Mais Partido para responder à ofensiva
A ruptura com a política de direita e a mudança patriótica e de esquerda de que o povo e o País precisam passa pelo reforço do PCP. Só com mais Partido e maior ligação do colectivo às massas e à luta é possível responder à escalda da ofensiva do capital contra os trabalhadores e a população, concluiu a Assembleia de Organização Regional de Évora (AOREV).
«A Assembleia foi preparada ao ritmo da luta contra a política de direita»
Mais de três centenas de comunistas – dos quais 204 delegados – participaram, Domingo, 24, no Évora Hotel, na discussão do projecto de resolução política e na eleição da nova Direcção Regional do Partido no distrito de Évora.
A reunião magna culminou um amplo e democrático processo de debate colectivo, durante o qual foram realizadas 53 assembleias plenárias envolvendo mais de 550 militantes, informou António Danado em nome da Comissão de Verificação de Mandatos.
A preparação da AOREV estimulou, ainda, a realização de assembleias concelhias, de freguesia e sector, e a programação, até ao final deste ano, de outras semelhantes nas organizações do Partido, notou João Pauzinho, membro do Comité Central do PCP.
Apesar disso, sublinhou igualmente o responsável pela OR Évora na intervenção de abertura, a discussão preliminar não foi tão longe como se pretendia, insuficiência assumida que, no entanto, em nada se sobrepõe aos resultados positivos alcançados, fruto do cumprimento das deliberações da 6.ª AOREV e das conclusões do XVIII Congresso do PCP.
«Creio que podemos dizer que estamos mais fortes!», continuou João Pauzinho exemplificando com os avanços obtidos na estruturação de várias organizações e no seu funcionamento regular; na criação de um conjunto de células de trabalhadores, quer nas autarquias quer em sectores profissionais; na responsabilização de quadros e no recrutamento. «Só no ano de 2010 (e ainda estamos só em Outubro) já recrutámos mais 85 novos camaradas», disse.
Superar obstáculos
«Estamos satisfeitos?», questionou o dirigente comunista. A pergunta deu o mote para uma franca análise da organização do Partido e da sua intervenção.
Parte considerável desta apreciação estava já incluída e fundamentada no projecto de resolução política que vai orientar o trabalho nos próximos anos, mas os militantes que decidiram intervir na Assembleia contribuíram para a sublinhar, manifestando, simultaneamente, entusiasmo e determinação em deitar mãos à obra.
«Mantém-se como lacuna a ligação ao parque industrial, onde laboram cerca de mil trabalhadores», lembrou António Serralha da concelhia de Vendas Novas, opinião partilhada por Vítor Carrasco, de Montemor-o-Novo, para quem «é necessário encontrar mais quadros disponíveis para, no âmbito da campanha “Avante! por um PCP mais forte”, superar as dificuldades no acompanhamento de organizações e no trabalho junto das empresas».
Um maior número de militantes comunistas dispostos a assumir tarefas de fundos (como a recolha de quotização), permitindo aumentar receitas próprias, e a definição por parte de alguns eleitos da sua contribuição para o Partido – cumprindo a orientação de que ninguém deve ser beneficiado ou prejudicado por assumir cargos políticos –, são objectivos a cumprir, notou, por seu lado Emília Cabral.
A necessidade do aumento da difusão do Avante! e de O Militante, instrumentos de informação e formação política e ideológica, também foi referida por vários camaradas, mas num distrito onde mais de um terço da população é idosa e no qual muitos milhares de comunistas intervêm em dezenas de associações de reformados, pensionistas e idosos, é prioritária a consolidação dos colectivos de reformados. «Estruturas orgânicas que assumam a direcção deste sector, desenvolvam a acção partidária de massas e promovam o reforço das organizações unitárias», precisou Raimundo Cabral.
Na mira dos comunistas do distrito de Évora está, também, a superação de obstáculos na intervenção autárquica. A CDU não teme comparações no que diz respeito ao trabalho, honestidade e competência na gestão local. O Alentejo e o distrito de Évora são uma prova disso mesmo.
Quando esta marca distintiva não tem expressão eleitoral (perda de posições para a qual contribui, não raramente, a sabotagem, a mentira, o boicote e as pressões sobre os trabalhadores e a população, como referiram dando exemplos concretos os camaradas José Bicho, de Mourão, e António Coelho, do Alandroal), ocorrem fenómenos de desmotivação no seio do colectivo.
