Os exaltantes e complexos caminhos da transformação social

Dos ca­mi­nhos para a trans­for­mação re­vo­lu­ci­o­nária da so­ci­e­dade por­tu­guesa falou, na se­gunda sessão do Con­gresso, o membro dos or­ga­nismos exe­cu­tivos do Co­mité Cen­tral Jorge Cor­deiro. Este di­ri­gente co­meçou a sua in­ter­venção a sa­li­entar que «é tendo pre­sente a ne­ces­si­dade e ac­tu­a­li­dade do ideal e do pro­jecto co­mu­nistas que o PCP ins­creve como ob­jec­tivo a luta pela so­ci­e­dade so­ci­a­lista e co­mu­nista». Este ob­jec­tivo, pre­cisou, é in­se­pa­rável da «afir­mação, con­si­en­ci­a­li­zação e apre­ensão pelas massas po­pu­lares do ideal e da sua in­cor­po­ração na acção do PCP».

De­fi­nido o pro­pó­sito – e razão de ser – da luta dos co­mu­nistas, Jorge Cor­deiro ex­pli­citou em se­guida aquela que é, por­ven­tura, a questão de­ci­siva: a dos ca­mi­nhos a tri­lhar para que esses ob­jec­tivos su­premos sejam atin­gidos. Acres­cen­tando em se­guida que, nas con­di­ções do País – «mar­cado por uma re­vo­lução pro­funda cuja ex­pe­ri­ência e va­lores con­ti­nuam a marcar a re­a­li­dade na­ci­onal» – a De­mo­cracia Avan­çada é «uma etapa desse com­plexo e exi­gente pro­cesso de trans­for­mação so­cial que a luta pelo so­ci­a­lismo cons­titui».

O di­ri­gente do PCP citou, em se­guida, a in­ter­venção de Álvaro Cu­nhal no XII Con­gresso do PCP, re­a­li­zado em 1988, em que este fun­dava o pro­grama de De­mo­cracia Avan­çada, então apro­vado, em duas con­si­de­ra­ções es­sen­ciais: a da «justa ava­li­ação da pre­ser­vação e valor das con­quistas de Abril na ac­tual re­a­li­dade por­tu­guesa e do seu valor du­ra­douro para um pro­jecto de­mo­crá­tico em Por­tugal»; e a da «con­fi­ança na pos­si­bi­li­dade da re­a­li­zação, pelo povo por­tu­guês, com a sua de­cisão, von­tade e luta, de um pro­jecto de­mo­crá­tico apesar dos con­di­ci­o­na­lismos ex­ternos».

Etapas, fases, ali­anças

Re­a­fir­mando que a De­mo­cracia Avan­çada que o PCP propõe é «parte cons­ti­tu­tiva da luta pelo so­ci­a­lismo» – uma luta que, pre­cisou, «não se­para, antes in­tegra, as vá­rias etapas e fases do pro­cesso so­cial e po­lí­tico que con­du­zirá à trans­for­mação so­ci­a­lista» –, Jorge Cor­deiro chamou a atenção para os «ob­jec­tivos con­cretos e ime­di­atos, com ca­rac­te­rís­ticas mais ou menos du­ra­douras, e em que a rup­tura com a po­lí­tica de di­reita, a cons­trução de uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda e da al­ter­na­tiva po­lí­tica que lhe dê ex­pressão, são ele­mentos cons­ti­tu­tivos».

Este di­ri­gente do Par­tido acres­centou ainda que a ex­pe­ri­ência ad­qui­rida pelo PCP ao longo de mais de nove dé­cadas «com­prova a ne­ces­sária com­bi­nação dos ob­jec­tivos de luta mais con­cretos e ime­di­atos com os ge­rais e es­tra­té­gicos e a in­dis­pen­sável ava­li­ação dos fac­tores ob­jec­tivos e sub­jec­tivos». Cada fase de luta, sa­li­entou Jorge Cor­deiro, é «de­ter­mi­nada pela in­fluência a partir do poder po­lí­tico, pela ar­ru­mação e cor­re­lação de forças na so­ci­e­dade, pela ex­pressão e di­mensão da luta de massas», sendo que o pro­cesso de trans­for­mação so­cial não de­pende apenas das forças que o di­rigem mas também das que se lhe opõem.

O membro dos or­ga­nismos exe­cu­tivos do Co­mité Cen­tral des­tacou a im­por­tância e ac­tu­a­li­dade par­ti­cu­lares da luta pela rup­tura com a po­lí­tica de di­reita e por uma po­lí­tica e um go­verno pa­trió­ticos e de es­querda. É no seu ter­reno, ga­rantiu, «que se efec­tivam no pre­sente mo­mento as ali­anças so­ciais e po­lí­ticas ca­pazes de as­se­gurar as rup­turas e o apoio à trans­for­mação so­cial». Os ob­jec­tivos cen­trais desta po­lí­tica, sa­li­entou Jorge Cor­deiro, «con­vergem com a di­mensão pro­gra­má­tica de uma De­mo­cracia Avan­çada, in­te­grando-a e dando-lhe a base so­cial e po­lí­tica que esta há-de de­sen­volver e ins­ti­tuir». Da mesma ma­neira, a De­mo­cracia Avan­çada, com a sua na­tu­reza de classe an­ti­mo­no­po­lista e anti-im­pe­ri­a­lista, terá na sua con­cre­ti­zação o «ca­minho do so­ci­a­lismo pelo qual ge­ra­ções de co­mu­nistas lu­taram e lutam». 




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