Os «insanáveis»

Carlos Gonçalves

Crescem as di­fi­cul­dades e in­jus­tiças, na me­dida em que avança o saque do povo e do País, alarga-se a re­volta, à me­dida que me­dram as «baixas» do roubo – os que morrem mais cedo à mingua de con­di­ções de vida, os «de­sen­co­ra­jados» de se­quer es­boçar o dia de amanhã, os exi­lados desta po­lí­tica. Na va­leta da acu­mu­lação ca­pi­ta­lista, em­pi­lham-se os «danos co­la­te­rais» – cen­tenas de mi­lhares de novos po­bres, que se juntam aos mi­lhões de des­gra­çados.

Nesta si­tu­ação dra­má­tica, a ex­plo­ração e a brutal ofen­siva de mis­ti­fi­cação da re­a­li­dade, «Ope­ração Choque e Pavor», para o es­ma­ga­mento ide­o­ló­gico, para impor o con­for­mismo de que «o País está me­lhor», cria di­fi­cul­dades à luta.

Mas a vida con­firma a razão do PCP. Crescem os que se afastam do PSD/​CDS e PS, que lutam e re­sistem. Há mais tra­ba­lha­dores, mais de­mo­cratas e pa­tri­otas a in­tervir. Há mais con­di­ções para re­forçar o Par­tido e tornar pos­sível uma nova po­lí­tica.

Neste quadro, os ami­ga­lhaços do «Arco do Poder» – o PS fica con­ten­tinho por se en­caixar nesta «co­man­dita» do ca­pital e dela ex­cluir o PCP – estão cada vez mais en­vol­vidos em ma­no­bras para iludir o povo – que não se­nhor, que não têm culpa ne­nhuma, que o cul­pado é o vi­zinho do lado, que foi o PS que chamou a troika, diz o PSD, ou que é o PSD que go­verna mal, diz o PS, ambos numa «lenga lenga», sem ponta de ver­dade, pro­cu­rando mis­ti­ficar as culpas, que as­sistem a ambos, mais ao CDS, no de­sastre do País.

O PS «faz o pino» para fazer constar que nada tem a ver com a si­tu­ação. A.J.Se­guro en­cheu a boca com as «di­ver­gên­cias in­sa­ná­veis», que o afas­ta­riam de Passos, mas o facto é que ambos es­ti­veram horas à con­versa. Se ca­lhar pla­ne­aram a cam­panha elei­toral para fazer constar a «in­sa­nável» di­ver­gência que mis­ti­fique a coin­ci­dência real de po­si­ções.

É que o PS não só é co-res­pon­sável do ac­tual quadro do País, como, pelo apoio ao Tra­tado Or­ça­mental e às po­lí­ticas da União Eu­ro­peia, se as­sume, face aos grandes se­nhores do di­nheiro, como pronto para con­ti­nuar pelo mesmo ca­minho.

Todos eles, PS, PSD e CDS, «in­sa­ná­veis» nas suas «di­ver­gên­cias», aí estão jun­ti­nhos para tentar im­pedir que, mais cedo que tarde, sejam der­ro­tados pela luta dos tra­ba­lha­dores e do povo, mais o pacto de agressão e a po­lí­tica de di­reita. Ir­re­vo­ga­vel­mente.




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