Saudação de Jerónimo de Sousa

Uma vida e uma obra que iluminam os combates de hoje

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Em nome do Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês, quero trans­mitir as nossas mais ca­lo­rosas e cor­diais sau­da­ções a todos os par­ti­ci­pantes e or­ga­ni­za­dores do Con­gresso «Álvaro Cu­nhal, o Pro­jecto Co­mu­nista, Por­tugal e o Mundo de hoje». Um Con­gresso que es­teve e está aberto a di­fe­rentes tipos de par­ti­ci­pação e par­ti­ci­pantes, não apenas a mi­li­tantes co­mu­nistas, mas a todos aqueles que, oriundos dos mais di­versos sec­tores da vida so­cial e po­lí­tica, das or­ga­ni­za­ções so­ciais e de massas, da vida cul­tural ou aca­dé­mica, re­co­nhecem a im­por­tância do es­tudo, do pen­sa­mento e acção de Álvaro Cu­nhal, va­lo­rizam o seu im­por­tante le­gado nos do­mí­nios da acção e in­ter­venção po­lí­tica, so­cial, cul­tural e ar­tís­tica, bem como o seu per­curso de homem e re­vo­lu­ci­o­nário e o que ele traduz, não apenas como exemplo, mas como ati­tude, po­si­ci­o­na­mento e pro­jecto po­lí­tico.

A todos os que nos honram com a sua pre­sença, a sua par­ti­ci­pação, as suas co­mu­ni­ca­ções e re­fle­xões, mas também sim­ples vi­vên­cias e ex­pe­ri­ên­cias de um com­bate par­ti­lhado em comum, o nosso sin­cero agra­de­ci­mento. Per­mitam-me que, par­ti­cu­lar­mente, saúde e agra­deça à Uni­ver­si­dade de Lisboa e à sua Fa­cul­dade de Le­tras, nas pes­soas do seu Reitor, Pro­fessor Doutor An­tónio Cruz Serra e do Di­rector desta Fa­cul­dade que nos acolhe, Pro­fessor Doutor Paulo Farmhouse Al­berto, todo o apoio e dis­po­ni­bi­li­dade para a re­a­li­zação desta mar­cante ini­ci­a­tiva do ca­len­dário das co­me­mo­ra­ções do Cen­te­nário do nas­ci­mento de Álvaro Cu­nhal.

Co­me­mo­ra­ções que con­si­de­ramos serem já um grande êxito e a justa ho­me­nagem que todos nós as­pi­rá­vamos ver con­cre­ti­zada quando do seu anúncio ofi­cial em No­vembro de 2012. Co­me­mo­ra­ções que per­mi­tiram re­velar numa di­mensão muito ele­vada o homem que foi Álvaro Cu­nhal – esse des­ta­cado e cen­tral pro­ta­go­nista da nossa his­tória con­tem­po­rânea, co­mu­nista con­victo, que se afirmou como um exemplo na luta pelos va­lores da eman­ci­pação so­cial e hu­mana no nosso País e no mundo –, e chamar a atenção para a sua mul­ti­fa­ce­tada ac­ti­vi­dade, no­me­a­da­mente para a ri­queza e pro­fun­di­dade do seu tra­balho no do­mínio da in­ter­venção e acção po­lí­tica a que este Con­gresso que agora se inicia não dei­xará de dar um par­ti­cular re­levo, no­me­a­da­mente à sua im­por­tante e ex­tensa obra teó­rica, não apenas porque este é o es­paço ade­quado ao apro­fun­da­mento do seu co­nhe­ci­mento, mas es­sen­ci­al­mente porque ela con­tinua a ser, pela sua ac­tu­a­li­dade, uma re­fe­rência na res­posta a pro­blemas es­sen­ciais do nosso País e do nosso tempo.

