E os depois de amanhãs, cantam?
O PS, na pressa de acalmar o grande capital sobre as suas reais intenções no caso do poder lhe cair no colo, empurrou, de novo, o aumento do Salário Mínimo Nacional para um número expressivo lá para 2029.
1100 euros!, dizem agora, mas não para já. Considera o PS – que, pela voz do seu Secretário-Geral numa entrevista recente, tinha afirmado que a sua prioridade nestas eleições seria «salários, salários, salários» – que esse objectivo pode ser adiado mais uns anos, com aumentos que, a concretizarem-se, continuariam a ser de valores da ordem dos 60 euros/ano.
Ora, este anúncio com que o PS e Pedro Nuno Santos querem agora encher a boca, confronta-se com três questões que não são de somenos importância.
Uma a de que essa promessa, que em concreto não passa de meter em papel a forma de puxar os aumentos necessários para baixo, significaria condenar milhões de trabalhadores a novas dificuldades, particularmente num tempo em que os preços dos bens e serviços essenciais não param de aumentar, tornando, na prática, insuficientes os aumentos que os trabalhadores têm conquistado com a sua luta.
Outra, a de que tal valor, a concretizar-se, significaria que os trabalhadores portugueses ficariam a ganhar, em 2029, menos do que os trabalhadores espanhóis, aqui mesmo ao lado, já ganham hoje, ou a apenas 60% do que já hoje se ganha na Alemanha, na Holanda, na Bélgica e na Irlanda. O que, ao invés de responder à necessidade de mão-de-obra e particularmente da importância de fixar os jovens no nosso País, seria um estímulo para a fuga de ainda mais gente, em busca de uma vida melhor.
E, ainda outra, a de que esta verdadeira contenção salarial com que o PS agora se compromete, é absolutamente contraditória com o escândalo obsceno que representam os lucros acumulados ao longo dos últimos anos por parte dos grandes grupos económicos.
Nós já estamos habituados a esta conversa do PS. Quer dar ares de esquerda sem nunca beliscar o seu compromisso de ferro com o capital. E, já agora, propõe acabar com a propina, mas só em 2035. Para o PS, os amanhãs nunca cantam, apenas os depois de amanhãs, ou ainda para lá disso!