Jerónimo de Sousa põe a nu efeitos da acção governativa

Enorme sementeira de pobres

Com este Go­verno, em dois anos, o nú­mero de po­bres au­mentou 515 mil, de acordo com o INE. Para Je­ró­nimo de Sousa este é o maior des­men­tido a Passos Co­elho quando este diz que os ricos têm sido «mais pe­na­li­zados» e os po­bres «mais pro­te­gidos».

Ao mesmo tempo que cresce a po­breza en­grossa o nú­mero de mi­li­o­ná­rios e as res­pec­tivas for­tunas

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«São dois mi­lhões e meio de por­tu­gueses em risco de po­breza ou na po­breza, em con­sequência do de­sem­prego, dos sa­lá­rios baixos – há quem tra­balhe em­po­bre­cendo, de­vido ao sa­lário baixo e ao con­ge­la­mento do sa­lário mí­nimo na­ci­onal –, da carga fiscal, do corte nas pen­sões», des­tacou o Se­cre­tário-geral do PCP, sexta-feira, 3, no de­bate quin­zenal com o pri­meiro-mi­nistro.

E re­cor­rendo ainda às es­ta­tís­ticas que o chefe do Exe­cu­tivo tanto gosta de citar, voltou a ques­tioná-lo sobre a re­lação entre, por um lado, o «au­mento da ex­plo­ração, do de­sem­prego, do em­po­bre­ci­mento, da carga fiscal que recai sobre mi­lhões de por­tu­gueses», e, por outro lado, sobre o au­mento si­mul­tâneo do «nú­mero de mi­li­o­ná­rios e das for­tunas dos mais ricos».

Pe­rante o nexo de cau­sa­li­dade entre uma re­a­li­dade e outra, ci­tando Al­meida Garret, que há quase dois sé­culos na­quela mesma câ­mara ques­ti­o­nava o go­verno de então, o líder co­mu­nista per­guntou a Passos Co­elho «quantos po­bres são pre­cisos mais para criar um rico», ci­ente de ser esta uma questão que mantém ab­so­luta «ac­tu­a­li­dade».

O roto e o nu

Antes, alu­dindo a uma per­gunta feita há tempos a Passos Co­elho sobre qual o lugar em que pen­saria ficar na his­tória, con­si­derou que a este as­sen­taria que nem uma luva o epí­teto de chefe do Go­verno que «mais po­bres con­se­guiu criar no Por­tugal de­mo­crá­tico».

Ao pri­meiro-mi­nistro o líder co­mu­nista disse ainda, com uma nota de humor, re­fe­rindo-se à dis­cussão por aquele tra­vada mo­mentos antes com An­tónio José Se­guro, que vira nessa acesa troca de pa­la­vras uma ré­plica da con­versa do «roto que diz ao nu por que não te vestes tu».

Passos Co­elho, na res­posta, de­pois de afirmar que não se revia no co­men­tário, en­ve­redou pelo dis­curso suado de que «há quem se es­force todos os dias para que Por­tugal feche este pe­ríodo de emer­gência e possa re­gressar a fi­nan­ci­a­mento de mer­cado e quem não apoie ne­nhuma das so­lu­ções para que esse dia possa chegar».

E disse estar de­ter­mi­nado em de­cidir aquilo que do seu ponto de vista é im­por­tante para «re­solver os pro­blemas do País, dei­xando aos ou­tros o «jul­ga­mento sobre os re­sul­tados».

Já sobre o au­mento da po­breza, acabou por re­co­nhecer que «não há ne­nhuma po­lí­tica de ajus­ta­mento que traga re­cessão que não traga uma di­mi­nuição do PIB e, nessa me­dida, uma de­gra­dação dos ren­di­mentos», no­me­a­da­mente entre os fun­ci­o­ná­rios pú­blicos e pen­si­o­nistas. De uma pe­nada jus­ti­ficou ainda a re­gressão so­cial com a ine­xis­tência de «con­di­ções para manter o nível de des­pesa» à data da en­trada da troika no País.