Te­oria e prá­tica

Uma obra que deu uma cri­a­tiva con­tri­buição ao de­sen­vol­vi­mento do ma­te­ri­a­lismo di­a­léc­tico e his­tó­rico e, em par­ti­cular, con­tri­buiu para dotar o PCP de um corpo de aná­lises, ideias e ori­en­ta­ções que mar­caram o pro­jecto co­mu­nista e as formas con­cretas que veio a as­sumir em Por­tugal, que in­flu­en­ci­aram a so­ci­e­dade por­tu­guesa. Uma con­tri­buição cri­a­dora que está bem pa­tente na te­oria da Re­vo­lução Por­tu­guesa ou na te­oria do par­tido co­mu­nista que de­sen­volveu e cujas ca­rac­te­rís­ticas es­sen­ciais sis­te­ma­tizou com mes­tria em «O Par­tido com Pa­redes de Vidro», para se tornar também uma re­fe­rência para o mo­vi­mento co­mu­nista e re­vo­lu­ci­o­nário mun­dial.

Uma vasta obra pro­du­zida ao mesmo tempo que agia e in­ter­vinha na res­posta aos pro­blemas do seu povo e do seu País, e par­ti­ci­pava ac­ti­va­mente na luta mais geral pela eman­ci­pação dos tra­ba­lha­dores e dos povos no plano in­ter­na­ci­onal. Num per­curso que evi­dencia essa sua in­vulgar ca­pa­ci­dade de, ao mesmo tempo, es­tudar e sis­te­ma­tizar a re­a­li­dade e de­sen­volver um pen­sa­mento teó­rico e in­tervir nessa re­a­li­dade com­plexa e em mo­vi­mento, ca­rac­te­rís­tica que faz da obra de Álvaro Cu­nhal um exemplo su­pe­rior da li­gação in­dis­so­lúvel de te­oria e prá­tica trans­for­ma­dora e re­vo­lu­ci­o­nária.

Com este Con­gresso, e na mul­ti­pli­ci­dade de olhares que per­mite sobre a sua obra, o seu per­curso e a sua luta, ha­vemos de co­lher todos nós, estou certo, en­si­na­mentos que nos en­ri­que­cerão e for­ta­le­cerão a luta por um mundo me­lhor e mais justo. A ri­queza e am­pli­tude da sua obra e da sua luta, sempre in­se­rida no quadro do seu Par­tido, não deixa de fora pra­ti­ca­mente ne­nhum dos do­mí­nios es­sen­ciais do com­bate dos que não se con­tentam apenas em in­ter­pretar o mundo, mas que as­sumem o com­pro­misso de o trans­formar.

Um vasto pa­tri­mónio de re­flexão

As suas aná­lises do sis­tema ca­pi­ta­lista e da evo­lução mun­dial, suas ten­dên­cias e forças mo­toras; as suas con­tri­bui­ções riquís­simas à pro­ble­má­tica da re­lação di­recção-Par­tido-classe-massas; as suas aná­lises sobre a questão cen­tral do papel da classe ope­rária, da de­ci­siva im­por­tância da sua uni­dade e a sua po­lí­tica de ali­anças nas di­fe­rentes etapas e fases da luta pela sua eman­ci­pação; as suas ava­li­a­ções das ex­pe­ri­ên­cias do so­ci­a­lismo e a com­pre­ensão das causas das dra­má­ticas der­rotas; as suas re­fle­xões sobre a questão do Es­tado, são ob­jecto e parte do vasto pa­tri­mónio teó­rico de Álvaro Cu­nhal.

Como parte é o seu ines­ti­mável con­tri­buto para afirmar a ne­ces­si­dade e ac­tu­a­li­dade do ideal e do pro­jecto co­mu­nistas, par­ti­cu­lar­mente quando, pe­rante a der­ro­cada da URSS e de ou­tros re­gimes do Leste eu­ropeu, os po­deres do­mi­nantes apre­sen­tavam o ca­pi­ta­lismo como fim da his­tória e o pro­jec­tavam numa marcha triunfal no ca­minho para a de­mo­cracia uni­versal, li­berto de guerras e de crises. Uma marcha que nunca se ini­ciou, nem podia ini­ciar, porque, como previu e pre­veniu Álvaro Cu­nhal, o ca­pi­ta­lismo não só con­ti­nuou a manter as suas ca­rac­te­rís­ticas es­sen­ciais como sis­tema de ex­plo­ração, opressão e agressão, como no quadro da nova si­tu­ação de al­te­ração da cor­re­lação de forças, mo­men­ta­ne­a­mente mais li­berto e menos con­di­ci­o­nado, ha­veria de con­frontar os tra­ba­lha­dores e os povos com mais bru­tais e de­su­manas con­sequên­cias.

