Vale sempre a pena lutar

Manuel Rodrigues

Pro­cu­rando des­mo­bi­lizar os tra­ba­lha­dores e as po­pu­la­ções da luta que travam pelos seus di­reitos e contra a ex­plo­ração e as in­jus­tiças, é grande a vo­ze­aria da ide­o­logia do­mi­nante a pro­clamar que não vale a pena, que isto sempre assim foi e sempre assim há-de ser. Grito de de­sâ­nimo que B. Brecht imor­ta­lizou no verso do seu poema Elogio da Di­a­léc­tica: «Aquilo que nós que­remos nunca mais o al­can­ça­remos».

Vem isto a pro­pó­sito da con­ti­nuada acção da po­lí­tica de di­reita que, em 38 anos, vem ata­cando e des­truindo di­reitos e con­quistas da Re­vo­lução de Abril e da cam­panha ide­o­ló­gica em que se apoia, pro­cu­rando des­va­lo­rizar o papel da luta («luta-se, luta-se e não se con­segue nada») tendo em mira a re­sig­nação e o con­for­mismo.

Cam­panha ide­o­ló­gica de que a luta dos tra­ba­lha­dores e do povo é um ver­da­deiro des­men­tido. Foi pela luta dos tra­ba­lha­dores e do povo que se re­sistiu a esta ofen­siva, que se fez fra­cassar muitos ata­ques, que se le­vantou muitos obs­tá­culos a esta po­lí­tica, que se ob­teve im­por­tantes vi­tó­rias; que se criou me­lhores con­di­ções para a rup­tura e a mu­dança.

Foi pela luta que se con­se­guiu manter o ho­rário das 35 horas na Ad­mi­nis­tração Local, que se con­se­guiu au­mentos sa­la­riais em muitas em­presas e sec­tores, com des­taque para o, ainda que es­casso, au­mento do SMN, a de­fesa da con­tra­tação co­lec­tiva, a ex­tinção da CES aos re­for­mados e pen­si­o­nistas, a de­vo­lução de 20 por cento do roubo nos sa­lá­rios da Ad­mi­nis­tração Pú­blica, a de­vo­lução dos sub­sí­dios de fé­rias e de Natal, a re­po­sição do corte de 50% no valor do tra­balho ex­tra­or­di­nário e em fe­ri­ados e fins-de-se­mana, a de­fesa de postos de tra­balho e a vin­cu­lação de muitos tra­ba­lha­dores, a de­fesa de di­versos ser­viços pú­blicos. Para re­ferir apenas al­guns exem­plos mais re­centes.

Afinal, con­tra­ri­ando a ide­o­logia do­mi­nante, o que a vida nos mostra é que vale sempre a pena lutar.

É também esse o sen­tido dos versos do mesmo poema de B. Brecht:

«Quem ainda está vivo nunca diga: nunca. / O que é se­guro não é se­guro. / As coisas não con­ti­nu­arão a ser como são. / De­pois de fa­larem os do­mi­nantes / Fa­larão os do­mi­nados. […]»




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