Governo sob teste de confiança

Confiável? Só para o capital!

Passos e Portas, se­guindo à letra o guião acor­dado com Ca­vaco, foram esta terça-feira ao Par­la­mento si­mular uma prova de vida.

Não há novo ciclo sem rup­tura e mu­dança

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A for­ma­li­dade foi cum­prida, o ca­pital po­lí­tico do Go­verno e o quadro em que se move, esse, é que não mudou: sem le­gi­ti­mi­dade e de­sa­cre­di­tado, à sua volta, a crescer, só mesmo o re­púdio e a re­jeição po­pular.

O de­pu­tado co­mu­nista An­tónio Fi­lipe, já perto do final do de­bate, re­sumiu aquele exer­cício as­si­na­lando que a moção de con­fi­ança fora apre­sen­tada para «tentar con­vencer os por­tu­gueses de que os mem­bros do Go­verno con­fiam uns nos ou­tros». E que ver­da­dei­ra­mente a única con­fi­ança a que se as­sis­tira foi à de Passos Co­elho na mi­nistra das Fi­nanças, cuja no­me­ação es­ti­vera na base da de­missão de Paulo Portas. Mi­nistra que mentiu ao Par­la­mento em mais esse es­cân­dalo que é os con­tratos SWAP (ver pág. 12), tema in­có­modo ao qual o chefe do Go­verno fugiu ale­gando o inqué­rito par­la­mentar a de­correr.

Com apro­vação de an­temão ga­ran­tida por PSD e CDS-PP, a moção foi jus­ti­fi­cada pelo pri­meiro-mi­nistro com a ne­ces­si­dade de «cla­ri­fi­cação» quanto às «ori­en­ta­ções mais re­le­vantes» do Go­verno «até final da le­gis­la­tura». Foram essa li­nhas es­sen­ciais que agrupou em quatro cha­vões: o «re­lan­ça­mento da eco­nomia»; «in­ves­ti­mento em mais co­esão e mo­bi­li­dade so­cial»; «mudar a re­lação do Es­tado com o ci­dadão»; «poder in­te­li­gente na Eu­ropa e no Mundo».

«Não é hora de de­sistir dos in­te­resses do País», re­petiu, na sua re­tó­rica, entre a ad­ver­tência de que «não se pode ali­viar o es­forço de dis­ci­plina fi­nan­ceira» e a pro­messa de «um novo ciclo de in­ves­ti­mento e cres­ci­mento sus­ten­tado».

Pro­pa­ganda em torno da ideia de um «novo ciclo» que Je­ró­nimo de Sousa de pronto des­mas­carou, ano­tando a con­tra­dição entre esse anúncio e a «obs­ti­nação fun­da­mental de pros­se­guir o pacto de agressão que de­fine uma po­lí­tica eco­nó­mica e so­cial e fi­nan­ceira que é um es­par­tilho para a nossa eco­nomia e para a nossa in­de­pen­dência». Re­cordou, aliás, que é o pró­prio Go­verno que anuncia mais re­cessão, mais de­sem­prego, mais cortes nos ser­viços pú­blicos.

A forma como o Go­verno foi «apa­pa­ri­cado» pelo Pre­si­dente da Re­pú­blica mo­tivou igual­mente a atenção do Se­cre­tário-geral do PCP, ex­pli­cando-a pela ne­ces­si­dade de «mais tempo» sen­tida pelos cen­tros de poder para levar por di­ante esta po­lí­tica.

Je­ró­nimo de Sousa deixou ainda claro no de­bate que «não há um novo ciclo sem rup­tura e sem mu­dança», «sem a rup­tura com a po­lí­tica de di­reita e sem a re­jeição desse pacto de agressão que tem in­fer­ni­zado a vida a mi­lhões de por­tu­gueses».

O di­ri­gente co­mu­nista acusou por fim o Go­verno de usar da «chan­tagem», de «exer­citar a re­sig­nação, o con­for­mismo e o medo para con­se­guir os seus ob­jec­tivos». Ga­rantiu, porém, que o PCP, pelo seu lado, «não ab­dica de di­na­mizar a es­pe­rança e a con­fi­ança», na cer­teza de que «dure o tempo que durar o povo e a sua luta aca­barão por impor a der­rota do Go­verno e en­con­trarão o ca­minho do pro­gresso e do de­sen­vol­vi­mento».


Fi­gueira brava

Je­ró­nimo de Sousa acusou o Pre­si­dente da Re­pú­blica de ter «rom­pido com os seus de­veres e obri­ga­ções ins­ti­tu­ci­o­nais» e de ter to­mado par­tido «para salvar o Go­verno» na al­tura em que al­guns dos seus mem­bros es­tavam «em fuga», em de­serção e a «con­fusão» era muita.

Lem­brou, em par­ti­cular, que o PR a dado mo­mento «datou a morte do Go­verno», fi­xando-lhe um ano, e pas­sado uma se­mana afirmou que afinal o Go­verno tinha con­di­ções para pros­se­guir a sua acção até ao fim da le­gis­la­tura.

Para o líder co­mu­nista «valeu tudo para que o pacto de agressão seja le­vado até ao fim».

Sobre a re­mo­de­lação, ex­pressou a con­vicção de que não «re­solve coisa ne­nhuma», es­ta­be­le­cendo o pa­ra­lelo com «uma fi­gueira brava» que, como é sa­bido, «nunca dá bons frutos». «Mesmo en­xer­tada nunca dá bons frutos», in­sistiu, su­bli­nhando ser o caso deste Go­verno que tem «na sua raiz uma po­lí­tica de des­truição, au­mento da ex­plo­ração e em­po­bre­ci­mento dos por­tu­gueses».

 

 



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