Ocupação e opressão do povo palestiniano «são rentáveis para alguns»
Relatora das Nações Unidas denunciou as empresas que obtêm enormes lucros em negócios com Israel e com a sua «economia de genocídio e de apartheid». Revelou que nos últimos 21 meses a Bolsa de Telavive acumulou mais de 225 mil milhões de dólares em ganhos bolsistas.
Pôr fim ao genocídio do povo palestiniano requer não só indignação, mas ruptura, reflexão e coragem para desmantelar aquilo que o possibilita
Na Faixa de Gaza está a ser perpetrado um genocídio sustentado num sistema de ocupação exploradora, denunciou a relatora especial da ONU para os direitos humanos na Palestina, Francesca Albanese. Durante a apresentação de um relatório ao Conselho de Direitos Humanos, nas Nações Unidas, no dia 3, a relatora afirmou que as décadas de repressão israelita contra o povo palestiniano sustentam-se no lucro de corporações indiferentes aos crimes.
Francesca Albanese denunciou que a especulação e os interesses dessas entidades permitem e legitimam a presença, as acções ilegais e as violações cometidas por Israel. Nos últimos 21 meses, a Bolsa de Telavive subiu 213%, acumulando mais de 225 mil milhões de dólares em ganhos bolsistas. Isto ocorreu enquanto o genocídio israelita devastava as vidas e a terra palestiniana. «Para alguns, o genocídio é rentável», apontou.
A Palestina, assinalou Francesca Albanese, converteu-se no epicentro de um ajuste de contas global e que expõe o fracasso dos sistemas comerciais e legais internacionais para defender os direitos básicos de um dos povos mais despojados do mundo.
Denunciou aquilo a que chamou uma «economia de genocídio e de apartheid». Disse que pelo menos 48 empresas – entre elas algumas fabricantes de armas, tecnológicas, financeiras, de construção e de energia – incumpriram as responsabilidades legais de exercer a sua influência para pôr fim às violações do direito internacional por parte de Israel sobre a Palestina ou terminar as suas relações com Israel e desvincularem-se. Pelo contrário, trataram as acções ilegais de Israel como uma actividade económica vulgar. Estes actores, denunciou, consolidaram e expandiram a lógica colonial de deslocação forçada de populações e ocupação de território, e isso não é acidental: «Essa é a função de uma economia construída para dominar, despojar e expulsar os palestinianos da sua terra».
A relatora instou os Estados a impor a Israel um embargo de armas total, suspender os acordos comerciais e de investimento, e a exigir responsabilidades a essas entidades pelas violações do direito internacional.
«Estamos num momento decisivo para determinar se os mercados globais podem existir sem promover a injustiça e a impunidade nem lucrar com elas. A Palestina é um espelho que reflecte os fracassos morais e políticos do mundo. Pôr fim a este genocídio requer não só indignação, mas também ruptura, reflexão e coragem para desmantelar aquilo que o possibilita», concluiu.
Mais de 200 mil mortos, feridos e desaparecidos
A ONU estimou em mais de 600 o número de palestinianos assassinados na Faixa de Gaza desde finais de Maio devido a ataques israelitas ocorridos perto de centros de distribuição de alimentos e de camiões com ajuda humanitária. Autoridades locais confirmam que o número de mortos ultrapassa os 650 e o de feridos soma 4500.
Um relatório das Nações Unidas revela que a maioria destas mortes foi provocada por disparos das forças israelitas nas proximidades de centros de distribuição de alimentos da dita “Fundação Humanitária de Gaza” (GHF, na signa em inglês), entidade ligada a ex-militares e antigos responsáveis dos serviços secretos dos EUA, contratada por Washington e Telavive para distribuir «ajuda» no território e com a qual a ONU se recusa a colaborar, depois de ver interdita por parte de Israel a acção das suas agências na Faixa de Gaza.
As organizações de direitos humanos e funcionários da ONU criticaram a acção da GHF por ser militarizada, perigosa e ilegal. De facto, a imprensa israelita citou militares israelitas que confirmam ter recebido ordens para disparar contra a população palestiniana indefesa, mesmo sem existir qualquer “ameaça”.
As autoridades sanitárias da Faixa de Gaza calculam que, desde Outubro de 2023, pelo menos 57.338 palestinianos foram mortos por Israel e 135.957 ficaram feridos, havendo ainda cerca de 11 mil desaparecidos sob os escombros de cidades e aldeias devastadas.