Recrutamento de pessoal dirigente da Administração

Saciar clientelas

A mai­oria PSD/​CDS-PP aprovou sexta-feira pas­sada, em vo­tação final global, a pro­posta de lei que al­tera o es­ta­tuto do pes­soal di­ri­gente da Ad­mi­nis­tração Pú­blica. Anun­ci­adas pelos par­tidos da co­li­gação go­ver­na­mental com o in­tuito de pôr cobro às «no­me­a­ções po­lí­tico-par­ti­dá­rias», as al­te­ra­ções, não obs­tante uma muita li­geira me­lhoria re­la­ti­va­mente ao quadro an­te­rior, não pas­saram de show-off para dis­si­mular a con­ti­nu­ação da mesma prá­tica cli­en­telar que antes ha­viam cri­ti­cado no exe­cu­tivo do PS.

«Hoje, é o PSD e o CDS-PP que querem sa­ciar os seus apa­re­lhos par­ti­dá­rios. Hoje, é o Go­verno PSD/​CDS-PP que apre­senta um di­ploma que mantém as ex­cep­ções e os al­ça­pões que per­mitem no­me­a­ções para mais de 50 por cento da Ad­mi­nis­tração Pú­blica e só a “gula” ou a von­tade de “chegar ao pote” jus­ti­ficam estas op­ções», sa­li­entou o de­pu­tado co­mu­nista Jorge Ma­chado, no dia 15 de Ou­tubro, aquando da apre­ci­ação do di­ploma na ge­ne­ra­li­dade.

Lem­brou então a este res­peito que também o PS em 2005 fi­zera juras de mo­ra­lizar a Ad­mi­nis­tração Pú­blica, pro­me­tendo acabar com a no­me­ação dos di­ri­gentes em função do cartão par­ti­dário. Que pas­saria a ser por con­curso e em função do «mé­rito» e da «com­pe­tência», dizia. Pa­la­vras ocas que não ti­veram qual­quer cor­res­pon­dência efec­tiva, uma vez que a al­te­ração apro­vada ad­mitia afinal uma ex­cepção que veio a per­mitir que mais de 50 por cento dos lu­gares de topo da Ad­mi­nis­tração fossem ocu­pados por gente no­meada e não por con­curso.

Ora é exac­ta­mente isso que volta a su­ceder, num des­men­tido claro às ga­ran­tias de «des­par­ti­da­ri­zação» ins­critas no pro­grama do PSD, aos fo­ga­chos ora­tó­rios do mi­nistro Mi­guel Relvas quanto a uma «nova pá­gina na função pú­blica», às de­cla­ra­ções elo­quentes do pri­meiro-mi­nistro as­se­gu­rando que os es­co­lhidos não serão «amigos, co­legas, pa­rentes» mas sim «os mais com­pe­tentes».

 

En­ganar as pes­soas

 

Foram estes factos, antes por si lem­brados, que le­varam Jorge Ma­chado a con­cluir ser esta «uma acção de pro­pa­ganda para en­ganar as pes­soas, cri­ando a ilusão de que o Go­verno quer al­terar as re­gras de no­me­ação dos altos cargos di­ri­gentes da Ad­mi­nis­tração Pú­blica».

Com efeito, es­pe­ci­ficou, o texto le­gis­la­tivo agora apro­vado per­mite no­me­a­ções para os cargos de di­recção su­pe­rior e in­ter­média das forças ar­madas e forças de se­gu­rança, para os ór­gãos de gestão dos es­ta­be­le­ci­mentos de en­sino, para os ór­gãos de gestão dos es­ta­be­le­ci­mentos do sector pú­blico ad­mi­nis­tra­tivo de saúde, para os cargos no Mi­nis­tério dos Ne­gó­cios Es­tran­geiros, nos ins­ti­tutos pú­blicos e para as en­ti­dades pú­blicas em­pre­sa­riais do Es­tado.

Por ou­tras pa­la­vras, «com esta norma, mais de 50 por cento da ac­ti­vi­dade da Ad­mi­nis­tração Pú­blica fica su­jeita às re­gras de no­me­ação e não de con­curso, como o Go­verno quer fazer crer», de­nun­ciou o par­la­mentar do PCP.

Outro ponto a me­recer a sua crí­tica é o que se re­fere à co­missão de re­cru­ta­mento e se­lecção do pes­soal di­ri­gente.

Cum­pridas estas fases com­pete ao júri do con­curso ela­borar uma lista dos três can­di­datos com o me­lhor perfil, mas é de­pois ao membro do Go­verno com o poder de di­recção ou de su­pe­rin­ten­dência e tu­tela sobre o ser­viço ou órgão a que se des­tina o con­curso que cabe a de­cisão final, ou seja es­co­lher e de­signar quem fica no lugar.

In­com­pre­en­sível, do ponto de vista do PCP, é ainda o re­curso a can­di­datos sem vín­culo à Ad­mi­nis­tração Pú­blica, quando é certo que não faltam «pes­soas ca­pazes e com­pe­tentes para de­sem­pe­nhar as fun­ções dentro dos ser­viços».


O apelo do «pote»


 

No plano das no­me­a­ções par­ti­dá­rias – os ce­le­bri­zados «jobs for de the boys» com que An­tónio Gu­terres pro­meteu há uns anos acabar – são de­ma­siado ób­vias as se­me­lhanças entre PS, PSD e CDS-PP. Mas não é apenas na sua «ânsia e sede de chegar ao ”pote”», que há dé­cadas mina a Ad­mi­nis­tração Pú­blica, que se en­con­tram os pontos em comum entre aqueles três par­tidos.

Jorge Ma­chado lem­brou al­guns desses traços de iden­ti­dade con­ver­gentes, apon­tando, por exemplo, o fa­moso PRACE criado pelo PS para des­truir e pri­va­tizar ser­viços pú­blicos fun­da­men­tais, cujas pi­sadas com os mes­mís­simos ob­jec­tivos é agora se­guida pelo PSD através do PREMAC.

E se o PS criou o quadro dos su­pra­nu­me­rá­rios, para des­pedir, o PSD e o CDS-PP não he­sitam em dar-lhe con­ti­nui­dade com re­no­vado vigor.

De­pois de verem os seus sa­lá­rios cor­tados pelo PS, a pre­texto de que eram «pri­vi­le­gi­ados», os tra­ba­lha­dores da Ad­mi­nis­tração Pú­blica voltam a ser gol­pe­ados, agora pela mão do Go­verno PSD/​CDS-PP, que es­tende o ataque a todos os tra­ba­lha­dores em nome do com­bate à dí­vida e ao dé­fice.

 



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