«Luta física na rua»

Filipe Diniz

Um dos aspectos curiosos na conduta dos comentadores de direita é os dois pesos e duas medidas com que tratam Passos Coelho e Barreiras Duarte. No caso do primeiro a contestação à sua contratação no ISCSP como catedrático convidado é veementemente refutada: o que está em causa não é o currículo ou as competências, são os seus maravilhosos anos de primeiro-ministro, são os portugueses que em 2015 nele votaram. Falta dizer que foram muitos mais os portugueses que votaram para o pôr a andar.

Quanto a Barreiras Duarte, não há rabo-de-palha que não lhe exponham. São escritas extensas crónicas a gozar com ele: com os truques de merceeiro para receber mais algum, com as fantasias e aldrabices do seu currículo, com o seu tosco estilo de escrita, com as patacoadas da sua tese de mestrado.

O contraste salta à vista. Mas atenção, comentadores de direita. É este caso único? Quantas vezes vimos já nos partidos da política de direita exemplos idênticos? Foram todos tratados do mesmo modo? O homem acabou por se demitir. Mas que isso não sirva para varrer por baixo dele tantos outros casos idênticos que foram passando entre os pingos da chuva, e que não admirará que voltem a surgir.

Pode ser que exista aqui um ajuste de contas a prazo talvez com a única coisa de jeito que fez na vida: a luta há 20 anos contra as portagens da A8 no troço do Bombarral. Uma luta popular, imagine-se. Eis como descreve a situação: «atrasei o estágio, nas reuniões do PSD olhavam-me de lado. Ainda nunca tinha contado isto: no primeiro Governo de que fiz parte [de Durão Barroso], era para ir para secretário de Estado da Administração Interna, mas acharam que não podia ir porque tinha organizado uma luta física na rua».

De facto «uma luta física na rua» é imperdoável.

 



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