PCP propõe alterações à Lei de Bases do Ambiente

Gestão sustentável dos recursos

En­con­tram-se na co­missão par­la­mentar de Am­bi­ente, para onde bai­xaram há quinze dias, sem vo­tação, por una­ni­mi­dade dos de­pu­tados, as pro­postas de al­te­ração da Lei de Bases do Am­bi­ente apre­sen­tadas pelo PCP, «Os Verdes» e PSD.

 

Go­verno quer áreas pro­te­gidas para pro­jectos de luxo

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Trata-se de al­terar a lei vi­gente, já com 23 anos, adap­tando-a à re­a­li­dade ac­tual onde hoje emergem novas ques­tões e pro­blemas. Nesse sen­tido vai o pro­jecto de lei co­mu­nista, ori­en­tado, todo ele, para ac­tu­a­lizar a Lei de Bases, su­pe­rando ac­tuais des­fa­sa­mentos e aper­fei­ço­ando-a no que res­peita às ques­tões am­bi­en­tais, no­me­a­da­mente em as­pectos como a «vi­gi­lância cli­má­tica, a po­lí­tica de re­dução, reu­ti­li­zação e re­ci­clagem de re­sí­duos, o bem-estar animal, a “pe­gada eco­ló­gica” do in­di­víduo, os pa­drões de con­sumo, o fun­ci­o­na­mento do sis­tema pro­du­tivo e a con­ser­vação da na­tu­reza».

Outro eixo con­dutor no di­ploma do PCP é o que visa ga­rantir o apro­fun­da­mento do pro­jecto cons­ti­tu­ci­onal, con­ju­gando o «de­sen­vol­vi­mento eco­nó­mico com a na­tu­reza e seus ecos­sis­temas», como ob­servou o de­pu­tado co­mu­nista Mi­guel Tiago na apre­sen­tação do seu con­teúdo. Este é o con­tra­ponto à po­lí­tica se­guida por su­ces­sivos go­vernos do PS e do PSD cuja es­sência re­side na «pri­va­ti­zação e mer­can­ti­li­zação da na­tu­reza e dos re­cursos ener­gé­ticos, na­tu­rais, cul­tu­rais e pai­sa­gís­ticos».

 

Pesos di­fe­rentes

 

O es­ta­be­le­ci­mento de re­gras no sen­tido de uma «po­lí­tica de abor­dagem in­te­grada do con­junto das ac­ti­vi­dades hu­manas e dos seus im­pactes na na­tu­reza e vice-versa», vi­sando har­mo­nizar as prá­ticas po­pu­lares, as ac­ti­vi­dades eco­nó­micas e pro­du­tivas e a con­ser­vação da na­tu­reza, cons­titui outro dos as­pectos ino­va­dores con­tidos no pro­jecto de lei do PCP, que, por outro lado, de­fine normas res­pon­sa­bi­li­za­doras do Es­tado e dos pro­pri­e­tá­rios de infra-es­tru­turas que po­nham em pe­rigo ou causem danos a ter­ceiros em re­sul­tado de «al­te­ra­ções dos equi­lí­brios na­tu­rais dos ecos­sis­temas ou dos sis­temas fí­sicos e ge­o­ló­gicos».

Mi­guel Tiago re­cordou a pro­pó­sito os dois pesos e duas me­didas que têm sido se­guidos em termos de po­lí­tica do am­bi­ente pelo ac­tual Go­verno, afas­tando po­pu­la­ções das áreas a pro­teger e pe­na­li­zando com a sua visão proi­bi­ci­o­nista tudo o que sejam ac­ti­vi­dades tra­di­ci­o­nais, ao mesmo tempo que fa­ci­lita e abre portas a pro­jectos de grandes grupos eco­nó­micos, como campos de golfe ou al­de­a­mentos de luxo.

«O tu­rismo de massas, a fruição das ri­quezas na­ci­o­nais por todos, é subs­ti­tuído gra­du­al­mente por um tu­rismo de luxo, fe­chado em grandes ho­téis e al­de­a­mentos, ge­rando lu­cros em cir­cuitos fe­chados nas mãos de um pu­nhado de po­de­rosos que ac­tu­al­mente se apo­dera dos re­cursos na­tu­rais en­dé­micos», su­bli­nhou o de­pu­tado do PCP, es­cla­re­cendo que é para com­bater essa prá­tica que o di­ploma da sua ban­cada in­troduz normas para a «pre­ser­vação das ac­ti­vi­dades lo­cais» e es­ta­be­lece que todos os planos de or­de­na­mento das áreas pro­te­gidas in­cor­porem um pro­grama de de­sen­vol­vi­mento e in­ves­ti­mento re­gi­onal onde haja lugar à com­pen­sação das po­pu­la­ções pela li­mi­tação dos di­reitos que lhes é im­posta pela po­lí­tica de con­ser­vação das na­tu­reza.

Mi­guel Tiago, pondo o dedo na fe­rida, des­montou ainda a hi­po­crisia de quantos, como o PSD e o PS, fin­gindo pre­o­cupar-se com o am­bi­ente, acham que a des­truição am­bi­ental e a sobre-ex­plo­ração de re­cursos se re­solve com o pa­ga­mento de taxas ou a apli­cação do prin­cípio uti­li­zador-pa­gador. É que aí re­side, afinal, um vector chave da visão mer­can­ti­lista que é in­trín­seca ao ca­pi­ta­lismo – e este, em busca sempre do lucro má­ximo, não olha a meios quando se trata de ex­plorar os re­cursos e ri­quezas na­tu­rais.

 

Ino­vador e am­bi­cioso

São vá­rias as me­didas ino­va­doras pre­co­ni­zadas pelo PCP no seu di­ploma que revê a Lei de Bases do Am­bi­ente. Tra­zendo novas ques­tões à re­flexão, so­bres­saem, de entre elas, a se­gu­rança am­bi­ental e a «pre­venção, mi­ti­gação e adap­tação aos riscos e com­pen­sação por danos», ori­gi­nados ou re­la­ci­o­nados com ca­tás­trofes na­tu­rais. A se­gu­rança ali­mentar é outra das áreas a mo­tivar uma atenção par­ti­cular no ar­ti­cu­lado do pro­jecto de lei, como é também o travar da pri­va­ti­zação ou con­cessão de ta­refas fun­da­men­tais do Es­tado na con­ser­vação da na­tu­reza, na gestão dos re­cursos hí­dricos e no or­de­na­mento do ter­ri­tório.

Des­taque igual­mente para as ino­va­ções in­tro­du­zidas em planos como a pro­tecção da ge­o­di­ver­si­dade, a li­mi­tação de prá­ticas que im­pli­quem so­fri­mento de seres vivos sen­ci­entes, e de con­di­ções le­gais para o ha­bitat hu­mano que har­mo­nizem a de­fesa am­bi­ental com as ac­ti­vi­dades sócio-eco­nó­micas.

 



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