Ofensiva começou assim que Abril "nasceu"

Golpes da reacção

A 28 de Se­tembro a re­acção tenta li­quidar a Re­vo­lução, mas foi der­ro­tada nas bar­ra­gens de po­pu­lares e mi­li­tares mon­tadas de Norte a Sul do País

 

Der­ro­tado o golpe de 11 de Março de 1975, o PCP ape­lava à vi­gi­lância po­pular

 

O 11 de Março foi um con­fronto mi­litar tí­pico tra­vado pela re­sis­tência do RALis e por po­pu­lares

 

A re­acção volta à carga no «Verão quente» com ata­ques às sedes do PCP em vá­rios  pontos do País

Contra a li­ber­dade con­quis­tada, a con­so­li­dação da de­mo­cracia e as trans­for­ma­ções re­vo­lu­ci­o­ná­rias, es­teve sempre An­tónio Spí­nola. Apoiado pela elite po­lí­tica, mi­litar e eco­nó­mica fas­cista, e pelo im­pe­ri­a­lismo, o ge­neral foi es­ta­be­le­cendo com as forças po­lí­ticas uma re­lação que «cor­res­pondeu à po­sição e ati­tude destas no quadro da ar­ru­mação e luta das forças so­ciais» (Álvaro Cu­nhal, A Ver­dade e a Men­tira na Re­vo­lução de Abril (A contra-re­vo­lução con­fessa-se), Edi­to­rial “Avante!”, Lisboa, 1999, pp 125). Contou com «o apoio e par­ti­ci­pação di­li­gente e pronta do CDS e dos seus di­ri­gentes [Freitas do Amaral em pri­meiro plano]», com «a es­treita co­la­bo­ração, cum­pli­ci­dade, par­ti­ci­pação ac­tiva e em­pe­nhada do PPD», e com Mário So­ares e do PS, sendo esta úl­tima «uma das mais es­tá­veis e du­ra­douras ali­anças po­lí­tico-mi­li­tares do pro­cesso contra-re­vo­lu­ci­o­nário.» (idem, ibidem, pp 126-128)

Com o firme pro­pó­sito de chamar a si «plenos po­deres até No­vembro de 1976 e para lá disso» (idem, ibidem, pp. 137-138), Spí­nola aposta por duas vezes em golpes de Es­tado, e por uma vez num golpe mi­litar. O golpe Palma Carlos, de usur­pação do poder nos ga­bi­netes, a 10 de Julho de 1974, e a «ma­ni­fes­tação da mai­oria si­len­ciosa», são «in­ten­tonas clás­sicas» (idem, ibidem, pp. 167). No 28 de Se­tembro, o plano fazia «con­vergir, na acção final, todas as frentes em mo­vi­mento: a mi­litar, a eco­nó­mica, a so­cial, a po­lí­tico-par­ti­dária, a ide­o­ló­gica, a pro­pa­gan­dís­tica e a co­lo­nial, sem es­quecer ac­ções de pro­vo­cação de­ses­ta­bi­li­za­doras» (idem, ibidem, pp. 143). O ca­pital pro­mete «120 mi­lhões de contos de in­ves­ti­mento e 150 mil novos postos de tra­balho, caso vença a mai­oria si­len­ciosa”» (idem, ibidem, pp. 143).

A 20 de Se­tembro, Álvaro Cu­nhal lembra que «se a re­acção aguça os dentes e se pre­para para morder, é ne­ces­sário partir-lhos antes que morda», e «toda essa gi­gan­tesca ope­ração foi der­ro­tada (…) tendo como prin­ci­pais e, em muitos casos, únicos pro­mo­tores, or­ga­ni­za­dores e di­na­mi­za­dores o PCP e o mo­vi­mento sin­dical uni­tário» (idem, ibidem, pp. 154). As bar­ra­gens de po­pu­lares e mi­li­tares mon­tadas de Norte a Sul do País mos­traram que «o he­roísmo da van­guarda tinha-se tor­nado um fe­nó­meno de massas» (idem, ibidem, pp 155).

