Entrevista com Francisco Lopes

Uma candidatura com um projecto patriótico e de esquerda

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Fa­lemos agora dos ob­jec­tivos da can­di­da­tura. Im­pedir a re­e­leição de Ca­vaco Silva é um deles?

 

Esta can­di­da­tura é pelo povo por­tu­guês, pelos tra­ba­lha­dores, por Por­tugal. As­senta na es­pe­rança, con­fi­ança e de­ter­mi­nação de que é pos­sível cons­truir um País de pro­gresso. Para que isto se con­cre­tize não é su­fi­ci­ente mas é ne­ces­sário que Ca­vaco Silva não seja re­e­leito.

 

Pelo seu pas­sado como pri­meiro-mi­nistro?

 

Em pri­meiro lugar, pelo seu pas­sado. Não nos po­demos es­quecer que o ac­tual Pre­si­dente da Re­pú­blica é dos res­pon­sá­veis po­lí­ticos mais com­pro­me­tidos com este rumo de afun­da­mento do País pois teve, em 25 anos, as mais altas res­pon­sa­bi­li­dades po­lí­ticas ao longo de 15: dez como pri­meiro-mi­nistro e cinco como Pre­si­dente da Re­pú­blica.

Mas também pelo que re­pre­senta para o fu­turo. A re­e­leição de Ca­vaco Silva sig­ni­fi­caria não apenas a con­ti­nu­ação dos pro­blemas mas o seu agra­va­mento. Olhando para a sua con­so­nância com os in­te­resses da alta fi­nança, dos grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros, da es­pe­cu­lação, per­gun­tamos: que po­derá Ca­vaco Silva adi­antar, nos pró­ximos cinco anos, para res­ponder aos pro­blemas na­ci­o­nais? Será a ma­nu­tenção e agra­va­mento desses pro­blemas. Não passa por ele o con­tri­buto para a re­so­lução dos pro­blemas na­ci­o­nais. Passa, sim, por um pro­jecto al­ter­na­tivo – o pro­jecto da nossa can­di­da­tura.

 

E os res­tantes can­di­datos, não po­derão cons­ti­tuir essa al­ter­na­tiva?

 

O can­di­dato Ma­nuel Alegre, por exemplo, o que re­pre­senta? Qual foi o seu per­curso ao longo das úl­timas dé­cadas? In­ter­ven­ções e pa­la­vras temos ou­vido muitas, mas nos mo­mentos cru­ciais em que se de­cidiu o fu­turo do País, es­teve com a prá­tica po­lí­tica de su­ces­sivos go­vernos do PS. Que, jun­ta­mente com os go­vernos do PSD e CDS, estão na base da si­tu­ação que o País atra­vessa.

E hoje vemos o can­di­dato Ma­nuel Alegre, can­di­dato do PS apoiado pelo BE, com a pre­o­cu­pação de salvar a po­lí­tica do ac­tual Go­verno e a sua con­ti­nui­dade. É com este pro­jecto po­lí­tico que Ma­nuel Alegre se iden­ti­fica, pelo que não vejo que seja al­ter­na­tiva a Ca­vaco Silva. Em as­pectos es­sen­ciais, e in­de­pen­den­te­mente das pa­la­vras, há uma grande iden­ti­fi­cação…

A minha can­di­da­tura, pelo seu pro­jecto pró­prio, as­sume-se como a única capaz de res­ponder às ne­ces­si­dades ac­tuais do País e por isso se di­fe­rencia tanto das can­di­da­turas de Ca­vaco Silva e de Ma­nuel Alegre.

 

O que seria um bom re­sul­tado elei­toral?

 

Essa questão tem sido muitas vezes co­lo­cada, mas tem uma base des­fo­cada. Face a um País de­pen­dente e à ab­di­cação da so­be­rania na­ci­onal e ataque ao re­gime de­mo­crá­tico, esta can­di­da­tura apre­senta uma al­ter­na­tiva e diz: «Basta! Não é pos­sível aceitar mais este rumo!»

E isto é muito mais do que esta ou aquela per­cen­tagem elei­toral, é a apre­sen­tação de uma al­ter­na­tiva, de um novo rumo para o País. Cada voto nesta can­di­da­tura conta e de­cide para a eleição do Pre­si­dente da Re­pú­blica e para abrir ca­minho à mu­dança que é ne­ces­sária.

 

É, então, um pro­cesso que vai muito para lá do dia 23 de Ja­neiro?

 

De 23 de Ja­neiro ou da se­gunda volta... Mas tem uma ex­pressão muito con­creta nas elei­ções pre­si­den­ciais. O ob­jec­tivo que temos é o de res­ponder às ne­ces­si­dades do País e o povo por­tu­guês de­ter­mi­nará a ex­pressão dos votos. A si­tu­ação a que se chegou jus­ti­fica um largo apoio a esta can­di­da­tura de al­ter­na­tiva para Pre­si­dente da Re­pú­blica. Um apoio que quanto mais forte for mais con­tará para abrir o ca­minho que é ne­ces­sário e ur­gente abrir no nosso País.

 

Uma das crí­ticas que temos ou­vido de vá­rios co­men­ta­dores é a de que uma ale­gada dis­persão de votos à es­querda de Ca­vaco Silva seria fa­vo­rável à re­e­leição do ac­tual Pre­si­dente...

 

A nossa can­di­da­tura não di­vide nada, não di­minui nada. Só acres­centa, só mo­bi­liza, só po­tencia. Em pri­meiro lugar porque cada voto na minha can­di­da­tura con­tribui para im­pedir que Ca­vaco Silva seja eleito à pri­meira volta. Mas também porque cada voto nesta can­di­da­tura cor­res­ponde à afir­mação do pro­jecto po­lí­tico pa­trió­tico e de es­querda in­dis­pen­sável ao País.

