Fugir ao engano
Regressando a Luís Cília, para aqui se transporta a conhecida mensagem – de que «é preciso avisar toda a gente» – com a dimensão preventiva, plena de actualidade, que a acompanha. Ideia que tendo aplicação em geral, ganha nestes dias que nos separam das próximas eleições particular acuidade. Reavisemos pois: a 18 de Maio não basta derrotar a direita, é necessário e decisivo derrotar a política de direita. Seja esta vendida pela mão de PSD, e séquito partidário que com eles partilha poder ou opções, seja pela mão do PS por mais ardilosos jogo de palavras para apresentar-se, não pelo que é, mas sim pelo que tenta aparentar ser.
Missão difícil para quem tendo décadas de irresistível atracção pela política de direita dela insiste em não se separar. Registem-se as repetidas afirmações do líder do PS sobre tudo o que fez para garantir terreno livre para que o governo PSD/CDS prosseguisse a política que o PS aliás havia deixado de herança num Orçamento do Estado que vestia por inteiro no corpo do PSD, anote-se que pelo que se confessa não fosse o caso da empresa familiar e não era a acção do governo que tirava o sono ao PS – e facilmente se perceberá o que dali se pode esperar de ruptura com a actual política. E se tal não fosse bastante para perceber o que emerge debaixo do nariz da nação, some-se agora a recente entrevista de Ferro Rodrigues e o que ele antecipa de justificações para o regresso – formal – do chamado bloco central. A pretexto do costume – se pretextos fossem necessários – aí temos a invocação do “interesse nacional” ou do que designa de “situações limite” para na prática justificar o que justificado está: a identificação de opções em questões estruturais entre PS e PSD. O proverbial “junta-se a fome à vontade de comer” preencheria com menos palavras, e por si só, o que a esforçada argumentação de Ferro Rodrigues procurou atingir. Donde, só por imprevidência se irá neste embalar argumentativo que leve a entregar em nome de uma falsa esquerda um voto na cesta da política de direita.