Trabalhadores da Panasqueira
agricultores na Guarda

Duas razões, duas lutas

Patrícia Machado (Membro da Comissão Política)

Os dis­tritos de Cas­telo Branco e da Guarda so­frem igual­mente as con­sequên­cias e os ob­jec­tivos da po­lí­tica de di­reita de­sen­vol­vida há anos e, em par­ti­cular, do pacto de agressão que há três anos PS, PSD e CDS as­si­naram com a troika es­tran­geira.

Muitas ra­zões existem para que a luta con­tinue

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Nestes dis­tritos não param de en­cerrar ou re­duzir ser­viços pú­blicos e em­presas; o de­sem­prego atinge nú­meros dra­má­ticos, com mais de 13 mil em Cas­telo Branco e mais de 11 mil na Guarda, con­tando com «ocu­pados»; au­menta o nú­mero de tra­ba­lha­dores que se vêem obri­gados a emi­grar, assim como au­mentam os re­for­mados e pen­si­o­nistas que au­ferem pen­sões e re­formas baixas; re­gista-se o au­mento da po­breza.

Muitas têm sido as lutas das po­pu­la­ções e dos tra­ba­lha­dores nestes dis­tritos na de­fesa dos ser­viços pú­blicos, contra as por­ta­gens na A23 e A25, assim como de muitos tra­ba­lha­dores: dos têx­teis no dis­trito de Cas­telo Branco, pelo au­mento de 30 euros/​mês no sa­lário; da Mo­vi­flor/​Fundão, em greve no pas­sado dia 8 de Março pelo pa­ga­mento dos sa­lá­rios; do Con­tact Center da EDP/​Seia na luta pelo au­mento dos sa­lá­rios e me­lhores con­di­ções de tra­balho; ou ainda dos tra­ba­lha­dores da F. Ca­melo/​Seia pelo pa­ga­mento dos sa­lá­rios.

São muitos os sec­tores que não se re­signam, que exigem e lutam pelos seus di­reitos. Os tra­ba­lha­dores das Minas da Pa­nas­queira (Co­vilhã) e dos pe­quenos agri­cul­tores na Guarda são dois exem­plos da razão que sus­tenta a luta no con­fronto de classes, em que o grande ca­pital e as forças que o su­portam be­ne­fi­ciam os grandes, o lucro, a apro­pri­ação da mais-valia, con­ti­nu­ando e au­men­tando a ex­plo­ração, no caso dos tra­ba­lha­dores, e a des­truição da pro­dução na­ci­onal e os pe­quenos e mé­dios agri­cul­tores a favor dos grandes agro-ne­gó­cios e dos grandes pro­du­tores e agri­cul­tores.

Contra a ex­plo­ração

A So­jitz­Be­ralt é uma mul­ti­na­ci­onal ja­po­nesa, con­ces­si­o­nária das minas da Pa­nas­queira, em­pre­gando neste mo­mento 365 tra­ba­lha­dores, dos quais cerca de 30 por cento com vín­culos pre­cá­rios; o sa­lário médio ronda os 720 euros e a venda de mi­né­rios ga­rante à volta de 30 mi­lhões de euros/​ano.

Os tra­ba­lha­dores da Pa­nas­queira há muito que lutam, or­ga­ni­za­da­mente, através do seu sin­di­cato de classe, tendo con­se­guido ao longo dos anos im­por­tantes con­quistas na va­lo­ri­zação do sa­lário, na me­lhoria das con­di­ções de hi­giene e se­gu­rança no tra­balho, entre ou­tras. Tem sido a sua uni­dade e luta que tem pro­du­zido frutos nos di­reitos dos tra­ba­lha­dores. Neste mo­mento, de­sen­volve-se uma luta em de­fesa do ca­derno rei­vin­di­ca­tivo, em par­ti­cular o au­mento do sa­lário e contra a pro­posta da em­presa de al­te­ração dos ho­rá­rios de tra­balho para la­bo­ração con­tínua na la­vraria e de 10 horas diá­rias, quatro dias da se­mana, para a mina. A em­presa pro­cura fazer de­pender o au­mento do sa­lário das al­te­ra­ções de ho­rário, con­si­de­rando o sá­bado dia normal de tra­balho e ace­nando com au­mento de 60 postos de tra­balho.

Os tra­ba­lha­dores, reu­nidos em grandes ple­ná­rios, de­ci­diram con­vocar e re­a­lizar uma greve no pas­sado dia 10 de Março, que teve uma adesão de cerca de 90 por cento, e mar­caram novos dias de greve para hoje e amanhã (3 e 4 de Abril). En­tre­tanto, estão há um mês a re­cusar o tra­balho ex­tra­or­di­nário.

De­fender a pro­dução

Os pe­quenos agri­cul­tores na Guarda têm vindo a lutar com a sua as­so­ci­ação re­pre­sen­ta­tiva – ADAG/​CNA – contra as im­po­si­ções fis­cais, os custos dos fac­tores de pro­dução e na de­fesa dos apoios à pro­dução. No dis­trito, como em muitos ou­tros, a agri­cul­tura tem so­frido duros ata­ques, as­sis­tindo-se à des­truição e aban­dono de muitas pro­du­ções, como são exemplo o leite, os la­gares ou as adegas. Os custos as­so­ci­ados à pro­dução e as di­fi­cul­dades de es­co­a­mento fazem com que muitos de­sistam ou que re­duzam a sua pro­dução ao con­sumo pró­prio ou fa­mi­liar.

Mas os agri­cul­tores têm res­pon­dido aos apelos para a luta contra este Go­verno. Exemplo disso foi a grande luta pro­mo­vida pela CNA na ci­dade da Guarda no pas­sado dia 22 de Ja­neiro, onde cerca de 200 agri­cul­tores, sob forte chuva, se jun­taram em frente à Se­gu­rança So­cial; ou, mais re­cen­te­mente, nas ex­pres­sivas ade­sões ao abaixo-as­si­nado pela anu­lação das novas im­po­si­ções fis­cais sobre os pe­quenos e mé­dios agri­cul­tores (só na se­mana de 17 a 22 de Março foram re­co­lhidas mais de 1200 as­si­na­turas), co­lo­cando igual­mente a ne­ces­si­dade de par­ti­ci­pação na grande acção de hoje, 3 de Abril, pro­mo­vida pela CNA em Lisboa.

Muitas ra­zões existem para que se con­tinue a exigir di­reitos, a que se cumpra Abril, a de­missão do Go­verno e a cons­trução de uma po­lí­tica al­ter­na­tiva pa­trió­tica e de es­querda.

 



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