Um drama europeu
O número de pessoas sem abrigo em França duplicou desde 2011, cifrando-se em 141 500 de indivíduos, dos quais 30 mil são crianças. A estes somam-se mais cerca de meio milhão que vivem em albergues públicos, pequenas pensões, barracas ou alojados temporariamente por terceiros.
Estes dados constam no estudo anual da Fundação Abbe Pierre, divulgado sexta-feira, dia 31, relativo ao ano passado.
O relatório sublinha ainda que dois milhões e 900 mil pessoas vivem em alojamentos precários ou insalubres, sem as condições mínimas de conforto, tais como abastecimento de água potável, aquecimento ou saneamento básico.
A Fundação recenseou igualmente cerca de cinco milhões de pessoas que enfrentam dificuldades para pagar a renda de casa, devido ao desemprego e ao constante aumento do aluguer.
O estudo salienta de resto que «o emprego e a habitação constituem as principais preocupações dos nossos cidadãos», concluindo que a actual crise da habitação é um reflexo da elevada taxa de desemprego, dos baixos salários e do empobrecimento paulatino dos trabalhadores.
Um aspecto novo realçado pelo estudo é a existência de perto de um milhão de pessoas que são proprietárias da respectiva habitação, mas que enfrentam dificuldades em realizar reparações e pagar as facturas da electricidade, gás ou água.
Confirmando a dimensão europeia do problema, o Parlamento Europeu aprovou, dia 16, uma resolução sobre uma estratégia da UE para os sem-abrigo. Todavia, como frisou a deputada do PCP, Inês Zuber, o documento é meramente declarativo e contraditório, já que, se por um lado ignora as verdadeiras causa do flagelo, por outro associa a dita «estratégia» ao «Semestre Europeu», cuja agenda inclui precisamente as políticas que impõem cortes de salários e despedimentos.