Cidade sem muros nem ameias

Bruno Carvalho

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Aos primeiros acordes da Carvalhesa, milhares de jovens lançam-se em corrida para o palco 25 de Abril. Vêm de todos os espaços da Festa do Avante! para não perder aquela que é uma das músicas tradicionais mais acarinhadas pela juventude. É assim todos os anos. Mas se é certo que os jovens tomaram, uma vez mais, a Festa como sua, a Cidade da Juventude não deixou de ser, também este ano, palco privilegiado para o convívio e a participação.

Esta cidade de ferro, madeira e tela foi construída com o mesmo suor e o mesmo compromisso daqueles que durante todo o ano estiveram à frente das lutas que se travaram contra a violenta agressão política e económica a que também os jovens portugueses estão sujeitos. Não é difícil, pois, que se sinta em casa quem na empresa ou na escola vive tudo aquilo que a JCP denuncia e combate.

Os murais decorativos, os debates, a exposição e os materiais da banca fizeram deste espaço, sem muros nem ameias, um espelho da realidade que os jovens são chamados a transformar. Foi neste espaço de resistência contra a apatia e o conformismo que milhares viveram durante três dias na Cidade da Juventude.

Os valores de Abril são o futuro da juventude

Quem chegasse ao palco 25 de Abril, vindo da Medideira, não ficaria indiferente ao lema que a JCP tomou. À cabeceira da Cidade da Juventude, lia-se: «Os valores de Abril são o futuro da juventude». Mais do que uma reivindicação, esta constatação reforça a ideia de que as transformações por que se luta não podem ser alheias à revolução. A obra dos jovens de ontem, alvo da contra-revolução durante quase quatro décadas, é referência para os jovens comunistas de hoje.

Dentro do espaço, a decoração não deixava margem para dúvidas. A Festa do Avante! não é um festival promovido por grandes empresas mas um evento ímpar no panorama político-cultural do país. Dos murais contra os estágios não remunerados à defesa do ensino profissional de qualidade, passando pela exigência do desporto de Abril, gratuito para todos, até à consigna «o passe escolar não é para cortar», ficava patente que quando o povo não é mudo as paredes devem falar.

E a quem não percebesse donde vem toda aquela alegria de viver e de lutar bastar-lhe-ia ler as palavras de Álvaro Cunhal gravadas numa das laterais do espaço. Àqueles jovens que vieram de todo o país para construir e garantir o funcionamento da Cidade da Juventude, move-os «a profunda convicção de que é justa, empolgada e invencível» a causa por que lutam.

E porque sem organização revolucionária não há acção revolucionária, a JCP não deixou de usar o espaço da Cidade da Juventude para promover o XII Encontro Nacional do Ensino Secundário e a XIV Conferência Nacional do Ensino Superior que se realizam a 17 de Novembro, em Lisboa.

Também na exposição política os jovens comunistas quiseram destacar o que os distingue de outras organizações e sublinhar as lutas que se têm travado um pouco por todo o país. Para além do papel da JCP, do seu carácter como organização revolucionária de juventude, da luta pela paz e contra a guerra, o 20.º aniversário do Agit foi um dos temas centrais.


20 anos a agitar

Por trás de Ana Carolina Ambrósio, na banca de materiais políticos, muitas das capas que deram rosto ao Agit decoram o espaço. A dirigente da JCP explica que no 20.º aniversário do jornal importava mostrar boa parte do património de luta que se divulgou através daquela publicação. Este ano, o Agit não só cumpriu 20 anos de existência como chegou à 100.ª edição.

Por isso, a jovem comunista explica que a organização preparou uma linha gráfica diferente para o próximo número. Nos próximos meses, o Agit vai estar renovado e a JCP vai fazer uma campanha especial para promover este importante instrumento de agitação e propaganda para as lutas que se avizinham.

A meio das perguntas e respostas, quando Ana Carolina Ambrósio descreve a venda nas escolas e empresas e o interesse dos visitantes da Festa pelo jornal, dois militantes da JCP informam-na que o Agit acaba de esgotar.

Também os restantes materiais são vendidos com facilidade. Principalmente, três t-shirts: «Faz-me festas mais avante», «O sonho tem Partido» e «Vão para a troika que vos pariu».

Debater com os visitantes da Festa

À conversa com Luís Pinheiro, bracarense e estudante da Universidade do Minho, percebe-se que é importante para a JCP o contacto com os jovens e a sua participação. Nos debates que se realizaram, sábado e domingo, optou-se por abordar temas como a escola pública e gratuita, o combate ao desemprego e à precariedade, por trabalho com direitos, e a importância da juventude tomar partido, com a JCP e o PCP.

O dirigente comunista explicou que os debates correram bem e que foram participados. Dois dos objectivos traçados foram cumpridos, o de ouvir a opinião de jovens que não pertencem à JCP e o de desmistificar as ideias fabricadas pelos meios de comunicação sobre os comunistas.

É também com essa ideia que fica quem assistiu aos vários debates. Num deles, uma estudante do ensino profissional denunciava as condições com que se depara e perguntava qual a posição da JCP sobre o tema. Noutro, um trabalhador-estudante, militante da JCP, explicava que trabalhou para pagar o Ensino Secundário e que agora, a receber dois euros à hora, não tem condições para pagar o Ensino Superior.

A verdade é que quem não tenha assistido a um debate político organizado pela JCP pode estranhar a sintonia entre as palavras de quem introduz os temas e as de quem, a partir de fora, os debate. É que a linguagem de quem vive a mesma realidade que a esmagadora maioria dos jovens portugueses não poderia ser diferente.

Luís Pinheiro explica que é desse ambiente de cumplicidade que surge a vontade de muitos visitantes de ajudar nos turnos e que se sustenta boa parte da constatação de que não há festa como esta.

Brigadas de Contacto

As já conhecidas Brigadas de Contacto da JCP deslocaram-se também este ano a vários pontos da Festa para conversar com os jovens visitantes. Luís Pinheiro explica o êxito da iniciativa. Dividem-se vários grupos que abordam quem circula pelo recinto e descrevem por que luta e como luta a JCP. O facto é que ninguém fica indiferente à capacidade de organizar e construir de todos os que ergueram a Festa.

Este ano, continua o jovem comunista, contactou-se mais gente e o aprofundamento desta frente de trabalho traduziu-se em recrutamentos e contactos de novos e futuros militantes, oxigénio para a organização e para a luta de massas.


Por Abril, contra a troika, tocar é lutar

 

Perante a ofensiva de direita que cerceia o direito dos jovens à fruição e produção artística, o Palco Novos Valores assume-se, infelizmente, cada vez mais como uma excepção no panorama musical português. Depois da promoção e divulgação de cerca de 200 bandas em mais de 40 eliminatórias em todo o País, pode-se dizer que a JCP faz pela música mais do que o Governo e muitas autarquias.

Nove bandas apuradas deram cor e música à Cidade da Juventude: Queen Captain Among the Sailors, El Coyote, Blackjack, Pas de Probleme, Livin’ Paradies, Mendigos e Ladrões, Homem de Marte e os Invasores, Capitão Ortense e Smoking Beer. Para além destes grupos, tocaram os convidados Crossed Fire e Tribruto.

Mas a arte também tomou conta do Palco Multiusos que foi cenário de uma demonstração de grafitti, de vários espectáculos com tunas e dj’s, karaoke e um workshop de percussão.



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