Rimsky-Korsakov (1844-1908)

Nikolay Andreyevich Rimsky-Korsakov parecia vocacionado para a carreira de oficial da marinha russa, tendo recebido formação nesse sentido. À música ligava-o tão só um fascínio palas orquestras que escutava nos teatros de ópera e o gosto pelas composições de Glinka. Embora tivesse estudado piano, não possuía formação suficientemente sólida que lhe permitisse enveredar por uma carreira musical. Porém, tudo se alterou quando por volta dos seus 17 anos conheceu o compositor, pianista e professor Balakirev. Foi este que o incentivou a dedicar-se à arte dos sons, apadrinhando as suas primeiras criações, também como intérprete. Sete anos mais velho, Balakirev já estava bem inserido no importante meio musical de S. Petersburgo. Era o mentor de dois oficiais que revelavam possuir talento composicional: Musorgsky e Cui. Rimsky-Korsakov entrou assim em contacto directo com os jovens compositores da sua geração que se iriam tornar, tal como ele próprio, as grandes figuras da música russa do final do século XIX e do início do XX (Borodin, Dargomïzhsky e os antes citados).

A atracção pelo fantástico, pelo cómico e o misticismo está bem patente na sua obra. Para além da música orquestral, dedicou também particular atenção à ópera, tendo composto 12.

De entre todos os seus dotes talvez se deva destacar a extraordinária capacidade de orquestrar.

Exerceu forte influência nas gerações seguintes. Glazunov, Stravinsky, Prokofiev contam-se entre os seus discípulos.


Dubinuschka


Em 1861 o czar Alexandre II
decretou o final da servidão dos camponeses russos face aos grandes proprietários rurais, mas as esperanças criadas rapidamente se frustraram pela manutenção da violenta exploração, conduzindo a protestos e levantamentos em toda a Rússia. Em 1865, o jovem poeta V. I. Bogdanov escreveu um poema para adaptar como letra a uma antiquíssima canção tradicional. Sob o título Dubinushka, o poeta apelava aos explorados para que usassem os seus cajados (de dubina, palavra russa para bastão, cajado, especialmente de madeira de carvalho) para varrerem os exploradores.

Com a migração dos campos para as áreas industriais, a canção vir-se-ia a tornar muito popular no movimento operário, especialmente em S. Petersburgo.

Em Janeiro de 1905, uma demonstração pacífica de centenas de milhares de trabalhadores que se dirigiam ao Palácio de Inverno para pedirem a intervenção do czar face à devastadora crise que o País atravessava, foi metralhada pela guarda imperial, provocando centenas de mortos. A comoção provocada por esse «domingo sangrento» gerou um crescendo de lutas que ficaria conhecida como a Revolução de 1905 e conduziria a algumas vitórias como a constituição, após meses de lutas e greves, da duma (parlamento).

Os estudantes de S. Petersburgo participaram activamente no movimento, incluindo os do conservatório, onde ensinavam, entre outros, Rimsky-Korsakov e Alexander Glazunov. Numa expressão de solidariedade (que conduziu então à sua expulsão do ensino), ambos compuseram então peças orquestrais sob temas populares, Glazunov sobre os Barqueiros do Volga e Korsakov sobre a Dubinushka, que nesses dias escutara cantada numa gigantesca manifestação de trabalhadores e que muito o impressionara. A composição teve a sua estreia ainda durante o período revolucionário, em 18 de Novembro de 1905.

A canção tornar-se-ia particularmente conhecida através da interpretação do famoso baixo Fiodor Chaliápine.



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