Afas­tado da pre­si­dência da Re­pú­blica, Spí­nola não de­siste de in­tentar contra Abril, agora «de fora do poder e contra ele». O 11 de Março de 1975 é um «golpe mi­litar tí­pico», «não apenas pre­pa­rado em termos mi­li­tares, mas, como os an­te­ri­ores, também no plano po­lí­tico e pro­pa­gan­dís­tico. Ga­nhando apoios e cum­pli­ci­dades nos par­tidos. De­sen­vol­vendo cam­pa­nhas e or­ga­ni­zando pro­vo­ca­ções a fim de criar a ideia de que o PCP es­tava a li­quidar as li­ber­dades, a pro­vocar o caos, a ins­talar uma di­ta­dura. Res­pon­dendo aos apelos para que sal­vasse o país. In­ten­si­fi­cando, pela acção de ban­queiros e ou­tros grandes ca­pi­ta­listas, a sa­bo­tagem eco­nó­mica e fi­nan­ceira» (idem, ibidem, pp 167-168). A ten­ta­tiva de ren­dição do Re­gi­mento de Ar­ti­lharia 1, tido como um bas­tião da re­vo­lução, através do seu bom­bar­de­a­mento e cerco, é tra­vada pela re­sis­tência da uni­dade e por po­pu­lares que acor­reram ao local. A acção do PCP e do mo­vi­mento ope­rário po­pular é de­ci­sivo para a der­rota do golpe.

O ge­neral foge para Ma­drid e é a partir daí que or­questra o ter­ro­rismo bom­bista do «Verão Quente de 1975», lan­çado contra o PCP en­quanto o PS/​Mário So­ares se torna «o cam­peão da de­ses­ta­bi­li­zação, do an­ti­co­mu­nismo e con­fronto» (idem, ibidem, pp. 202). PS/​Mário So­ares movem uma «guerra aberta contra o pri­meiro-mi­nistro Vasco Gon­çalves (idem, ibidem, pp 183-184), cujo go­verno aban­donam, com o PPD, em Julho de 1975. Vasco Gon­çalves ainda seria em­pos­sado para um novo Go­verno Pro­vi­sório, o V, a 8 de Agosto, um dia de­pois da di­vul­gação do do­cu­mento do «grupo dos nove», mas «com o pro­nun­ci­a­mento de Tancos, a 2 de Se­tembro, con­se­guem fi­nal­mente con­sumar o re­sul­tado: Vasco Gon­çalves exo­ne­rado de pri­meiro-mi­nistro e de efec­tivas res­pon­sa­bi­li­dades mi­li­tares» (pp 186).

Daí ao 25 de No­vembro correm se­manas de mais pro­vo­ca­ções e ca­lú­nias, às quais acresce que «uma si­tu­ação mi­litar fa­vo­rável à re­vo­lução era ir­re­cu­pe­rável» dadas as cli­va­gens e ino­pe­ra­ci­o­na­li­dade no seio da es­querda mi­litar, muito em re­sul­tado da acção de sec­tores es­quer­distas. «A contra-re­vo­lução avan­çava ra­pi­da­mente para impor, através de um novo golpe mi­litar, a ins­tau­ração de uma nova di­ta­dura e o de­sen­ca­de­a­mento de uma re­pressão vi­o­lenta do PCP, da es­querda mi­litar, do mo­vi­mento sin­dical e de ou­tras forças da re­vo­lução» (idem, ibidem, pp. 203). O PCP tem «como ob­jec­tivo cen­tral e fun­da­mental pro­curar e con­tri­buir para uma so­lução po­lí­tica da crise po­lí­tico-mi­litar» (idem, ibidem, pp. 206), o que viria a su­ceder, e, apesar do golpe, con­ser­vando a di­nâ­mica re­vo­lu­ci­o­nária e de re­sis­tência à ofen­siva contra Abril.

 



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