Páscoa em greve
Na Carristur, nos CTT, na Servirail e em hotéis do Algarve, os trabalhadores passaram a Páscoa em luta, com greves e acções de rua, para exigirem aumentos salariais e mais justiça na distribuição da riqueza criada.
Mesmo com lucros muito elevados, as empresas insistem em agravar a exploração
Em Cabo Ruivo, no arranque da greve dos CTT, o Secretário-geral da CGTP-IN, Arménio Carlos esteve com o piquete . Foto LUSA
No dia 24, quinta-feira, os trabalhadores da Servirail, empresa do Grupo Newrest que assegura serviços de bar e restaurante em comboios, sob a marca Latitudes, fizeram greve praticamente a cem por cento (apenas não aderiu uma trabalhadora, como referiu o Sindicato da Hotelaria do Norte) e reuniram-se nas estações de Campanhã, no Porto, e de Santa Apolónia, em Lisboa. Foi confirmada a realização de outro dia de greve, na segunda-feira, 28, que veio a ter um nível de adesão idêntico, como já tinha sucedido no dia 4.
A par de aumento dos salários, a luta tem por objectivos reivindicar o pagamento de subsídios em atraso e do subsídio de refeição retirado, respeito pelos horários de trabalho, incluindo o regime de folgas no armazém, a publicação do Acordo de Empresa em vigor e, em geral, respeito pelos direitos – como foi referido nas informações da Fesaht/CGTP-IN e dos sindicatos.
Com o sector de hotelaria e turismo a bater recordes sucessivos nos seus resultados anuais desde 2012, os trabalhadores das unidades hoteleiras e campos de golfe do Grupo JJW no Algarve fizeram greve no dia 25, Sexta-feira Santa, assim destacando o seu protesto contra o roubo patronal no pagamento do trabalho suplementar e em dias feriados.
Durante uma concentração, ao final da manhã, em Vale do Lobo, frente ao Hotel Dona Filipa, foi aprovada e entregue à direcção da filial portuguesa da multinacional uma moção, afirmando que os trabalhadores perderam 12 por cento do poder de compra, só nos últimos quatro anos de governo PSD/CDS, enquanto os seus salários não são aumentados há cerca de dez anos. Na ocasião, o coordenador do Sindicato da Hotelaria do Algarve disse à agência Lusa que a negação de actualização salarial é generalizada neste sector e provoca descontentamento em toda a região.
No dia 24, trabalhadores do Crowne Plaza, em Vilamoura, distribuíram aos clientes um comunicado a denunciar a falta de aumentos salariais há oito anos e a recusa patronal a pagar o trabalho suplementar prestado em anos anteriores.
Também por aumentos de salários, de forma a repor o poder de compra, e pela negociação do contrato colectivo sem perda de direitos, tinha decorrido já no dia 21, frente à sede da associação patronal APHORT, no Porto, uma concentração com mais de uma centena de dirigentes e delegados sindicais da hotelaria, restauração, bebidas e similares. Foi aí manifestado apoio a uma jornada nacional de luta neste sector, que terá lugar no dia 5 de Abril.
Privado...
e público
Teve «níveis de adesão fortíssimos, superiores a 90 por cento», a greve na Carristur, nos dias 25, 26 e 27, como referem a Fectrans/CGTP-IN e o Sindicato dos Trabalhadores dos Transportes Rodoviários e Urbanos de Portugal, num comunicado de terça-feira, 29. A luta, pelo pagamento de salários de acordo com o contrato colectivo do sector privado, assinado com a Antrop, inclui ainda a realização de paralisações parciais no dia 24 e entre 28 de Março e 1 de Abril. Foi decidido efectuar ontem uma concentração junto do Ministério do Trabalho, para exigir a intervenção do Governo na resolução deste conflito.
Ao ministro do Ambiente foi dirigida, dia 24, uma pergunta do deputado comunista Bruno Dias, reclamando medidas para impedir as ilegalidades da administração. Há anos que a Carristur optou por aplicar o contrato do sector privado, cujas tabelas salariais não eram revistas desde 1997; o contrato foi negociado no final de 2015, com melhorias, e a Carristur pagou pelos novos valores em Janeiro. No mês seguinte voltou a aplicar os valores antigos, alegando que tal resulta de ser uma empresa pública.
Além desta estratégia de contenção dos salários, na pergunta foi também reflectida a denúncia sindical de violação da lei da greve, porque motoristas da Carris foram chamados para substituir grevistas.
Após a concentração de dia 24 e o plenário de dia 25, na Praça da Figueira, os trabalhadores desfilaram na baixa lisboeta, distribuindo comunicados em quatro línguas sobre a luta.
Na STCP, os dias 25 e 27 foram abrangidos por uma greve contra o corte de 50 por cento da remuneração das horas trabalhadas em feriados.
Prémio é o outro
Com a Páscoa perturbada pelas manobras e pressões «informais» para os dissuadir da opção de luta, os trabalhadores das empresas do Grupo CTT entraram em greve às zero horas de segunda-feira, dia 28, com uma adesão superior a 75 por cento. A luta foi convocada pelo sindicato com maior representatividade e o único que recusou a proposta final da administração, no dia 23. Para o Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações, tal proposta foi «ofensiva», com «aumentos de miséria» (entre 33 e 47 cêntimos por dia, resultado de um aumento mínimo de dez euros e 1,3 por cento, 0,9 e 0,7 conforme os níveis salariais), depois de seis anos sem actualização da tabela salarial, enquanto os CTT acumulam lucros de várias dezenas de milhões de euros.
O SNTCT, da Fectrans/CGTP-IN, condenou também a intenção da administração de reservar verbas para prémios, exigindo que elas fossem aplicadas nos salários-base, e lembrando que um prémio de mais de 900 mil euros foi pago ao presidente da administração.
Frente ao Hotel Dona Filipa concentraram-se trabalhadores do Grupo JJW
Na estação de Santa Apolónia, os trabalhadores da Servirail receberam a solidariedade de Rita Rato, deputada do PCP
Na estação de Campanhã manifestaram-se trabalhadores da Servirail em greve
Na Praça da Figueira reuniram-se durante a greve trabalhadores da Carristur