Onde estávamos no 25 de Abril?

Toda a gente sabe onde es­tavam os mi­li­tares de Abril, no dia 25 da­quele glo­rioso mês de 1974. Nas ruas, nas praças, pe­gando em armas para der­rubar o re­gime, ca­lando-as em terras de África para um abraço li­ber­tador. Muitos deles sem a cons­ci­ência per­feita de que uma re­vo­lução se ini­ciava com o seu acto co­ra­joso.
Ou­tras co­ra­gens, se­di­men­tadas por dé­cadas de lutas e sa­cri­fí­cios, pre­pa­ravam a al­vo­rada que cla­reou sobre o País e lançou as massas à con­quista das li­ber­dades de­mo­crá­ticas e em ou­tras con­quistas tão im­por­tantes como essas, dando um rumo à Re­vo­lução, abrindo ca­mi­nhos para uma so­ci­e­dade mais justa e so­li­dária. As portas de Abril abriam-se sobre o so­ci­a­lismo. Na­ci­o­na­li­za­ções, con­trolo ope­rário, Re­forma Agrária, Por­tugal le­van­tava-se e que­brava gri­lhetas, um mundo novo en­trava em cons­trução. Há muito pla­neada, par­tindo do es­tudo da re­a­li­dade con­creta do País, ur­dida em ba­ta­lhas de classe que atra­ves­saram dé­cadas, ins­crita num pro­grama re­vo­lu­ci­o­nário que só um Par­tido re­vo­lu­ci­o­nário es­tava à al­tura de pro­jectar.
Ao longo de 29 anos, sempre que Abril se chega, re­cor­damos pas­sa­gens dessas lutas e dessas co­ra­gens. Hoje, de novo, fa­lamos de gente que não ocupou a ri­balta, mas que as­se­gurou o fu­turo, cons­truindo-o mo­des­ta­mente, com a per­sis­tência e a con­vicção sem as quais ne­nhuma re­vo­lução é pos­sível. Fa­lamos dos ca­ma­radas. Dos que im­pri­miram o Avante!, dos que as­se­gu­raram casas clan­des­tinas, dos que, nas fá­bricas, mo­bi­li­zavam as lutas e foram dos pri­meiros a su­birem para um tanque em di­recção ao quartel do Carmo, dos que, no exílio, não per­diam a es­pe­rança, dos que, cer­cados nos úl­timos dias pela Pide, ti­nham dado en­trada, por «muitos anos», para os ca­la­bouços do fas­cismo. E, fi­nal­mente, fa­lamos dos que não es­tavam lá, no 25 de Abril de 1974, porque ainda não ti­nham nas­cido, mas que hoje, con­nosco, par­ti­lham essa me­mória e se juntam a nós no pro­jecto li­ber­tador dos co­mu­nistas.
Os re­dac­tores do Avante! fa­laram com Carlos Pires e Ma­riana Ra­fael, com Fran­cisco Car­rilho e Aníbal Guer­reiro, com He­lena Rato e José Carlos Al­meida. E com os jo­vens Joana Mar­ques, An­tónio Santos e Ma­falda Santos.
Os «re­tratos» são do nosso fo­tó­grafo, Jorge Ca­bral.



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Compor, rever e imprimir em nome da liberdade

Quase 30 anos pas­sados, é ainda com algum ner­vo­sismo que Carlos Pires re­corda o tempo pas­sado na clan­des­ti­ni­dade, a mai­oria em ti­po­gra­fias do Par­tido a compor, a rever e a im­primir o Avante! e O Mi­li­tante.

O passado não se apaga de repente

O carácter alegre ajudou-a a sobreviver. Atrás da gargalhada pronta esconde as dores do passado. Hoje, 29 anos depois do 25 de Abril - que a apanhou de surpresa numa casa clandestina da Amadora - Mariana Rafael desdramatiza a sua vida, dizendo que «valeu a pena». O seu semblante carrega-se, contudo, quando recorda algumas situações.

E o povo saiu à rua

Na tarde de 25 de Abril de 1974, par­ti­lharam a bo­leia de uma chai­mite na Rua do Carmo. Anos mais tarde co­nhe­ceram-se… e re­co­nhe­ceram-se numa das fotos mais em­ble­má­ticas da­quele dia. Eis Fran­cisco Car­rilho e Aníbal Guer­reiro, dois dos pro­ta­go­nistas da re­vo­lução.

Do exílio à liberdade

En­fren­tando a opressão do re­gime fas­cista, He­lena Rato, co­mu­nista e filha de pais co­mu­nistas, cedo se viu con­fron­tada com a ne­ces­si­dade de fugir para o es­tran­geiro. Com apenas a roupa no corpo, a então exi­lada, passou as «passas do Al­garve» para chegar, por fim, ao país que a aco­lheu, a Bél­gica.

As portas abriram-se do lado de fora

Para muitos presos po­lí­ticos, a li­ber­dade chegou um dia mais tarde. En­quanto os ca­pi­tães e o povo li­vravam Por­tugal de quase cinco dé­cadas de fas­cismo, o úl­timo fun­ci­o­nário do PCP preso en­fren­tava, em Ca­xias, os tor­ci­o­ná­rios da PIDE, num con­fronto que um e ou­tros não ima­gi­navam tão breve.

Os jovens olhos da revolução

Os 29 anos da Re­vo­lução dos cravos co­me­moram-se amanhã com um des­file de mi­lhares de pes­soas que, como acon­tece todos os anos, des­cerão a Ave­nida da Li­ber­dade, dando sen­tido prá­tico à pa­lavra que lhe em­presta o nome. Entre a mul­tidão es­tarão muitos, ainda jo­vens, para quem o 25 de Abril con­tinua a ser uma re­fe­rência. O Avante! deu-lhes a pa­lavra, e pro­curou per­ceber as ra­zões pelas quais estão com Abril.