A guerra enquanto negócio

FIlipe Diniz

Há certas almas alar­madas com o peso de al­guma «oli­gar­quia» ca­pi­ta­lista no go­verno dos EUA. Acor­daram tarde, seja em re­lação aos EUA como em re­lação a ou­tros lados. A UE, por exemplo. Não terão cer­ta­mente me­mória do «go­verno fas­cista, ins­tru­mento dessa aris­to­cracia da fi­nança» (Álvaro Cu­nhal, em Rumo à vi­tória). Porque na ver­dade não existe di­fe­rença po­lí­tica subs­tan­cial entre a pre­sença dessa es­pécie em pessoa nas ala­vancas do poder ou, como é de uso, a pre­sença de­le­gada – mas de­ter­mi­nante – do ca­pital mo­no­po­lista em toda a en­gre­nagem da de­cisão po­lí­tica.

Essa pre­sença pes­soal po­derá é exa­cerbar even­tuais ten­sões exis­tentes entre di­fe­rentes fac­ções do grande ca­pital e sus­citar al­guma bal­búrdia. Os in­te­resses do ca­pital mo­no­po­lista e o ver­da­deiro in­te­resse na­ci­onal nunca coin­cidem. Um alto quadro da em­presa passou à his­tória por afirmar que «o que é bom para a Ge­neral Mo­tors é bom para os EUA», mas a ver­dade é que para a GM o que «foi bom” antes e no de­curso da Se­gunda Guerra Mun­dial foi lu­crar tanto com os EUA como com a Ale­manha nazi. O mesmo acon­teceu com ou­tros po­ten­tados, da Kodak à Ford ou à IBM.

Hoje su­ce­derá o mesmo. O que talvez ajude a en­tender a acerba con­fron­tação in­terna nos EUA e em toda a es­fera das suas ali­anças. O meter dos pés pelas mãos em de­cla­ra­ções fa­vo­rá­veis à paz e no in­cen­tivar do pro­lon­ga­mento e da es­ca­lada da guerra. E também no cres­cente ace­lerar da de­com­po­sição destes ve­lhos polos do ca­pital mo­no­po­lista, con­cen­trados no lucro seja a que preço for, in­cluindo em sangue.

Um dos mais fortes (e iró­nicos) slo­gans contra a guerra do Vi­etnam foi «War is good bu­si­ness, in­vest your son» (A guerra é bom ne­gócio, in­veste o teu filho). Me­rece a pena re­ac­tivá-lo. Não apenas pelo que aponta à pro­xi­mi­dade hu­mana das vi­timas reais da guerra, mas também à na­tu­reza do seu sór­dido ne­gócio.

Pôr fim à guerra exige o fim deste poder do ca­pital mo­no­po­lista.

 



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