Este país também é para jovens!

João Frazão (Membro da Comissão Política)

Es­tamos a poucos dias da Ma­ni­fes­tação Na­ci­onal de Jo­vens Tra­ba­lha­dores, pro­mo­vida pela In­ter­jovem/​CGTP-In. Também os es­tu­dantes as­si­nalam o 24 de Março, Dia do Es­tu­dante, em de­fesa da es­cola pú­blica, mas este ar­tigo as­sume-se como um apelo ao en­vol­vi­mento de todos na mo­bi­li­zação para o 28 de Março.

Para onde vai o re­sul­tado do de­sen­vol­vi­mento da ci­ência e da téc­nica?

Jus­ti­fica-se ple­na­mente uma grande jor­nada dos jo­vens tra­ba­lha­dores contra a pre­ca­ri­e­dade. A pre­ca­ri­e­dade, é certo, não atinge apenas os jo­vens, sendo hoje regra nos novos con­tratos de tra­balho, numa gi­gan­tesca ope­ração de agra­va­mento da ex­plo­ração, subs­ti­tuindo tra­ba­lha­dores com di­reitos ad­qui­ridos, de­sig­na­da­mente na con­tra­tação co­lec­tiva, por ou­tros sem vín­culos, com me­nores sa­lá­rios e quase sem di­reitos.

Mas é também certo que apenas uma ín­fima parte da­queles não entra no mundo do tra­balho pela porta da ins­ta­bi­li­dade e da in­cer­teza. Con­tratos a prazo, à peça, ao dia, a re­cibos verdes, por em­presas de alu­guer de mão-de-obra, es­tá­gios, dias à ex­pe­ri­ência, há de tudo.

Fazer do 28 de Março um marco no com­bate na­ci­onal contra a pre­ca­ri­e­dade é dar um con­tri­buto ao de­sen­vol­vi­mento e ao fu­turo. Não é sen­sato, não é ló­gico, que a ge­ração que agora co­meça a tra­ba­lhar o faça com menos di­reitos do que a an­te­rior. Para onde vai o re­sul­tado do de­sen­vol­vi­mento da ci­ência e da téc­nica? A quem serve o gi­gan­tesco salto na pro­du­ti­vi­dade nas úl­timas dé­cadas?

En­tre­tanto, novos sec­tores juntam-se à luta. Apenas como exemplo, re­firo os tra­ba­lha­dores dos cen­tros de con­tacto, que têm dado um belo exemplo na luta pela es­ta­bi­li­dade dos vín­culos, por me­lhores sa­lá­rios e por con­di­ções de tra­balho menos pe­nosas. Note-se que fa­lamos de recém-li­cen­ci­ados, que falam lín­guas para atender cli­entes es­tran­geiros, que têm de do­minar as tec­no­lo­gias e que tanto tratam de se­guros, de co­mu­ni­ca­ções ou de re­cla­ma­ções de elec­tro­do­més­ticos.

Ou os tra­ba­lha­dores da lo­gís­tica das grandes ca­deias de dis­tri­buição, que fazem girar as ro­ta­tivas que pro­duzem os rios de di­nheiro dos lu­cros dos ac­ci­o­nistas, que se re­cusam a ga­rantir-lhes um con­trato co­lec­tivo de tra­balho onde re­sultem claros os seus di­reitos, pois os de­veres, esses, andam sempre à frente.

A sua par­ti­ci­pação des­mente a velha tese, ali­men­tada pelo ca­pital e pelo seu sé­quito de ser­ven­tuá­rios, de que a luta caiu em de­suso, que não faz sen­tido, num mundo de novas opor­tu­ni­dades ao virar de cada es­quina.

Re­do­bradas ra­zões de luta

O Dia Na­ci­onal da Ju­ven­tude, co­me­mo­rado em Por­tugal a 28 de Março – na data em que, há 71 anos, em Bela Mandil, um acam­pa­mento pro­mo­vido pelo MUD-Ju­venil foi abal­roado pela PIDE, que não su­por­tava a par­ti­ci­pação e or­ga­ni­zação ju­venil pelo que ela re­pre­sen­tava de pers­pec­tiva de luta contra o fas­cismo –, en­contra hoje re­do­bradas ra­zões para ser as­si­na­lado.

A in­ter­rupção de um rumo de de­sastre que fazia gáudio de ex­pulsar os jo­vens do País, obri­gando-os a ir pro­curar uma vida me­lhor no es­tran­geiro, e os avanços con­se­guidos pela luta dos tra­ba­lha­dores e do povo e pela in­ter­venção do PCP, de­sig­na­da­mente ao nível da de­vo­lução e au­mento de ren­di­mentos, são de va­lo­rizar mas não nos des­cansam.

Desde logo porque a ati­tude do PS e do seu Go­verno em ma­téria de le­gis­lação la­boral é re­ve­la­dora das amarras que têm e dos in­te­resses que servem. Bas­taria ver a po­sição, esta se­mana, na AR, no de­bate pro­mo­vido pelo PCP sobre a ca­du­ci­dade da con­tra­tação co­lec­tiva, o prin­cípio do tra­ta­mento mais fa­vo­rável ao tra­ba­lhador e a re­gu­lação dos ho­rá­rios de tra­balho, em que se aliou ao PSD e ao CDS em mais um frete ao pa­tro­nato, para per­ceber que a luta dos que pro­duzem a ri­queza tem de con­ti­nuar.

 



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