Conselhos

Leandro Martins
A situação política nacional já não é o que era. A partir do começo da noite de 20 de Fevereiro, alterou-se o quadro político do País e a vida que aí vem parece abrir perspectivas novas. Certo que assim é. Mas, para além das alterações verificadas - vitória sobre a direita no seu conjunto, maioria absoluta do PS na Assembleia da República, derrota substancial do PSD e «encerramento do ciclo» para Paulo Portas, como ele se lamuriou nessa noite, crescimento do Bloco levando ao parlamento mais vozes para trinar a mesma melodia, reforço da CDU que passa a terceira força eleitoral (com mais votos, mais deputados e mais força) - não se vislumbram ainda sinais de que esta mudança de quadro político possa corresponder a uma alteração substancial nas políticas que o próximo governo venha a promover. E, como não deixámos de assinalar durante a campanha, a maioria absoluta do PS não determina - antes pelo contrário - a vontade de alterar o rumo que no essencial vem sendo o de sucessivos governos. Sem «precisão» de negociar à esquerda para levar a sua avante, a crença natural do PS não o levará a profundas mudanças que, aliás, a rotunda oratória pré-eleitoral e o discurso redondo da vitória não anunciavam.
Sem outros alimentos que não sejam as sequelas da derrota sofrida pelo PSD e pelo CDS e as crises então abertas nesses partidos, os media não se atrevem a prognósticos acerca da governação de Sócrates, nem sequer avançam muito no desvendar dos «ministeriáveis». E é mesmo provável que a partilha do bolo seja o que de mais essencial esteja na cabeça de Sócrates e de quem hoje manda no PS, no centro de um afã de milhares de boys, atiçados pelo jejum de três anos.
A quaresma está, no entanto, a findar, e em breve se vai assistir ao distribuir das amêndoas.
Para alguns, portanto, será tempo de conselhos. Como faz Mário Soares (Visão, 24.2.2005), calejado nestas andanças de governações, de pressões feitas e recebidas. E o conselho que dá a Sócrates é que «resista». À colagem de «muitos oportunistas indesejáveis»; à «pressão contínua dos interesses (alguns pouco legítimos)»; aos pródigos «conselhos, vindos de quem não tem autoridade para lhos dar» (esta será contra quem?).
Por nosso lado, não prodigalizamos conselhos. Somos portadores de esperanças e, sobretudo, da luta que valeu a pena para derrotar a direita e da luta que vale sempre a pena contra a política de direita. E somos portadores e intérpretes, para além das mais justas aspirações populares, de exigências justíssimas. Que consubstanciamos em propostas a apresentar na próxima Assembleia da República.


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