Carteiristas?

As cabeças do Conselho Europeu e da Comissão Europeia não param. Por vezes o resultado é sobretudo ridículo, como o tempo gasto em recomendações aos «influencers» europeus (ver para crer em https://www.consilium.europa.eu/en/press/press-releases/2024/05/14/influencers-in-the-eu-council-calls-for-increased-support-to-encourage-positive-impact). A maior parte das vezes não dá para rir. Como uma coisa triplamente alarmante, uma vez que vem do Conselho, a Comissão elabora e é apresentada pela comissária Maria Luís Albuquerque.

Constata o Conselho que as «poupanças na área euro são abundantes». A comissária informa que «as famílias europeias poupam 1,4 biliões de euros por ano […]. No entanto, 300 mil milhões de euros dessas poupanças europeias são canalizados anualmente para mercados fora da UE». Portanto, a UE congeminou «um plano para canalizar até 10 biliões de euros de depósitos bancários em todo o bloco para investimentos estratégicos muito necessários».

Diz ainda a comissária Albuquerque: «Actualmente, são muito poucos os cidadãos europeus que obtêm um rendimento decente das suas poupanças.» Poderia talvez explicar porque é que os depósitos bancários, em vez de darem um «rendimento decente» aos depositantes, dão antes um rendimento indecente aos bancos. Mas a UE não tem nada a ver com isso, certo?

É mais do que caso para alerta. Não houve uma criatura que disse que «o negócio da saúde é o melhor, a seguir ao do armamento»? Não anda a UE apostada numa campanha de «rearmamento»? Será para esse compensador «investimento estratégico» que quererão «canalizar» as nossas humildes poupanças?

Qualquer leigo pensará duas coisas: uma, que o armamento só é negócio no caminho da guerra; outra, que as poupanças de cada um só a ele cabe decidir para onde «canaliza», se for caso disso.

Talvez venha aí o tempo de guardar as poupanças debaixo do colchão, antes que a UE as «canalize».



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