Mas os comunistas e os seus aliados não podem desanimar. Não têm, aliás, razões para se desalentarem, pois ninguém como eles acumula obra em prol das populações e do progresso económico e social; ninguém como eles cumpriu o projecto de poder local democrático de Abril, projecto sem paralelo quer pelo exemplo de gestão participada quer pela defesa intransigente das aspirações locais, mesmo quando o poder central manobra no sentido de transformar as autarquias numa dócil decorrência dos seus interesses de classe, expressou Carlos Pinto de Sá, de Montemor-o-Novo.
Neste sentido, ganham peso as palavras de Jerónimo Loios, de Arraiolos, que considerou que «o facto de termos deixado de ser a principal força autárquica no distrito não deve ser uma barreira, antes deve potenciar a intervenção colectivamente decidida e executada». Por isso é tão importante incutir no colectivo que o PCP, a sua organização e intervenção, se devem manter e aprofundar em todas as dimensões, com coesão e unidade e em quaisquer circunstâncias, aludiu Martinho o camarada, de Viana do Alentejo.
Vamos ao trabalho!
Vincado o diagnóstico e as soluções durante o vivo e fraterno debate ocorrido, e sendo certo que, como lembrou João Pauzinho, «os comunistas sabem que é com a suas forças que têm que contar em todos os momentos», resta levar à prática o sagaz apelo «vamos ao trabalho!».
Trabalho de reforço da organização partidária com primazia para o alargamento e criação de células nas empresas e locais de trabalho, lá onde exploradores e explorados se confrontam numa relação antagónica; de responsabilização de mais quadros garantindo-lhes condições para assumirem e desenvolverem as tarefas que lhes são confiadas; de dinamização da vida política pela intervenção concreta; de alargamento da militância e da iniciativa do colectivo, condição essencial para ligar o Partido às massas e aumentar o seu prestígio, autoridade e influência, como se afirma na resolução política discutida e votada na Assembleia.
Sempre na luta
«As vitórias não nos descansam e as dificuldades não nos desanimam», frisou, Jerónimo de Sousa no encerramento da 7.ª AOREV. A frase sintetiza com acutilância a conduta quotidiana dos comunistas que, no distrito de Évora, pesem as insuficiências reconhecidas, são a poderosa força que nunca vira a cara à luta nem fecha para balanço ou introspecção.
Só assim é possível compreender porque é que a Assembleia foi preparada, como afirmou João Pauzinho, «ao ritmo da denúncia dos atropelos aos direitos de quem trabalha», na afirmação do Partido e das necessárias ruptura e mudança com o actual rumo de declínio nacional.
Durante o período que antecedeu a Assembleia, o PCP esteve com os trabalhadores da TYCO e da KEMET no combate à desvalorização dos salários e carreiras, pela manutenção dos direitos laborais e contra os atropelos do patronato; na primeira linha da oposição ao encerramento das escolas e em defesa da escola pública (com destaque para Borba e Santana do Campo, freguesia do concelho de Arraiolos); na fila da frente da defesa das unidades de saúde (Vendas Novas, Montemor, Redondo, Viana do Alentejo, Alandroal ou Arraiolos) e dos serviços públicos, na luta pela manutenção da coesão territorial (Mora), pelo desenvolvimento e aproveitamento das potencialidades produtivas e contra a desertificação e o abandono.
A Reforma Agrária é mesmo necessária
Três décadas e meia após o início da «mais bela conquista de Abril», os campos do Alentejo estão hoje na posse de um punhado de latifundiários. A situação é dramática e o seu resultado mede-se em milhares de desempregados, no abandono de hectares de terra fértil, na destruição de aparelho produtivo, no subdesenvolvimento e definhamento local, e na erosão e despovoamento do mundo rural. Em face desta tragédia, é necessário uma nova Reforma Agrária «que liquide a propriedade latifundiária e o absentismo», afirmou a AOREV.
Numa moção aprovada por unanimidade, os comunistas notaram ainda que tal permitiria «pôr fim à cultura do subsídio sem correspondência com a produção entregando a terra a quem a trabalha», o que aumentaria a produção agrícola, «único caminho para garantir a soberania alimentar do País».
Propostas para o distrito
Os delegados da AOREV aprovaram, no decurso dos trabalhos, oito propostas do PCP para o Distrito de Évora, cujas, resumidamente, exigem:
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Defesa dos direitos dos trabalhadores, valorização dos salários e das pensões, aumento do poder de compra
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Defesa da produção nacional, promoção do emprego e do crescimento económico
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Políticas sociais de apoio aos desempregados e aos idosos e medidas de combate à pobreza e exclusão social
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Investimento nos serviços públicos e de educação e saúde
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Concretização da regionalização
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Investimento na rede de transportes e comunicações
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Defesa da água pública
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Defesa de uma política democrática