Avanço positivo no pacote de leis anti-corrupção

Haja agora meios humanos e materiais

A As­sem­bleia da Re­pú­blica aprovou antes das fé­rias, por una­ni­mi­dade, em vo­ta­ções fi­nais, um pa­cote de leis de com­bate à cor­rupção. Nele se in­cor­poram vá­rios con­tri­butos do PCP, que não deixou de se con­gra­tular pelos re­sul­tados al­can­çados.

Ine­xis­tência de mai­oria ab­so­luta per­mitiu pro­gressos

Re­sul­tado que con­trasta com o fra­casso ocor­rido na an­te­rior le­gis­la­tura por ex­clu­siva res­pon­sa­bi­li­dade do PS, que, fa­zendo então valer a sua mai­oria ab­so­luta, im­pediu qual­quer pro­gresso le­gis­la­tivo as­si­na­lável sobre esta ma­téria.

«O único ponto ne­ga­tivo» deste pro­cesso le­gis­la­tivo foi a não con­sa­gração do crime de en­ri­que­ci­mento ilí­cito, como chamou a atenção o de­pu­tado co­mu­nista An­tónio Fi­lipe, que rei­terou a con­vicção de que tal cri­mi­na­li­zação não só não seria in­cons­ti­tu­ci­onal como «seria se­gu­ra­mente um po­de­roso ins­tru­mento le­gis­la­tivo no com­bate à cor­rupção».

Não obs­tante os aper­fei­ço­a­mentos in­tro­du­zidos, o que im­porta agora as­se­gurar, na pers­pec­tiva do PCP, é que as au­to­ri­dades ju­di­ciá­rias e os ór­gãos de po­lícia cri­minal com­pe­tentes dis­po­nham dos meios hu­manos e ma­te­riais ade­quados.

Daí o sig­ni­fi­cado e im­por­tância do pro­jecto de re­so­lução igual­mente apro­vado, subs­crito por todas as ban­cadas, con­tendo um con­junto sig­ni­fi­ca­tivo de re­co­men­da­ções ao Go­verno, vi­sando «con­ferir maior efi­cácia à luta contra a cor­rupção», e, si­mul­ta­ne­a­mente, «maior efec­ti­vi­dade aos dis­po­si­tivos le­gais apro­vados com esse ob­jec­tivo».

En­ca­rada com sa­tis­fação pela ban­cada co­mu­nista foi ainda a pro­posta de cri­ação de um grupo de tra­balho no âm­bito da pri­meira co­missão par­la­mentar (di­reitos, li­ber­dades e ga­ran­tias) com o ob­jec­tivo de acom­pa­nhar a apli­cação dos ins­tru­mentos le­gis­la­tivos agora apro­vados e pro­ceder a uma pri­meira ava­li­ação, após o pri­meiro ano da sua en­trada em vigor.

Do con­junto de me­didas apro­vadas, apenas a so­lução que partiu do PS de al­te­ração ao re­gime geral das ins­ti­tui­ções de cré­dito e so­ci­e­dades fi­nan­ceiras me­receu a abs­tenção do PSD e do CDS, com os votos fa­vo­rá­veis de todas as res­tantes ban­cadas.

CDS que se abs­teve face à so­lução en­con­trada pela Co­missão Even­tual de Acom­pa­nha­mento do fe­nó­meno da cor­rupção, pre­si­dida por Vera Jardim (PS), no que se re­fere ao di­ploma co­mu­nista de der­ro­gação do si­gilo ban­cário.

Todas as res­tantes ma­té­rias foram apro­vadas por una­ni­mi­dade. 


Passos con­cretos


Va­lo­ri­zadas por An­tónio Fi­lipe pelo seu con­teúdo po­si­tivo foram en­tre­tanto al­gumas das pro­postas agora apro­vadas como é o caso da cri­ação, no Có­digo Penal, do tipo de crime de re­ce­bi­mento in­de­vido de van­tagem.

Em sua opi­nião este novo tipo de crime é «um po­de­roso ele­mento de com­bate à im­pu­ni­dade da cor­rupção», uma vez que ao deixar de ser ne­ces­sário provar a re­lação di­recta entre uma van­tagem re­ce­bida e um acto pra­ti­cado, «deixam de ficar im­punes crimes de cor­rupção re­la­ti­va­mente aos quais não é pos­sível de­ter­minar qual o acto con­creto que fun­ci­onou como con­tra­par­tida do acto cor­rup­tivo».

«O alar­ga­mento do con­ceito de fun­ci­o­nário para efeitos pe­nais», pas­sando a abranger quem de­sem­pe­nhar (in­di­vi­du­al­mente ou em pessoa co­lec­tiva) ac­ti­vi­dade do­tada de prer­ro­ga­tivas de poder pú­blico, cons­titui outra das ino­va­ções que jus­ti­fica o aplauso da ban­cada co­mu­nista, que saudou igual­mente a cri­ação da um novo tipo de crime de vi­o­lação de re­gras ur­ba­nís­ticas.

En­ca­rada po­si­ti­va­mente foi ainda a apro­vação de normas no âm­bito do cha­mado «di­reito pre­mial», de in­cen­tivo a que os en­vol­vidos de­nun­ciem a prá­tica dos crimes, be­ne­fi­ci­ando de isen­ções ou ate­nu­a­ções de pena.

Uma re­fe­rência es­pe­cial de An­tónio Fi­lipe me­receu também o alar­ga­mento do elenco dos ti­tu­lares de cargos pú­blicos obri­gados a de­cla­ração de pa­tri­mónio e ren­di­mentos de forma a abranger todos os ti­tu­lares de cargos po­lí­ticos e altos cargos pú­blicos e equi­pa­rados.

Por fim, a me­recer aco­lhi­mento fa­vo­rável, es­teve a cri­ação de uma base de dados de contas ban­cá­rias junto do Banco de Por­tugal a co­locar à dis­po­sição das au­to­ri­dades ju­di­ciá­rias.

 

Con­tri­buto do PCP

 

Vá­rios são os ele­mentos po­si­tivos que re­sultam deste pro­cesso le­gis­la­tivo que visa com­bater a cor­rupção, al­guns dos quais ti­veram origem em pro­postas con­cretas do PCP.

Foi o caso, por exemplo, das pro­postas que alargam o re­gime de pro­tecção de tes­te­mu­nhas aos crimes de burla qua­li­fi­cada e ad­mi­nis­tração da­nosa que cause um pre­juízo con­si­de­ra­vel­mente ele­vado.

Visto como muito po­si­tiva pela ban­cada co­mu­nista foi ainda o aco­lhi­mento à sua pro­posta de quebra do si­gilo ban­cário pela ad­mi­nis­tração fiscal no caso de exis­tência de dí­vidas com­pro­vadas à Se­gu­rança So­cial.

O de­pu­tado An­tónio Fi­lipe não deixou de va­lo­rizar igual­mente a pro­posta de que a ad­mi­nis­tração tri­bu­tária preste ao mi­nis­tério da tu­tela in­for­mação anual de ca­rácter es­ta­tís­tico sobre os pro­cessos em que ocorreu o le­van­ta­mento do si­gilo ban­cário, a re­meter ao Par­la­mento com a apre­sen­tação do Or­ça­mento do Es­tado.

Re­fe­ren­ciada como im­por­tante foi ainda a pro­posta de que as de­cla­ra­ções de ren­di­mentos e pa­tri­mónio dos ti­tu­lares de cargos po­lí­ticos e altos cargos pú­blicos sejam ac­tu­a­li­zadas sempre que ocorram acrés­cimos pa­tri­mo­niais sig­ni­fi­ca­tivos.



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