram a Ali­ança dos Es­tados do Sahel.

Agora, os lí­deres mi­li­tares do Mali, As­simi Goita; do Bur­kina Faso, Ibraim Traoré; e do Níger, Ab­dou­raha­mane Tiani, ao mesmo tempo que or­ga­nizam a luta contra o ter­ro­rismo sahe­liano, es­ta­be­lecem re­la­ções de co­o­pe­ração entre si e com di­versos ac­tores – China, Rússia, grupo BRICS, entre ou­tros – e de­fendem o re­forço da sua in­de­pen­dência e so­be­rania, assim como o de­sen­vol­vi­mento dos seus países em be­ne­fício dos res­pec­tivos povos.

 



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