A ac­tual crise do ca­pi­ta­lismo, com o seu rol de de­sem­prego, des­truição eco­nó­mica, re­tro­cesso so­cial, in­jus­tiças e de­si­gual­dades, é bem a con­fir­mação de que, como afir­mava Álvaro Cu­nhal, nem o pro­jecto co­mu­nista de uma so­ci­e­dade nova e me­lhor deixou de ser vá­lido, nem o ca­pi­ta­lismo se mos­trou ou mostra capaz de re­solver os grandes pro­blemas da hu­ma­ni­dade.

Um ideal vivo e bem vivo

Desse pro­jecto onde não cabe apenas a re­a­li­zação dos seus grandes ob­jec­tivos – a cons­trução do so­ci­a­lismo e do co­mu­nismo –, mas também as múl­ti­plas causas que dão sen­tido aos com­bates de hoje pela cons­trução de um mundo sempre me­lhor e mais justo: a causa da de­fesa dos tra­ba­lha­dores e do povo, dos seus justos in­te­resses e di­reitos, contra a ofen­siva e pre­po­tência do grande ca­pital; a causa do com­bate per­ma­nente às de­si­gual­dades e in­jus­tiças so­ciais, e o com­pro­misso de lutar e or­ga­nizar a luta para lhes pôr termo; a luta pela li­ber­dade e de­mo­cracia; pela de­fesa do de­sen­vol­vi­mento eco­nó­mico, tendo como ele­mento in­te­grante o pro­gresso so­cial; a causa da paz e pela ami­zade e co­o­pe­ração entre os povos; a luta ac­tual contra a po­lí­tica de di­reita e pela con­cre­ti­zação de uma al­ter­na­tiva para servir o povo e o País; a causa da afir­mação dos va­lores ele­men­tares como a igual­dade de di­reitos, a fra­ter­ni­dade, a jus­tiça so­cial e a so­li­da­ri­e­dade hu­mana; a ga­rantia e va­lo­ri­zação do papel dos povos no de­cidir da his­tória e que a so­ci­e­dade nova, como a ex­pe­ri­ência o com­provou, só po­derá ser cons­truída por de­cisão e em­pe­nha­mento dos tra­ba­lha­dores e do povo.

Um pro­jecto que al­guns se apres­saram a de­clarar como de­fi­ni­ti­va­mente morto, mas que está não só vivo e bem vivo, como o ideal que trans­porta con­tinua a ilu­minar o ca­minho dos que con­ti­nuam a lutar pela con­cre­ti­zação das mais pro­fundas as­pi­ra­ções do povo, certos de que um dia ele será fu­turo.

Do va­lioso e imenso le­gado que Álvaro Cu­nhal nos deixou, está a luta pela con­quista da li­ber­dade, da de­mo­cracia, por um pro­jecto de de­sen­vol­vi­mento ao ser­viço do País e do povo e pela in­de­pen­dência na­ci­onal. Está a luta por uma so­ci­e­dade nova li­berta da ex­plo­ração do homem pelo homem, está uma ina­ba­lável con­fi­ança nos tra­ba­lha­dores, no povo e na sua luta e num fu­turo me­lhor para a hu­ma­ni­dade. É essa mesma con­fi­ança que que­remos e temos a obri­gação de manter viva com re­a­li­za­ções como esta que aqui nos traz para dar mais força e con­ti­nuar a luta que teve em Álvaro Cu­nhal um exem­plar com­ba­tente e que hoje é nossa!

Para todos votos de um bom e pro­fícuo tra­balho!




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