Pormaiores de classe

João Frazão

A en­tre­vista à Visão do di­rector-geral da Flad­gate Part­nership, a em­presa que detém as re­co­nhe­cidas marcas de Vinho do Porto, Tay­lors, Fon­seca, Croft e Krohn, é bas­tante re­ve­la­dora do pen­sa­mento e da es­tra­tégia das casas ex­por­ta­doras para aquela re­gião.

Ques­ti­o­nado sobre as grandes mu­danças no Douro, o em­pre­sário re­fere, em pri­meiro lugar, «as redes ro­do­viá­rias». Porque «pode-se viver no Porto e ter um pro­jecto lá» (no Douro).

Para ele, os que lá moram, que fazem o Douro e os seus so­calcos, que cons­troem e re­cons­troem os muros que os se­guram, que trou­xeram aquele vale a Pa­tri­mónio da Hu­ma­ni­dade, os que ama­nham a vinha e do xisto fazem brotar o me­lhor vinho do mundo, serão dis­pen­sá­veis, assim es­teja ga­ran­tida a co­mo­di­dade dos que podem co­mandar os in­ves­ti­mentos das va­randas de Gaia ou do Porto, po­dendo ir, amiúde, ver as pai­sa­gens e crescer os ren­di­mentos, sem sujar de­ma­siado os sa­patos.

Sobre a li­be­ra­li­zação e o «fim do be­ne­fício» (sis­tema de re­gu­lação da pro­dução de vinho do Porto), é pe­remp­tório. «O be­ne­fício não serve», acres­cen­tando que «é ar­ti­fi­cial, dis­torce o mer­cado» (querem lá ver que há quem ainda não tenha en­ten­dido que o mer­cado é en­ti­dade san­ti­fi­cada e por­tanto in­to­cável?). Mas logo ex­plica o ponto de vista de classe que todas estas ques­tões contêm. É que, como ele re­co­nhece, esta opi­nião é di­fe­rente «se fa­lamos com pe­quenos la­vra­dores, ou se com aqueles que estão vo­ca­ci­o­nados para pro­duzir o me­lhor pos­sível», leia-se as casas ex­por­ta­doras e os grandes pro­pri­e­tá­rios.

Ponto de vista de classe, que se ma­ni­festa, uma vez mais na apre­ci­ação sobre a Casa do Douro, que diz ele, «tem sido uma nuvem negra». Mas avisa, que «agora, há que ver quem vai re­pre­sentar os la­vra­dores». Ou seja, é ne­ces­sário ga­rantir que a sua re­pre­sen­tação seja feita, não por eles pró­prios, como até aqui, no Con­selho Re­gi­onal da Casa do Douro, mas sim, pelos se­nhores que vivam no Porto, ou em Lisboa, ou em Lon­dres, mas que estão à dis­tância de uma au­to­es­trada – paga – ou de um clique, na In­ternet, para as­se­gurar a sua re­pre­sen­tação.

Até porque, como ele con­clui, «estou mais pre­o­cu­pado em pro­teger as mi­nhas (as dele, claro!) marcas, do que pôr lá a de­sig­nação Vinho do Porto».

Assim se desfaz qual­quer equí­voco dos seus in­te­resses. De classe!




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