Mobilização contra salários em atraso

O mês não espera

As pro­messas das em­presas não servem para pagar contas, pelo que só resta aos tra­ba­lha­dores mo­bi­li­zarem-se e lu­tarem para re­ce­berem a tempo e horas a re­mu­ne­ração de­vida pelo tra­balho feito.

Não pagar é também meio de pres­si­onar para des­pedir

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Até 25 de Abril, os 215 tra­ba­lha­dores da Santa Casa da Mi­se­ri­córdia de Chaves es­peram re­ceber dois dos seis meses de sa­lá­rios em dí­vida, in­formou um di­ri­gente do Sin­di­cato do Co­mércio, Es­cri­tó­rios e Ser­viços, na terça-feira, 10. De­corria o se­gundo dia de greve, com uma adesão de 85 por cento e ma­ni­fes­tação nas ruas da ci­dade, e Jorge Pinto voltou a des­tacar que estão a ocorrer «dramas ter­rí­veis». Além da exi­gência de pa­ga­mento de dois meses, num prazo de duas se­manas, é exi­gida ainda a li­qui­dação gra­dual da res­tante dí­vida. «Se a si­tu­ação não se re­solver, iremos marcar um novo pro­testo», disse à agência Lusa o co­or­de­nador da re­gião Norte do CESP/​CGTP-IN.

No início da greve, o sin­di­cato as­si­nalou a so­li­da­ri­e­dade da po­pu­lação e o ele­vado es­pí­rito pro­fis­si­onal dos tra­ba­lha­dores em luta (ga­ran­tindo os ser­viços im­pres­cin­dí­veis aos utentes), e re­clamou a in­ter­venção de todas as en­ti­dades que têm res­pon­sa­bi­li­dades na ac­tual si­tu­ação.

No dia 16, a Co­missão Con­ce­lhia de Chaves do PCP ex­pressou so­li­da­ri­e­dade aos tra­ba­lha­dores, opôs-se a quais­quer ten­ta­tivas de co­acção e re­clamou total trans­pa­rência na si­tu­ação fi­nan­ceira da Mi­se­ri­córdia, com­pro­me­tendo-se a co­locar o pro­blema na As­sem­bleia da Re­pú­blica.

A Mo­ve­A­veiro voltou a não pagar os sa­lá­rios de Março no dia 20, es­ti­pu­lado no Acordo de Em­presa, nem na pri­meira se­mana de Abril. «Nunca ti­vemos um atraso tão grande», disse à Lusa, no dia 5, um di­ri­gente do STAL/​CGTP-IN, acres­cen­tando que o AE também não foi res­pei­tado em Ja­neiro e em Fe­ve­reiro. «Pelos vistos, temos de voltar à luta», ad­mitiu Jaime Fer­reira, evo­cando as su­ces­sivas greves re­a­li­zadas em 2011.

A Ce­râ­mica de Va­la­dares não cum­priu a anun­ciada re­toma da la­bo­ração, nem no dia 9, nem no dia 16, e con­tinua a dever o sa­lário de Março. Os tra­ba­lha­dores mantêm-se alerta, en­quanto o PCP aponta a con­tra­dição entre a fa­ci­li­dade com que o banco pú­blico con­cedeu cré­dito ao Grupo José de Mello para a es­pe­cu­lação fi­nan­ceira, mas não des­blo­queia uma verba muito in­fe­rior para a compra de ma­té­rias-primas e a re­gu­la­ri­zação dos sa­lá­rios nesta em­presa, com en­co­mendas e pes­soal es­pe­ci­a­li­zado.

No início do mês, os tra­ba­lha­dores da fá­brica de cal­çado Ma­riano, em São João da Ma­deira, re­cu­saram-se a ir de fé­rias na se­mana se­guinte e de­ci­diram per­ma­necer à porta das ins­ta­la­ções en­cer­radas. Uma di­ri­gente sin­dical ex­plicou à Lusa que foi exi­gido o pa­ga­mento do sa­lário de Fe­ve­reiro, em atraso, e a an­te­ci­pação da se­mana de fé­rias (para coin­cidir com as fé­rias es­co­lares). A em­presa apenas pagou meio sa­lário.

Após um pe­ríodo de fé­rias, os 34 tra­ba­lha­dores da La­ran­jinha, em Sines, de­pa­raram-se no dia 9 com as ins­ta­la­ções en­cer­radas. Na tarde do dia se­guinte, a ge­rência reuniu os tra­ba­lha­dores para lhes dar um papel que ser­viria para o fundo de de­sem­prego. O Sin­di­cato da Ali­men­tação, Be­bidas e Ta­bacos acusou a em­presa de estar a pra­ticar lock-out e apre­sentou queixa à ACT. Uma di­ri­gente do Sintab/​CGTP-IN disse à agência Lusa que os tra­ba­lha­dores não re­ce­beram os sa­lá­rios de Março nem o sub­sídio de fé­rias de 2011.

Com três meses de sa­lá­rios em atraso, bem como o sub­sídio de fé­rias e as in­dem­ni­za­ções por des­pe­di­mento, os tra­ba­lha­dores do Solar da Rede, em Mesão Frio, avan­çaram para tri­bunal, re­cla­mando o ar­resto dos vi­nhos, cubas, má­quinas e re­cheio do edi­fício prin­cipal e da adega. Esta foi se­lada no dia 12, in­formou a agência Lusa, re­cor­dando que os tra­ba­lha­dores e o hotel de cinco es­trelas per­ten­ciam ao Grupo Carlos Sa­raiva, alvo de um pro­cesso de «sa­ne­a­mento fi­nan­ceiro» di­ri­gido pelos bancos Mil­le­nium, Po­pular e Es­pí­rito Santo. Em No­vembro, o pes­soal as­sinou novos con­tratos com a Em­presa de Ex­plo­ração Agrí­cola, que dizem agora ig­norar a quem per­tence.

Em uni­dades deste Grupo CS no Al­garve também se vive o drama dos sa­lá­rios em atraso. O mais re­cente pro­testo dos tra­ba­lha­dores ocorreu no dia da greve geral, junto ao hotel São Ra­fael Atlantic, no con­celho de Al­bu­feira. O pro­blema foi co­lo­cado na AR pelo de­pu­tado do PCP por Faro, Paulo Sá, numa per­gunta a que o Go­verno res­pondeu dia 12, re­me­tendo para a acção ins­pec­tiva da ACT. Esta con­firmou a falta de pa­ga­mento pon­tual da re­tri­buição e falta de co­mu­ni­cação es­crita de trans­missão de es­ta­be­le­ci­mento e terá en­ca­mi­nhado os tra­ba­lha­dores para os tri­bu­nais com­pe­tentes.



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