A arte de mal titular e outros truques

Uma mentira não passa a ser verdade se vier escrita num jornal, nem mesmo quando faz manchete de um jornal dito de referência. Foi isso que um semanário fez na sua última edição, ao dar destaque de primeira página a «BE e PCP viabilizam injecção de dinheiro no Novo Banco», uma informação que faz estranhar, dadas as posições públicas assumidas. Mas o título interior e as primeiras linhas da notícia (que afinal não o era) pareciam confirmar: «Nem no Orçamento PCP e BE beliscam venda.»

No entanto, à medida que se ia lendo a prosa, alguma coisa parecia não bater certo. Nem Miguel Tiago, ouvido pelo jornal, nem o BE (sabe-se lá através de que porta-voz, já que ninguém é citado), afirmam qualquer disponibilidade para «viabilizar» ou «não beliscar» a venda do Novo Banco ao fundo abutre Lone Star. A conclusão foi tirada depois de ouvir o deputado dizer, claramente, que a opção do PCP é a nacionalização e a integração do Novo Banco na esfera pública, e de ter sido já anunciado publicamente a apresentação de um projecto de resolução na Assembleia da República que vai nesse sentido.

A somar a isto, a tese é sustentada na hipótese de, a ser confirmado o negócio (que ainda não o foi), poderem vir a ser necessários empréstimos do Estado ao Fundo de Resolução para cobrir perdas do banco, o que (a acontecer) pode só se concretizar em 2019, 2020, 2021. São demasiados «ses» para uma manchete tão afirmativa.

Mas nada disto é novidade nesse semanário. Na mesma edição, tratam a agressão norte-americana a um país soberano, a Síria, como uma «punição por crimes de guerra», repetindo a cartilha que atribuiu às Forças Armadas sírias um suposto ataque químico na província de Idlib. O problema é que, tal como na machete falsa, ninguém com o mínimo apego à verdade pode afirmá-lo: antes de qualquer investigação, os mísseis norte-americanos já choviam sobre a base aérea e a aldeia de Shayrat.

A última edição desse jornal foi para as bancas no mesmo dia em que o PCP realizou o Encontro Nacional sobre as eleições autárquicas, monumentalmente ignorado por grande parte dos órgãos de comunicação social. À excepção da RTP, esteve ausente dos noticiários das 20 horas dos canais generalistas e para a emissão da SIC em canal aberto nem existiu. Curiosamente ou não, a TVI (depois de não dar notícia da realização comunista no jornal das 20 horas do próprio dia) integrou uma curta passagem da intervenção do Secretário-geral numa peça sobre… o Novo Banco.

Da mesma forma, à excepção da peça que o Público fez sobre o encontro, as únicas referências à realização do PCP nos jornais do dia seguinte surgiram no Correio da Manhã e no Jornal de Notícias, em pequenas caixas sobre… o Novo Banco.

Eis um exemplo de como se conduz a agenda mediática à vontade de uma imprensa posta ao serviço de interesses obscuros, que mente e amplifica a mentira, violando as obrigações a que está sujeita pela lei e pela Constituição da República Portuguesa.

 



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