Depoimento de Ultan Gillen
no XIX Congresso do PCP *

Reconstruir a esquerda

si­tu­ação na Re­pú­blica da Ir­landa é di­fícil mas também com­porta opor­tu­ni­dades para o avanço da luta po­pular. Há 25 anos que o mo­vi­mento sin­dical está com­pro­me­tido com a con­cer­tação so­cial. Mas, hoje, as di­rec­ções sin­di­cais sentem uma cres­cente pressão das bases, que exigem o fim da co­la­bo­ração com o go­verno e com as po­lí­ticas de aus­te­ri­dade.

No en­tanto, a cons­ci­ência de classe está ainda muito abaixo do que seria ne­ces­sário. As ma­ni­fes­ta­ções or­ga­ni­zadas pelos par­tidos de es­querda são pouco par­ti­ci­padas, em con­tra­par­tida, os sin­di­catos con­se­guem mo­bi­lizar de­zenas de mi­lhares de pes­soas.

Deste modo é fun­da­mental para a in­ten­si­fi­cação da luta de massas que os tra­ba­lha­dores con­vençam as di­rec­ções sin­di­cais a ra­di­ca­li­zarem as suas po­si­ções, uma vez que, na Re­pú­blica da Ir­landa, os sin­di­catos são as únicas or­ga­ni­za­ções com ver­da­deira ca­pa­ci­dade de mo­bi­li­zação.

Na Ir­landa do Norte, a ofen­siva so­cial é menos acen­tuada, dado que os cortes im­postos por Lon­dres são ad­mi­nis­trados lo­cal­mente pelo go­verno de Bel­fast. As me­didas anti-so­ciais são assim menos drás­ticas, em­bora, no plano eco­nó­mico, as únicas me­didas de re­lan­ça­mento sejam re­du­ções e be­ne­fí­cios fis­cais às grandes cor­po­ra­ções, como forma de atrair o ca­pital trans­na­ci­onal.

É hoje uma evi­dência que a po­lí­tica de aus­te­ri­dade fa­lhou, no que res­peita ao ob­jec­tivo do re­lan­ça­mento da eco­nomia. Apesar disso, a única opção que é ofe­re­cida pelos prin­ci­pais par­tidos po­lí­ticos é mais aus­te­ri­dade. Isto irá manter-se, in­de­pen­den­te­mente de o par­tido que ga­nhar as pró­ximas elei­ções ser o Fi­anna Fail, o Fine Gael ou os tra­ba­lhistas.

Nas úl­timas elei­ções le­gis­la­tivas, em Fe­ve­reiro de 2011, o Fi­anna Fail so­freu uma pe­sada der­rota e o Sinn Féin e os tra­ba­lhistas es­ti­veram mais perto que nunca de po­derem formar um go­verno de es­querda (es­querda em sen­tido amplo), que seria o pri­meiro na his­tória da Ir­landa.

O nosso par­tido con­si­dera que é pre­ciso in­vestir na eco­nomia e criar em­pregos es­tá­veis e de qua­li­dade nas duas partes da Ir­landa. Para isso é pre­ciso re­jeitar o acordo com a «troika», usar os re­cursos do país para de­sen­volver a eco­nomia, de­sig­na­da­mente a ex­plo­ração das grandes re­servas de pe­tróleo, que foram des­co­bertas ao largo da costa ir­lan­desa.

Pen­samos que com o di­nheiro desse pe­tróleo é pos­sível au­mentar o nível de in­de­pen­dência eco­nó­mica, o que cons­titui um pri­meiro passo no ca­minho para o so­ci­a­lismo.

Para nós, a so­lução passa pela rup­tura com o sis­tema. O pro­grama do Par­tido dos Tra­ba­lha­dores da Ir­landa pre­co­niza a cons­trução do so­ci­a­lismo, me­di­ante vá­rias fases, que im­plicam um en­vol­vi­mento cres­cente do Es­tado na eco­nomia, na­ci­o­na­li­za­ções e um forte in­ves­ti­mento es­tatal nos prin­ci­pais sec­tores.

Para o al­cance desse ob­jec­tivo, hoje pre­ci­samos de re­cons­truir a es­querda, que é muito fraca e está di­vi­dida. Nesse sen­tido, o nosso par­tido es­ti­mula a co­o­pe­ração não só entre os par­tidos que pre­co­nizam o so­ci­a­lismo, mas também com ou­tras forças pro­gres­sistas e de­mo­crá­ticas, que lutam pela re­cu­pe­ração da so­be­rania na­ci­onal e por uma po­lí­tica eco­nó­mica ver­da­dei­ra­mente in­de­pen­dente.

Iremos con­ti­nuar o nosso tra­balho de per­su­asão de que o so­ci­a­lismo é a al­ter­na­tiva e deve ser cons­truído.

* Membro do Co­mité Exe­cu­tivo Na­ci­onal do Par­tido dos Tra­ba­lha­dores da Ir­landa

 



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