Aprovado diploma do PCP sobre prescrição por princípio activo

Em defesa dos utentes e do Estado

A As­sem­bleia da Re­pú­blica aprovou, na ge­ne­ra­li­dade, com os votos fa­vo­rá­veis de todas as ban­cadas (à ex­cepção do PS, que se abs­teve) o pro­jecto de lei do PCP que ins­titui a pres­crição por De­no­mi­nação Comum In­ter­na­ci­onal (DCI).

Há ga­nhos para os utentes e para o Es­tado

Ou­tras ini­ci­a­tivas le­gis­la­tivas sobre a mesma ma­téria do Go­verno, BE e PS me­re­ceram também a apro­vação dos de­pu­tados, bai­xando à co­missão para de­bate na es­pe­ci­a­li­dade.

Com este pro­cesso le­gis­la­tivo que visa adoptar como regra no Ser­viço Na­ci­onal de Saúde a pres­crição por prin­cípio ac­tivo, in­cluindo no am­bu­la­tório, ainda que se es­teja longe da le­gis­lação ideal, não deixa de ser um avanço me­re­cedor de aplauso, so­bre­tudo para quem, como o PCP, há mais de dez anos luta por este ob­jec­tivo.

Esse foi um as­pecto desde logo des­ta­cado pelo líder par­la­mentar do PCP «quando o ob­jec­tivo é justo, vale sempre a pena», frisou , a quem não restam dú­vidas sobre as van­ta­gens de ins­ti­tuir esta regra, quer para os utentes quer para o Es­tado.

O mi­nistro da Saúde, Paulo Ma­cedo, neste par­ti­cular, pro­nun­ciou-se no mesmo sen­tido, afir­mando que não era pos­sível es­perar mais por um me­dida que se tra­du­zirá numa «sig­ni­fi­ca­tiva pou­pança» para os ci­da­dãos.

O fu­turo o dirá. Seja como for, e sendo in­ques­ti­o­nável que é «uma me­dida po­si­tiva se bem apli­cada», como ob­servou Ber­nar­dino So­ares, a ver­dade é que não com­pensa tudo o que de ne­ga­tivo foi feito nos úl­timos anos aos utentes do SNS em ma­téria de po­lí­tica do me­di­ca­mento, «nem tudo aquilo que este Go­verno quer con­ti­nuar a fazer em ma­téria de trans­fe­rência de custos para os utentes».

O pre­si­dente da for­mação co­mu­nista chamou ainda a atenção para o facto de a pres­crição por DCI, po­dendo ser «um ins­tru­mento im­por­tante e útil» (con­tri­buindo no­me­a­da­mente para uma po­lí­tica do me­di­ca­mento mais ra­ci­onal e para uma me­lhor uti­li­zação dos re­cursos pú­blicos), não ser por si só «a va­rinha má­gica que vai re­solver todos os pro­blemas da po­lí­tica do me­di­ca­mento».

Ber­nar­dino So­ares não deixou de re­co­nhecer, pa­ra­le­la­mente, que a pro­posta tem com­ple­xi­dades, su­bli­nhando porém que estas «devem ser en­fren­tadas e re­sol­vidas», tanto mais que já hoje na pres­crição hos­pi­talar é por DCI que «tudo se pro­cessa e não há re­gisto de ne­nhum pro­blema».

Igual­mente evi­dente, para o PCP, é a po­sição de que «não se pode des­qua­li­ficar o papel do In­farmed». «Não se pode dizer que há uma au­to­ri­dade do me­di­ca­mento que es­ta­be­lece pa­drões de qua­li­dade e de bi­o­dis­po­ni­bi­li­dade para os me­di­ca­mentos e de­pois quando se chega à dis­cussão da pres­crição por DCI, aqui d´el rei que não há qua­li­dade e bi­o­dis­po­ni­bi­li­dade dos me­di­ca­mentos com os mesmos prin­cí­pios ac­tivos», anotou o líder par­la­mentar, ad­ver­tindo que assim «não pode ser».

 

Não ceder a in­te­resses

 

É sa­bido que na área do me­di­ca­mento não há me­dida que seja neutra, como ne­nhuma é in­di­fe­rente aos po­de­rosos in­te­resses eco­nó­micos exis­tentes no sector. Agora o que o Es­tado não pode é con­di­ci­onar a sua po­sição em razão desses fac­tores. «Pre­ci­samos de ter a me­lhor po­lí­tica para o Es­tado e para os utentes e isso é que deve ser per­se­guido pelas ini­ci­a­tivas le­gis­la­tivas», su­bli­nhou Ber­nar­dino So­ares.

Para o líder par­la­mentar do PCP, im­porta ao mesmo tempo as­se­gurar que a li­ber­dade con­fe­rida ao utente para es­co­lher o me­di­ca­mento mais ba­rato não seja «apri­si­o­nada por quem vende o me­di­ca­mento».

En­fa­ti­zada pela ban­cada co­mu­nista foi também a ideia de que não está em causa o «di­reito ex­clu­sivo e ina­li­e­nável» dos mé­dicos à pres­crição. «Isso deve ser pre­ser­vado», de­fendeu Ber­nar­dino So­ares, que res­salvou con­tudo a di­fe­rença que em sua opi­nião existe «entre o di­reito à ex­clu­si­vi­dade na pres­crição e a es­colha de uma ou outra marca do me­di­ca­mento».

Esse é o ponto, aliás, que tem se­pa­rado o PCP de ou­tros par­tidos e dos go­vernos, que sis­te­ma­ti­ca­mente re­jei­taram a pres­crição por DCI.

Como foi dito, há que res­peitar a pres­crição mé­dica, ga­ran­tindo nas si­tu­a­ções em que há bi­o­e­qui­va­lência e bi­o­dis­po­ni­bi­li­dade que seja in­di­fe­rente qual o me­di­ca­mento que é usado. «Quando há ra­zões fun­dadas e de­vi­da­mente cir­cuns­critas para que não seja assim, então, como ob­servou Ber­nar­dino So­ares, deve ad­mitir-se que a «pres­crição tenha também a marca», mas esta deve ser a ex­cepção e não a regra»

 



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