Congresso «Álvaro Cunhal, o projecto comunista, Portugal e o Mundo de hoje»

Incentivo à reflexão, à intervenção e à luta

O Con­gresso «Álvaro Cu­nhal, o pro­jecto co­mu­nista, Por­tugal e o Mundo de hoje», re­a­li­zado no fim-de-se­mana na Fa­cul­dade de Le­tras da Uni­ver­si­dade de Lisboa, foi um mo­mento ímpar de re­flexão em torno do le­gado teó­rico e prá­tico do his­tó­rico di­ri­gente co­mu­nista, que mantém, nos dias de hoje, uma fla­grante e ine­gável ac­tu­a­li­dade. Nas de­zenas de in­ter­ven­ções que pre­en­cheram as quatro ses­sões do Con­gresso foram abor­dados di­versos as­pectos da vida, do pen­sa­mento e da luta de Álvaro Cu­nhal, com es­pe­cial des­taque para aqueles que têm pro­jecção nos com­bates que os co­mu­nistas hoje travam, lado a lado com muitos ou­tros que o não são, pelos ob­jec­tivos a que tão exem­plar­mente de­dicou toda a sua vida e o me­lhor das suas imensas ca­pa­ci­dades. 

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Como era de es­perar (e que o ele­vado nú­mero de ins­cri­ções che­gado à co­missão or­ga­ni­za­dora con­firmou), o Con­gresso des­pertou o in­te­resse de muita gente: di­ri­gentes e mi­li­tantes do PCP e ou­tros que, não o sendo, re­co­nhecem o valor da pro­funda re­flexão de Álvaro Cu­nhal sobre as mais di­versas te­má­ticas e têm no seu per­curso de vida e de luta um exemplo de co­e­rência, dig­ni­dade e co­ragem.

O au­di­tório em que o Con­gresso se de­sen­rolou, com ca­pa­ci­dade para cen­tenas de pes­soas, es­teve sempre lo­tado, e num outro an­fi­te­atro foi ins­ta­lado um ecrã gi­gante para que os que não cou­beram na sala prin­cipal pu­dessem as­sistir às in­ter­ven­ções. A or­ga­ni­zação ins­talou ainda te­le­vi­sores e ca­deiras nos cor­re­dores mais pró­ximos do au­di­tório prin­cipal, e o sítio da In­ternet do PCP trans­mitiu em di­recto a to­ta­li­dade dos tra­ba­lhos. Ou seja, se muitos foram os que pas­saram o fim-de-se­mana na Fa­cul­dade de Le­tras, foram cer­ta­mente muitos mais os que, mesmo sem lá ter es­tado, se­guiram aten­ta­mente o Con­gresso, apren­dendo e re­flec­tindo com os va­li­osos con­tri­butos dos in­ter­ve­ni­entes.

O Con­gresso di­vidiu-se em quatro ses­sões: «O homem, o co­mu­nista, o in­te­lec­tual e o ar­tista»; «De­mo­cracia e So­ci­a­lismo»; «O pro­cesso de trans­for­mação so­cial, o Par­tido e as massas»; «O ca­pi­ta­lismo: os seus li­mites e o so­ci­a­lismo como al­ter­na­tiva». No sá­bado de manhã, antes da pri­meira sessão, teve lugar um painel de aber­tura em que in­ter­vi­eram Je­ró­nimo de Sousa, Se­cre­tário-geral do PCP, An­tónio Cruz Serra, reitor da Uni­ver­si­dade de Lisboa, Paulo Farmhouse Al­berto, di­rector da Fa­cul­dade de Le­tras, e Ma­nuel Ro­dri­gues, membro do Co­mité Cen­tral do PCP e da Co­missão Pro­mo­tora das Co­me­mo­ra­ções do Cen­te­nário do Nas­ci­mento de Álvaro Cu­nhal.

Es­tudar, re­flectir e aprender

De­pois de Ma­nuel Ro­dri­gues ter su­bli­nhado que a par­ti­ci­pação ex­cedia as ex­pec­ta­tivas e de ter apre­sen­tado os ob­jec­tivos cen­trais do Con­gresso e, em geral, das co­me­mo­ra­ções do cen­te­nário, o di­rector da Fa­cul­dade de Le­tras re­alçou que Álvaro Cu­nhal faz parte do pa­tri­mónio his­tó­rico da Uni­ver­si­dade de Lisboa, quer por lá ter es­tu­dado Di­reito (na dé­cada de 30 do sé­culo XX) como pela in­fluência do seu pen­sa­mento e das or­ga­ni­za­ções es­tu­dantis do Par­tido do qual foi o mais des­ta­cado cons­trutor. Paulo Farmhouse Al­berto des­tacou, par­ti­cu­lar­mente, a pri­meira destas ver­tentes, re­al­çando o papel do en­saio «As lutas de classes em Por­tugal nos fins da Idade Média» para o de­bate his­to­ri­o­grá­fico em torno da re­vo­lução de 1383-85, que en­tron­cava na re­flexão que es­tava a ser feita em França em torno dos «Cahiers d'Études Mar­xistes». Da sua parte, o reitor da Uni­ver­si­dade de Lisboa, An­tónio Cruz Serra, saudou os par­ti­ci­pantes no Con­gresso, lem­brando o con­tacto que, en­quanto es­tu­dante, teve com Álvaro Cu­nhal e como fi­cara im­pres­si­o­nado pela sua per­so­na­li­dade.

Nas pá­ginas se­guintes, para além da pu­bli­cação na ín­tegra da sau­dação de Je­ró­nimo de Sousa ao Con­gresso, abor­damos as­pectos cen­trais do con­teúdo das quatro ses­sões – e a pro­fun­di­dade e valor das in­ter­ven­ções pro­fe­ridas –, certos de que a lei­tura do Avante!, sendo es­sen­cial, não dis­pensa o es­tudo mais apro­fun­dado das con­tri­bui­ções apre­sen­tadas pelos par­ti­ci­pantes no Con­gresso e, por mai­oria de razão, da pró­pria obra de Álvaro Cu­nhal.




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