Só com paz é possível desenvolvimento
Em dois anos, a guerra civil no Sudão, que não cessa, custou já pelo menos 24 mil mortos, 14 milhões de refugiados e deslocados e uma enorme devastação nesse país africano.
O conflito armado começou em meados de Abril de 2023, alegadamente por divergências entre os dois principais chefes militares sudaneses, até então aliados. De um lado, o general Abdel Fattah Al-Burhan, presidente do Conselho Soberano de Transição (CST) – um governo de transição, constituído após dois golpes militares, com envolvimentos ocidentais – e comandante do exército. E, do outro, o general Mohamed Hamdane Daglo, líder das Forças de Apoio Rápido (FAR), que não aceitou a integração das suas milícias nas forças armadas.
As duas partes têm aliados estrangeiros – o Egipto apoia o CST e os Emiratos Árabes Unidos e o Chade são acusados de auxiliar as FAR, embora o neguem. Mas há outros interesses ocultos, o que não surpreende, já que o Sudão dispõe de valiosos recursos naturais, incluindo os petrolíferos, e uma localização geográfica privilegiada, no nordeste do continente e com acesso ao Mar Vermelho.
Nas últimas semanas, as forças do CST conseguiram vitórias militares significativas, tendo reconquistado a capital, Cartum, a cidade vizinha de Omdurman, também à beira do Nilo, e outros territórios. Mas observadores no terreno referem que as FAR controlam grandes áreas no Estado federal de Darfur e possuem armamento e tropas para resistir e continuar a guerra por mais tempo.
A guerra pode também reacender-se no vizinho Sudão do Sul, onde sobe a tensão entre duas facções no poder, representadas pelo presidente do país, Salva Kiir, e pelo até há pouco seu primeiro vice-presidente, Riek Machar, que se encontra preso depois de ter sido detido por forças governamentais a mando do chefe do Estado.
O Movimento de Libertação do Povo do Sudão, na oposição, a que pertence o vice-presidente detido, já ameaçou pegar em armas se Machar não for libertado.
A União Africana (UA), através do seu recém-eleito presidente da Comissão, Mahmoud Ali Youssouf, e com o apoio das Nações Unidas e de organizações regionais da África Oriental, tem mantido conversações com Kiir, reafirmando o compromisso da organização pan-africana com o diálogo, a reconciliação e a paz duradoura. Para intensificar os esforços de mediação, foi decidido enviar a Juba, a capital sul-sudanesa, uma delegação de alto nível do «Grupo de Sábios» da UA para dialogar com todas as partes envolvidas, reduzir a tensão e garantir a paz.
Outra guerra a que a UA procura pôr termo, por enquanto sem resultados, é a que continua a travar-se na República Democrática do Congo (RDC), em especial na zona leste do país, nas províncias de Kivu Norte e Kivu Sul, ricas em recursos minerais.
Não obstante os esforços da UA e das organizações regionais, não pararam os combates entre o exército congolês e os insurgentes do Movimento 23 de Março (M23), apoiados pelo Ruanda, acusado pelo governo de Kinshasa de ser o principal fautor, e beneficiário, dos confrontos.
Apesar das dificuldades do presente em pôr fim às guerras no continente, em geral provocadas e instigadas do exterior, os africanos e as suas organizações progressistas sabem que urge silenciar as armas. Só com a paz é possível o desenvolvimento, o progresso social, o bem-estar dos povos. Em África e no resto do mundo…