Na ré­plica, Je­ró­nimo de Sousa não deixou passar o facto de ter ha­vido da parte do pri­meiro-mi­nistro o re­co­nhe­ci­mento de que a po­breza é uma con­sequência da po­lí­tica cha­mada de ajus­ta­mento do Go­verno, en­ten­dendo que este é «um pro­blema de fundo.

 

Po­lí­tica de­su­mana

Sempre fo­cado nos pro­blemas con­cretos do povo e do País, o líder co­mu­nista abordou no de­bate ainda a questão dos cortes que o Go­verno aplicou às cri­anças com de­fi­ci­ência ou ne­ces­si­dades edu­ca­tivas es­pe­ciais. E con­cluiu que tais cortes com­provam a «forma de­si­gual» como o Go­verno trata ricos e po­bres, como, por opção, agrava a po­breza.

«Aos cortes dos abonos de fa­mília que atin­giram mi­lhares de cri­anças o Go­verno acres­centou o duplo corte às cri­anças com de­fi­ci­ência com o corte na bo­ni­fi­cação por de­fi­ci­ência», cons­tatou Je­ró­nimo de Sousa, acu­sando o Go­verno de estar a re­cusar o pa­ga­mento do sub­sídio de edu­cação es­pe­cial sob o falso ar­gu­mento de que os apoios já existem nas es­colas, quando efec­ti­va­mente assim não é. Re­cusa essa a cri­anças iden­ti­fi­cadas pelas es­colas como tendo de­fi­ci­ência ou ne­ces­si­dades edu­ca­tivas es­pe­ciais, com de­cla­ra­ções mé­dicas a re­co­nhecer a ne­ces­si­dade de apoio es­pe­cí­fico.

Je­ró­nimo de Sousa deu exem­plos con­cretos, ob­tidos a partir de re­latos che­gados ao PCP por pais pre­o­cu­pados com a re­gressão ob­ser­vada nos seus fi­lhos em con­sequência da falta de apoios que lhes de­viam ser con­ce­didos e que o Go­verno re­tirou.

«Essa é a marca cruel da vossa po­lí­tica, que con­trasta com o cres­ci­mento das for­tunas», in­sistiu o líder do PCP, di­ri­gindo-se a Passos Co­elho, a quem trans­mitiu um caso par­ti­cu­lar­mente elu­ci­da­tivo dessa in­jus­tiça. Trata-se da si­tu­ação de uma cri­ança a quem a es­cola re­co­nhece um «atraso no de­sen­vol­vi­mento da lin­guagem», com «di­fi­cul­dades sé­rias na des­co­di­fi­cação da lei­tura e pro­dução es­crita», com­pro­me­tendo por tudo isso o seu de­sen­vol­vi­mento global. No mesmo exacto sen­tido vai o di­ag­nós­tico da te­ra­peuta da fala, mas o pa­recer da Se­gu­rança So­cial re­cusa o sub­sídio para apoio.

Passos Co­elho, contra a evi­dência, ne­garia que seja assim, afir­mando que não foi mu­dada «ne­nhuma regra a pro­pó­sito dos sub­sí­dios de edu­cação es­pe­cial» nem «ne­nhum corte nesses sub­sí­dios».

«Quando se fala de sen­si­bi­li­dade é pre­ciso provar», de­sa­fiou o Se­cre­tário-geral do PCP, para quem este caso é re­ve­lador do «grau de in­sen­si­bi­li­dade e in­jus­tiça» deste Go­verno, que não he­sita em pe­na­lizar quem já «tem o drama nas suas casas» e pre­cisa de apoio para os seus «fi­lhos que têm estas ne­ces­si­dades».

Iden­ti­fi­cando aqui uma vez mais a «opção e a na­tu­reza de classe da po­lí­tica» do Go­verno, o líder do PCP afirmou-se por isso con­victo de que não se en­gana quando o acusa de estar «do lado dos mais po­de­rosos, dos mais ricos, dos mais fortes, contra os mais vul­ne­rá­veis, os mais po­bres». E essa, re­matou, con­tinua a ser a «questão cen­tral».

 



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