Governo ataca de novo direitos ancestrais

Não ao roubo dos baldios

A mai­oria PSD/​CDS-PP aprovou sexta-feira, 4, na ge­ne­ra­li­dade, com os votos contra das opo­si­ções, a pro­posta de lei que al­tera a Lei dos Bal­dios.

A ma­deira dos bal­dios des­perta o ape­tite da in­dús­tria da ce­lu­lose

Image 15487

Do de­bate re­a­li­zado na an­te­vés­pera ficou a cer­teza de que este novo ataque en­con­trará pela frente a re­sis­tência e a luta das co­mu­ni­dades ser­ranas do centro e Norte do País. E o pri­meiro sinal de que assim será foi já dado pelos mi­lhares de com­partes e agri­cul­tores que, faz hoje oito dias, res­pon­dendo ao apelo da CNA, er­gueram a voz em frente ao Par­la­mento mos­trando re­púdio e re­jeição por este au­tên­tico roubo às terras co­mu­ni­tá­rias que o Go­verno e a mai­oria pre­tendem con­sumar.

Di­reitos an­ces­trais que o fas­cismo se­ques­trou e que o 25 de Abril de­volveu ao povo estão assim uma vez mais na mira do in­sa­ciável ape­tite de grandes in­te­resses eco­nó­micos, no­me­a­da­mente da in­dús­tria de ce­lu­lose.

Com esta eleva-se já a perto de duas de­zenas as ten­ta­tivas que desde 1976 pro­curam des­vir­tuar a Lei dos Bal­dios, vi­sando a apro­pri­ação destas terras aos com­partes, pe­quenos agri­cul­tores e pas­tores, como bem as­si­nalou o de­pu­tado co­mu­nista João Ramos.

Ca­mu­flando as suas ver­da­deiras in­ten­ções, os par­tidos da mai­oria e o Go­verno jus­ti­fi­caram o di­ploma in­vo­cando ra­zões de «trans­pa­rência» e me­lhoria de gestão e ren­ta­bi­li­dade. Para que «todos possam ser com­partes e que os bal­dios possam ser uti­li­zados por todos», afirmou Pedro do Ó Ramos (PSD), que in­vec­tivou contra o que disse ser as «contas não trans­pa­rentes e para be­ne­fício pró­prio». Já o se­cre­tário de Es­tado das Flo­restas, Fran­cisco Gomes da Silva, as­se­ve­rava que entre os ob­jec­tivos está a «re­so­lução de con­flitos exis­tentes», a «sim­pli­fi­cação de pro­ce­di­mentos» e a «trans­pa­rência no uso e gestão dos bal­dios».

Men­tiras

Ar­gu­mentos que João Ramos re­duziu a pó, lem­brando, por exemplo, quanto à questão das contas, que os pró­prios de­pu­tados ti­verem en­sejo, em vi­sita da co­missão de agri­cul­tura a vá­rios bal­dios, de ana­lisar os res­pec­tivos li­vros de contas e re­la­tó­rios.

E sobre a «má gestão» dos bal­dios, cor­rigiu, o pro­blema não está nos com­partes mas nos ser­viços do Es­tado, de­sig­na­da­mente nos ser­viços flo­res­tais a quem com­pete por lei a obri­ga­to­ri­e­dade de ela­borar os re­la­tó­rios de contas. In­su­fi­ci­ente res­posta e pa­ra­lisia dos ser­viços que se re­flecte em ou­tros as­pectos ne­ga­tivos como sejam, su­bli­nhou o par­la­mentar do PCP, a perda de can­di­da­turas a fundos co­mu­ni­tá­rios para in­ves­ti­mento, atrasos na adopção de me­didas de pre­venção es­tru­tural e na apro­vação de «planos de uti­li­zação de bal­dios» ela­bo­rados pelos con­se­lhos di­rec­tivos, ou ainda na ca­ti­vação pelo Es­tado de mi­lhões de euros por in­de­fi­nição nos li­mites dos bal­dios ou ine­xis­tência de con­se­lhos di­rec­tivos, di­fi­cul­dades estas em re­lação às quais há o dever do Es­tado de ajudar a su­perar.

Pela base caíram, ainda, os ar­gu­mentos adu­zidos para sub­verter o con­ceito de com­parte, com o in­tuito de «roubar os bal­dios aos seus le­gí­timos donos – as co­mu­ni­dades lo­cais que mantêm com eles uma re­lação eco­nó­mica e afec­tiva».

Por tudo isto ficou a cer­teza neste de­bate de que esta é uma luta que não vai parar. Pela sua parte, pela voz de João Ramos, o PCP deixou uma ga­rantia: «Não des­can­sa­remos en­quanto os lobos ui­varem sobre os bal­dios».

 



Mais artigos de: Assembleia da República

Enorme sementeira de pobres

Com este Go­verno, em dois anos, o nú­mero de po­bres au­mentou 515 mil, de acordo com o INE. Para Je­ró­nimo de Sousa este é o maior des­men­tido a Passos Co­elho quando este diz que os ricos têm sido «mais pe­na­li­zados» e os po­bres «mais pro­te­gidos».

Proposta do PCP em plenário dia 16

O tema da renegociação da dívida regressa ao Parlamento na próxima quarta-feira, 16, em debate potestativo requerido pelo PCP. Em análise estará um projecto de resolução com uma nova proposta visando essa renegociação, enriquecido quer por propostas...

Direitos são para defender

Ao Governo compete agir em defesa dos interesses e direitos dos trabalhadores da Parvalorem e não fazer como num passado recente em que ao mesmo tempo que os desprezava tratou de «cuidar muito bem dos interesses dos novos donos do BPN». Esta foi a posição assumida pelo deputado...

Mitigar perdas

Encontra-se em comissão, para onde baixou sem votação por um período de 45 dias, a pedido dos seus autores, os projectos de resolução do PCP e do BE que introduzem alterações ao Fundo de Compensação Salarial dos pescadores....

Violação sexual

O Parlamento aprovou recentemente um diploma que dispensa de queixa a violação, transformando-a em crime público, assumindo que a ausência de consentimento da relação sexual é um acto de violência. Este projecto de lei que «altera a previsão legal dos...