Estudantes voltam hoje à rua
A Confederação de Estudantes do Chile (Confech) descartou participar na mesa de diálogo proposta pelo governo e confirmou para hoje uma nova greve nacional com o objectivo de demonstrar que os alunos não abdicam das suas reivindicações.
«O objectivo dos estudantes é reconquistarem a educação como direito social»
No final de uma assembleia realizada domingo, na cidade de Concepción, a presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile e dirigente da Confech, Camila Vallejo, sublinhou que «de nada nos serve comparecer à mesa de diálogo quando o governo já demonstrou não estar disposto a responder às exigências fundamentais [dos alunos]».
Vallejo referia-se às declarações do presidente do Chile, Sebastián Piñera, que, na quinta-feira da semana passada, reiterou a orientação que norteia o seu executivo, afirmando que «nada é grátis nesta vida, alguém tem de pagar». Piñera acusou ainda os estudantes de serem «extremistas e intransigentes».
Acresce que, para aplacar os protestos juvenis e o conflito aberto com toda a comunidade educativa do país, o governo procura remendar a sua política para o sector propondo o aumento do financiamento dos créditos a 110 mil estudantes e o rebaixamento em 1,7 pontos percentuais na taxa de juro que os bancos privados cobram com o aval do Estado.
Tais propostas, dizem os discentes dos vários níveis de ensino, estão longe das suas reivindicações, as quais, reiteraram no plenário de organizações ocorrido durante o fim-de-semana, continuam a ser a garantia do direito à educação pública, gratuita e de qualidade e o seu reconhecimento na Constituição, a passagem da gestão escolar para a administração central e a proibição do lucro nas universidades.
Neste contexto, as organizações estudantis mantiveram a convocatória de uma greve nacional a realizar hoje, em todo o país, e anunciaram a mobilização para a paralisação agendada pelo movimento sindical chileno, prevista para os próximos dias 24 e 25 de Agosto.
Problema de fundo
Paralelamente à reunião, a dirigente Camila Vallejo explicou aos órgãos de comunicação social que a crise em que está mergulhado o sistema educacional radica na reimplantação do modelo de mercado capitalista vigente durante a ditadura de Augusto Pinochet.
Apesar da reconquista de certas liberdades democráticas, a educação no Chile permanece como há 21 anos, considerou Camila Vallejo antes de explicar que o objectivo dos estudantes é reconquistarem a educação como direito social, assegurando o acesso sem discriminação ao conhecimento e à qualificação.
Para a dirigente, o modelo em vigor no ensino superior, por exemplo, subjuga os alunos e as suas competências aos interesses privados, quando, pelo contrário, devia subordinar-se aos projectos de desenvolvimento do país visando o bem estar geral do povo.