A questão não é clas­si­ficar, por pal­pite ou inércia, se estas can­di­da­turas são de «es­querda» e aquelas são de «di­reita». Mas ver quem está com­pro­me­tido com o rumo que afundou o País e o con­duziu ao grau de in­jus­tiças so­ciais em que está e quem de facto se opõe a esse rumo. É saber quem cor­po­riza um rumo novo para o País e quem se apre­senta, mesmo com este ou aquele adorno de lin­guagem, para pros­se­guir esse rumo de afun­da­mento. E a res­posta é inequí­voca: olhando para o quadro ac­tual das can­di­da­turas, a minha é a única que não está com­pro­me­tida com este rumo e a única que com­porta um pro­jecto claro de mu­dança para o de­sen­vol­vi­mento e a jus­tiça so­cial em Por­tugal.

 

Que ba­lanço se pode fazer destas pri­meiras se­manas da can­di­da­tura?

 

Es­tamos ainda na fase de ar­ranque, mas há um sen­ti­mento cres­cente de com­pre­ensão da im­por­tância da can­di­da­tura, de apoio e de en­tu­si­asmo. À me­dida que se de­sen­volve a in­ter­venção elei­toral e se tornam co­nhe­cidos os seus ob­jec­tivos, esse mo­vi­mento está a crescer.

Es­tamos numa fase muito di­fícil da vida do País e as Pre­si­den­ciais não estão des­li­gadas de todo o pro­cesso mais amplo de dis­cussão, de acção po­lí­tica, de mo­bi­li­zação po­pular que existe na so­ci­e­dade por­tu­guesa. A nossa can­di­da­tura é, nas elei­ções pre­si­den­ciais, a ex­pressão de um mo­vi­mento de luta, trans­for­mação e cons­trução do fu­turo. E é também neste quadro que esta can­di­da­tura se de­sen­volve e cresce.

 

O es­sen­cial é que a Cons­ti­tuição se cumpra

 

Numa oca­sião, afir­maste que o «pro­grama» da tua can­di­da­tura se po­deria re­sumir no con­teúdo do ju­ra­mento feito pelo Pre­si­dente da Re­pú­blica ao tomar posse, de de­fender, cum­prir e fazer cum­prir a Cons­ti­tuição. Achas que a Cons­ti­tuição, com todas as re­vi­sões que já so­freu, é su­fi­ci­ente como pro­grama?

 

O con­teúdo da minha can­di­da­tura é o que está fir­mado na de­cla­ração de can­di­da­tura, e que está a ser de­sen­vol­vido na sua in­ter­venção quo­ti­diana. Mas disse, e re­a­firmo-o, que nas li­nhas es­sen­ciais aquilo que o País pre­cisa – e que esta can­di­da­tura afirma – está con­sa­grado na Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa. De­fender, cum­prir e fazer cum­prir a Cons­ti­tuição as­se­gura, indo aos seus ele­mentos es­sen­ciais, um pro­cesso de mu­dança pro­funda do País.

As re­vi­sões in­tro­du­ziram pro­fundos golpes e ab­cessos na Cons­ti­tuição, que a li­mitam e con­di­ci­onam. Mas olhando para a Cons­ti­tuição que temos, para a sua ma­triz e pre­ceitos es­sen­ciais, vemos que está ali o cerne do pro­jecto de mu­dança que é ne­ces­sário. De­fender, cum­prir e fazer cum­prir a Cons­ti­tuição é não apenas um ju­ra­mento so­lene do Pre­si­dente da Re­pú­blica mas também, nas cir­cuns­tân­cias ac­tuais, um com­pro­misso com a mu­dança que é ne­ces­sário operar no nosso País.

 

Não deixa de ser cu­rioso que os que de­sejam manter este rumo pre­tendam al­terar a Cons­ti­tuição e os que querem uma mu­dança em Por­tugal a de­fendam...

 

É uma questão in­te­res­sante. Mas o que digo é que a mu­dança não passa apenas por manter a Cons­ti­tuição nos seus traços es­sen­ciais, passa por cumpri-la e por fazê-la cum­prir. Porque esse é o grande pro­blema. Nós temos a Cons­ti­tuição, mas a prá­tica po­lí­tica pros­se­guida tem sido con­trária à Cons­ti­tuição.

Quando se co­loca a questão de al­guns que­rerem sub­verter o texto cons­ti­tu­ci­onal é pre­ciso lem­brar que há outra forma de sub­verter a Cons­ti­tuição, através de uma prá­tica po­lí­tica de des­res­peito pelos seus prin­cí­pios es­sen­ciais. E isto é vi­sível em ques­tões ba­si­lares, como a afir­mação da in­de­pen­dência na­ci­onal e da so­be­rania do povo; a base eco­nó­mica as­sente numa eco­nomia mista; a con­sa­gração de im­por­tantes di­reitos, não apenas po­lí­ticos mas também eco­nó­micos, so­ciais e cul­tu­rais...

Estes são as­pectos es­sen­ciais na afir­mação da Cons­ti­tuição da Re­pú­blica que têm sido des­res­pei­tados pela prá­tica po­lí­tica de su­ces­sivos go­vernos e que estão neste mo­mento no cerne não só dos ob­jec­tivos da sub­versão do texto cons­ti­tu­ci­onal que o PSD apre­senta (e vamos ver como o PS se pro­nuncia em re­lação a eles) como de um con­junto de me­didas do ac­tual Go­verno, com os seus «pa­cotes» contra os tra­ba­lha­dores e o povo.

 



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